Já são no Brasil 73.872 notificações da doença. Em Minas, com 46.589 casos prováveis (entre confirmados e suspeitos), há 104 cidades com sinais de epidemia da enfermidade, com registro de três mortes já este ano. Na capital mineira, onde há 2,3 mil casos e duas mortes causadas pela dengue, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, ao lado do prefeito Marcio Lacerda, visitou o posto de saúde São José Operário, no Bairro Nova Vista, onde já são 183 casos notificados este ano, sendo 27 confirmados para a dengue. Na Região Leste, até ontem, havia 375 confirmações.
O ministro chegou por volta das 9h. E, antes disso, funcionários da prefeitura pintaram os muros da unidade de saúde e, às pressas, fizeram podas na área verde do posto. Barbosa garantiu que, mesmo em tempos de cortes orçamentários, não faltarão recursos para o combate ao mosquito. “Vamos cortar em outras coisas e vamos preservar os recursos para combater essas doenças.”
Desmoralização
O infectologista Carlos Starling considera esse tipo de ação ruim para o Exército. “É uma corporação extremamente importante, mas corre o risco de ficar desmoralizada pelo mosquito”, comenta o infectologista Carlos Starling. Ele diz que a presença de ministro e militares nas ruas é como tampar o sol com a peneira. “São necessários recursos adequados para o sistema de saúde e estruturá-lo. Coisa que eles não fizeram antes e tentam, agora, em uma atitude desesperada, mostrar que estão fazendo alguma coisa. Vivemos uma epidemia da maior seriedade há vários anos”, ressalta.
Segundo o infectologista Antônio Carlos Toledo, pontualmente, as panfletagens podem gerar um pequeno efeito no número de casos esperados, mas “o problema da dengue não é informação”. Para Toledo, há mais de 10 anos que as pessoas estão informadas sobre os cuidados com a doença. “Isso adiantou alguma coisa?”, questiona. “A vacina é um grande avanço, temos tecnologia. Ações, como o controle biológico podem ajudar nesse combate.”
Em dezembro, foi decretado estado de emergência na capital mineira para o Aedes. “Criamos uma coordenação chefiada pela Defesa Civil, com 4 mil pessoas mobilizadas, visitamos quase 100 mil domicílios”, comentou o prefeito Marcio Lacerda. Ele ressaltou que não tem havido dificuldades em relação ao atendimento nas unidades públicas de saúde, nem de medicamentos para os pacientes.
SEM CORTES Aliviada com a garantia de que não haverá cortes no orçamento para o combate à dengue, a secretária-adjunta da Secretária de Estado de Saúde (SES), Alzira de Oliveira, conta que, em Minas, estão previstos gastos de R$ 82 milhões para a guerra contra o Aedes aegypti. O valor é 24% maior do que o usado nos dois últimos anos, quando foram gastos R$ 66 milhões. O estado pretende, até o final deste mês, visitar 100% das residências mineiras.
Dilma fala em descaso histórico
A presidente Dilma Rousseff, 28 ministros, prefeitos e governadores, além de 220 mil homens das forças armadas, participaram ontem do mutirão de combate ao Aedes aegypti em capitais e cidades do país. No Rio, sede dos Jogos Olímpicos, Dilma afirmou que o Brasil está “correndo atrás de décadas de abandono da questão do saneamento”.
Segundo ela, seu governo conseguiu mudar o patamar de investimento na área, mas ainda há muito trabalho a ser feito. “Nos últimos tempos, fizemos mais saneamento do que na história deste país”, disse.
Dilma ainda lembrou que é preciso uma mobilização da população e garantiu que o governo vem fazendo sua parte. “Temos esse grande desafio, temos de nos mobilizar para que o combate (ao mosquito) seja vitorioso. Em média, no Brasil, dois terços dos criadouros estão dentro das residências.”
A presidente afirmou que haverá uma ação dirigida para o Rio de Janeiro no combate ao mosquito Aedes aegypti devido aos Jogos Olímpicos que serão realizados na cidade, em agosto.
EXPLICAÇÕES No dia de mobilização em São Paulo, militares distribuíram panfletos para a população e deram uma breve explicação sobre dengue e o zika vírus. A bióloga Débora Cardoso de Oliveira tomava café da manhã em uma lanchonete quando recebeu panfletos e explicações dos militares da três forças. “Tem de ter um trabalho em conjunto entre a população e o governo para combater o mosquito, porque a situação é preocupante mesmo”, disse. Segundo o coronel do Exército Giovani Marcelo Puppio, as pessoas ainda estão desinformadas. “Visitamos uma casa onde a proprietária teve dengue duas vezes e encontramos 34 focos do mosquito”, contou. A partir de amanhã, os militares vão acompanhar agentes de saúde na visita às casas.
Em Salvador, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, disse esperar contar com o apoio da sociedade civil. “Um mosquito não pode ser mais forte que o país”, afirmou.
PARCERIAS O ministro de Minas e Energia (MME), Eduardo Braga, afirmou que o setor elétrico está engajado no combate ao Aedes aegypti. Ele citou uma parceria feita com a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) para que os leituristas de contas de luz das distribuidoras – que visitam mensalmente todos os domicílios do país – sejam treinados e ajudem a identificar possíveis focos de proliferação do mosquito.
“A ação dos técnicos começou há duas semanas. Estamos com aproximadamente 40% ou 50% das distribuidoras participando, e esperamos que em mais três semanas todas as distribuidoras estejam atuando nesse sentido”, disse Braga, que esteve presente nas atividades do Dia Nacional de Mobilização Contra o Aedes aegypti na manhã de ontem em Porto Alegre.
O secretário-executivo adjunto do MME, Edvaldo Risso, revelou que uma parceria semelhante foi feita com a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás). A lógica é a mesma: os técnicos de rua vão mapear possíveis focos de proliferação do mosquito para informar às autoridades competentes. “No caso da Abegás, a atuação das empresas ainda é incipiente, mas está em processo de aceleração”, disse Risso, que coordena as ações contra o Aedes no MME.