Com doação de R$ 350 milhões do cineasta João Moreira Salles e da linguista Branca Vianna Moreira Salles, Brasil ganha primeiro instituto privado de apoio à ciência. O Instituto Serrapilheira, com sede no Rio de Janeiro, vai apoiar e fomentar pesquisas nas áreas de ciências da vida, físicas, engenharias e matemática.
O nome foi inspirado na camada formada pelo acúmulo de folhas e matéria orgânica que cobre o solo das florestas. A Serrapilheira é a principal via de retorno de nutrientes ao solo. O instituto será comandado pelo geneticista francês Hugo Aguilaniu, do Laboratório de Genética do Envelhecimento da Escola Normal Superior de Lyon, na França.
À frente do Conselho Científico está o pesquisador brasileiro Edgar Dutra Zanotto, do Departamento de Engenharia de Materiais da Universidade Federal de São Carlos, em São Paulo. A previsão é de que o primeiro edital seja divulgado no segundo semestre deste ano. “A comunidade científica brasileira tem um porte razoável; são mais de 100 mil pesquisadores com PhD no país. Acho que teremos disputas acirradíssimas por esses recursos e penso que iremos atrair grandes cientistas”, diz Zanotto.
O Instituto Serrapilheira foi criado sob a forma de uma associação civil sem fins lucrativos e vai operar a partir de recursos de fundo patrimonial constituído por doação em caráter irrevogável de Branca e João Moreira Salles no valor de R$ 350 milhões. A aplicação financeira desse recurso viabilizará o funcionamento da instituição. “Se o instituto estiver sendo útil à ciência, nossa intenção é fazer novos aportes dentro de 4 ou 5 anos”, afirma João Moreira Salles.
Em 2014, Moreira Salles e Branca decidiram criar o instituto. “Partimos da impressão de que a ciência não faz parte da imaginação do brasileiro, não ocupa uma posição central na nossa cultura, como ocorre em outros países como China, Índia e Estados Unidos, sem falar na Europa”, explica João Moreira Salles. “Me juntei ao João porque tenho essa mesma percepção de que entre nós o valor simbólico da ciência é baixo”, diz Branca.
Os dois, nos últimos três anos, visitaram agências de fomento, fundações de apoio à ciência e organizações do terceiro setor, além de se reunir com pesquisadores brasileiros para entender quais eram as necessidades do setor e como uma instituição privada poderia operar para melhor atender a comunidade científica.