O uso de canabinoides, substâncias presentes na maconha, em diferentes tipos de tratamento foi tema da nona edição do USP Talks, nesta quarta-feira, 29, na Livraria Cultural do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista. Durante o evento, também foram debatidos os efeitos danosos da maconha no organismo de quem fuma e a legalização no Brasil.
Diante do auditório lotado, principalmente por jovens, Crippa defendeu que as pesquisas são importantes para comprovar a eficácia, efeitos colaterais e dosagem correta da substância. "O debate permite que as pessoas possam ter a própria opinião. Estamos fazendo vários estudos clínicos em Ribeirão Preto. Vamos iniciar um com 126 crianças com epilepsia. Tem pesquisa do uso de canabidiol na prevenção de estresse pós-traumático em mulheres vítimas de abuso sexual. Também estamos planejando ensaios clínicos para tratar pacientes com autismo e epilepsia. Colaborar para que o canabidiol chegue em breve às farmácias", destacou Crippa. Ele salienta que os esclarecimentos deixam mais ricos os debates sobre a legalização.
Ao enfatizar o posicionamento contra a legalização e a descriminalização da maconha, o professor do Departamento de Psiquiatria e coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Ronaldo Laranjeira, explicou que é preciso diferenciar o uso terapêutico do canabidiol do consumo in natura da maconha. "As pessoas que fumam a maconha, fumam mais de 400 substâncias, além do canabidiol e THC. O consumo crônico da maconha principalmente na adolescência traz sérios riscos à saúde mental, como perda de memória e dificuldade de aprendizagem. A maconha não afeta somente o indivíduo, mas a família toda", alertou Laranjeiras.
O debate entre especialistas despertou também uma discussão entre a plateia. A bióloga Camila Conceição, de 23 anos, defende debates que ajudam a esclarecer assuntos importantes à sociedade. "É interessante para a minha formação profissional. Eu sou a favor do uso terapêutico e do uso recreativo da maconha. Outros países fazem uso recreativo e não há prejuízos à sociedade", defendeu. Mesma opinião é compartilhada pelo estudante Nicolas Chave da Cunha, de 19 anos. "O assunto é polêmico e os debates são importantes. Eu sou a favor do uso terapêutico e do uso recreativo".
No fim de 2016, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) regulamentou a importação de remédios à base de canabidiol. No entanto, o uso da maconha in natura é proibido no Brasil.
O USP Talks é um evento da USP realizado em parceria com o jornal
O Estado de S. Paulo
e a Livraria Cultura na última quarta-feira de cada mês. Especialistas falam sobre temas que estão em discussão no noticiário durante encontro que também tem a participação da sociedade.