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Estado de Minas

Troca de luminárias do Viaduto do Chá é criticada por especialistas


postado em 27/04/2015 08:31

São Paulo, 27 - Nas ruas do centro, não são só para iluminar que servem os postes. Muitos deles - 1.524, para ser preciso - são resquícios da São Paulo da primeira metade do século 20. O Departamento de Iluminação Pública (Ilume) os chama de "unidades ornamentais". A substituição dos globos de 45 deles no Viaduto do Chá, em agosto do ano passado, entretanto, passou a incomodar aqueles que lutam pela preservação histórica.

"Os novos são transparentes, menores, mais baixos e com outro desenho", resume o arquiteto e urbanista Ayrton Camargo e Silva, colaborador da Associação Preserva São Paulo e professor da Faculdade de Arquitetura da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas.

"Ao contrário do globo original, o coroamento deste não é piramidal, mas achatadinho", completa ele. "Se a ideia era modernizar, trocar o vapor metálico pelo LED, por que não manter o desenho original? Isso é um desprezo com a paisagem e com a memória de São Paulo."

Questionado, o Ilume confirmou que a substituição fora necessária por causa da instalação das lâmpadas de LED. Na primeira nota enviada pela assessoria de imprensa, o órgão relatou que "a substituição foi necessária porque os antigos globos eram leitosos, o que impediria a luminosidade proporcionada pelas lâmpadas". Ainda ressaltou que "foram mantidas todas as características dos globos antigos".

Quando o jornal

O Estado de S. Paulo

insistiu que os formatos eram diferentes, o Ilume enviou nova resposta, admitindo que os novos globos são "ligeiramente menores que os anteriores". O órgão frisou que tudo foi feito em "concordância com o Departamento do Patrimônio Histórico (DPH)".

A Secretaria Municipal de Cultural, responsável pelo DPH, confirma. "Apesar de não haver uma resolução sobre tombamento dos postes denominados São Paulo Antiga, a Ilume sempre consulta o DPH", informou. "Há consenso entre os órgãos que os postes fazem parte do centro da cidade."

Histórico

"Essa discussão é muito importante, porque a área central de São Paulo foi tratada de maneira especial em relação ao restante da cidade desde os anos 1920, quando a Light (The São Paulo Tramway, Light and Power Company Ltda) era a concessionária responsável pelo serviço", pontua Silva. "Toda a área central teve a fiação enterrada e, em comum acordo com a Prefeitura, a empresa definiu o padrão da luminária, com as colunas ornamentais."

O arquiteto calcula que, no total, tenham sido cerca de 2 mil os postes do tipo instalados - muitos acabaram removidos por causa de obras nas vias e instalações de estações de Metrô.

Esta não é a primeira descaracterização das luminárias. "Nos anos 1990, começaram a substituir as de vidro por plástico. Pelo menos, naquela ocasião, respeitaram o desenho. O argumento, à época, era de que o vidro não suportava a trepidação do viário, por conta dos veículos do centro, essas coisas", diz Silva. Ele conta que em 2013 enviou uma carta para o Ilume, mas não teve resposta.

Avaliação

A reportagem pediu para que o arquiteto Rafael Leão, presidente da Associação Brasileira de Arquitetos de Iluminação (Asbai), analisasse as novas luminárias do Viaduto do Chá. Ele é mestre pela Universidade de São Paulo (USP) com uma dissertação sobre iluminação no centro histórico.

"Eles substituíram o globo leitoso pelo prismático, ou seja, translúcido", diz. "Trata-se de um modelo mais recente, moderno. Só que o conjunto óptico que eles instalaram é ruim: causa ofuscamento, 'ruído' na visão. Ou seja: caminhar no Viaduto do Chá hoje é menos confortável do que antes."

O especialista ressalta que a sensação de segurança é outro problema. "Não adianta aumentar a quantidade de luz se você compromete todo o resultado com um conjunto mal resolvido. É preciso uma emissão mais controlada de luz", explica. "Da maneira como está, há um brilho muito grande no campo visual dos pedestres. É como um carro dando luz alta no sentido contrário - não se enxerga o entorno, porque as pupilas se contraem. Assim, quem anda por ali à noite tem mais dificuldade para reconhecer o rosto das pessoas", completa. (Colaborou Adriana Ferraz)

As informações são do jornal

O Estado de S. Paulo.


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