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Estado de Minas

Ministra relata tortura

Eleonora Menicucci contou ao Conselho de Direitos Humanos de Minas que sofreu em 1971, num quartel de Juiz de Fora, castigos semelhantes aos aplicados à amiga Dilma Rousseff


postado em 25/06/2012 06:56 / atualizado em 25/06/2012 07:26

A presidente Dilma Rousseff não é a única integrante do atual governo que prestou depoimento ao Conselho de Direitos Humanos de Minas Gerais (Conedh-MG) relatando as torturas que sofreu no período da ditadura. Nos arquivos localizados no Edifício Maletta, Centro de Belo Horizonte, também está guardado o processo da ministra Eleonora Menicucci, hoje com 68 anos, nomeada em fevereiro para a Secretaria de Políticas para as Mulheres. Embora sem a mesma riqueza de detalhes contados por Dilma em 2001, o documento referente à ministra reforça o horror vivido pelos militantes de esquerda em Minas durante os anos de chumbo. Eleonora conta que sofreu choques elétricos e socos, além de ameaças psicológicas envolvendo a filha de pouco mais de um ano e o marido.

O depoimento de Eleonora, que o Estado de Minas revela com exclusividade, não foi feito pessoalmente. Em 7 de maio de 2001, ela escreveu as suas agruras ao Conselho para reivindicar o direito à indenização de R$ 30 mil oferecida pelo governo de Minas aos que foram torturados no estado. No texto, ela relata dois momentos de terror vividos em novembro de 1971 no quartel militar de Juiz de Fora, para onde foi levada presa depois de viajar “brutalmente algemada” num camburão desde o Presídio Tiradentes, em São Paulo. Numa noite, ela foi retirada da cela. “Fui torturada no próprio quartel com choques elétricos, tapas, socos e muita ameaça psicológica que não voltaria viva para São Paulo, que voltaria separada de Ricardo (Prata Soares, seu marido), que eles me matariam durante a viagem e depois diriam que foi um acidente, que prenderiam novamente a minha filha”.

Em outro momento, Eleonora, que disse no texto não lembrar o nome dos torturadores, conta que pediu ao carcereiro uma revista para ler e que recebeu como resposta o catálogo telefônico de Belo Horizonte. O carcereiro então lhe disse: “Se quiser ler, leia isto que lhe fará muito bem, é divertido, é uma leitura leve e vocês terroristas não necessitam mais que isso, sobretudo as mulheres que têm filhas como você”.

A filha de Eleonora, Maria de Oliveira Soares, é um capítulo à parte nesta história, documentado no curta 15 filhos, disponível para download gratuito no YouTube. Publicitária e produtora que hoje mora em Nova York, ela viveu com a avó até os 3 anos. Só então se reencontrou com a mãe, que era socióloga e militava com o marido no Partido Operário Comunista (POC). Nessa e nas prisões seguintes de Eleonora, os militares ameaçavam voltar a capturar sua filha e também matar o marido dela, tentando arrancar confissões nos interrogatórios.

No filme 15 filhos é contado o drama da ditadura do ponto de vista dos filhos de militantes políticos que foram presos e torturados. Além de Maria, filha da ministra, assina a produção do filme a cineasta Marta Nhering, de 48. Aos 6 anos, ela perdeu o pai, Norberto Nhering, morto pelas forças da repressão em São Paulo, em 1960. “De início, a ideia era fazer um filme sobre a época da ditadura, mas ao começar a filmar os depoimentos dos sobreviventes começamos a ver que nós, filhos de militantes políticos, contávamos uma história parecida de dor, que havia sido sufocada pela censura”, explica.

Sem perdão A ministra Eleonora Menicucci foi ouvida ontem à noite pelo Estado de Minas, voltando da Rio +20, no Rio de Janeiro, onde se encontrou com a presidente Dilma Rousseff, mas não teve chance de conversar com a antiga companheira de militância em BH sobre a série de reportagens a respeito das torturas sofridas em Minas – que disse estar acompanhando. Por telefone, a ministra fez questão de ressaltar a importância do esclarecimento dos fatos pela Comissão da Verdade, para impedir que se repitam episódios de tortura: “A Comissão da Verdade será fundamental para recuperar a memória histórica da época da ditadura. O esclarecimento do que ocorreu naquele período servirá para evitar que se repitam as torturas vivenciadas por milhares de jovens brasileiros e também as que ainda existem hoje.”

Eleonora não se pronunciou quanto a nome de torturadores e manteve o mesmo tom do que havia dito anteriormente a presidente: “Não tenho ódio nem magoa, é um sentimento de não perdão, de superação. Sou uma pessoa que superei”, disse.


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