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Estado de Minas

Emissões de carbono voltam a crescer no Brasil

Em 2013, o lançamento de gases que provocam o efeito estufa aumentou 7,8%. É a primeira vez que isso ocorre em seis anos. O avanço do desmatamento puxou a inversão


postado em 23/11/2014 06:00

A destruição da floresta amazônica subiu 29% de agosto de 2012 a julho de 2013: efeito direto no aquecimento global(foto: Étore Medeiros/CB/D.A Press)
A destruição da floresta amazônica subiu 29% de agosto de 2012 a julho de 2013: efeito direto no aquecimento global (foto: Étore Medeiros/CB/D.A Press)

Às vésperas da 20ª conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas (COP-20), que tem início em 1º de dezembro, no Peru, um relatório elaborado por cientistas mostra que o Brasil aumentou as emissões de gases de efeito estufa. É a primeira vez que isso acontece desde 2008 e, para piorar o cenário, quem puxou esse crescimento foi o desmatamento, que voltou a subir — de agosto de 2012 a julho de 2013, o governo registrou uma alta de 29% na destruição da floresta amazônica. Comparado a 2012, a participação do país para o aquecimento global cresceu 7,8%.

“Em todas as COPs, a grande notícia do Brasil sempre foi a redução do desmatamento. Eu presenciei muitas vezes o país sendo aplaudido quando, em plenária, era anunciada mais uma queda. Agora, a gente reverte essa tendência”, lamenta Carlos Rittl, secretário executivo do Observatório do Clima, que divulgou ontem os resultados do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa Edição 2014 (SEEG 2014).

O observatório é uma rede de organizações não governamentais, e o relatório foi elaborado por cientistas do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), do Iclei (rede de líderes mundiais pela sustentabilidade) e do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema).

A tendência, de acordo com o Imazon, responsável pela análise do setor de uso do solo, é piorar em 2015. Segundo um levantamento da ONG, o desmatamento na Amazônia brasileira aumentou 467% em outubro em relação ao mesmo período do ano passado. A área destruída equivale a 24 mil campos de futebol. “Embora os dados não sejam oficiais, o SAD (Sistema de Alerta do Desmatamento) põe em dúvida a eficácia das atuais políticas de prevenção e controle ao desmatamento às vésperas de um evento internacional que tem como desafio obter compromissos entre os países para reduzir as emissões de gases de efeito estufa”, destacou a Imazon em nota de imprensa.

Energia O desmatamento não é, contudo, o único responsável pelo aumento nas emissões. O Observatório do Clima usa a mesma metodologia do IPCC, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU, para detectar a participação de diferentes setores na produção de gases de efeito estufa. Em todos eles houve variação (veja quadro nesta página). Depois do setor de mudança no uso da terra (desmatamento), energia lidera o ranking de crescimento de emissões: 7,3% em 2013, comparado ao ano anterior. O maior acionamento de usinas termelétricas alimentadas com combustíveis fósseis e o consumo de gasolina e diesel explicam o fenômeno.

“O que chama a atenção é esse crescimento do setor energético, mesmo com o país estagnado. O aumento em 2013 foi 1% e em 2014 está pior. Imagina se o Brasil estivesse crescendo 5%?”, observa o engenheiro florestal Tasso Azevedo, coordenador de Desenvolvimento do SEEG e um dos formuladores da Política Nacional de Mudanças Climáticas.

Para Carlos Rittl, falta inovação nos setores. “O Brasil, ensolarado que é, aproveita muito pouco a energia solar. No ano passado, esse tipo de energia criou 23 mil empregos nos Estados Unidos. Aqui, há muitos interessados em investir, mas faltam políticas para fomentar o desenvolvimento”, afirma. O mesmo acontece com a energia eólica. “Nos próximos anos, vamos aproveitar de 3% a 4% do potencial de 300 gigawatts”, afirma.

Divergências A divulgação dos resultados do SEEG, que podem ser consultados na página https://seeg.herokuapp.com/, ocorre uma semana após o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação lançar um relatório indicando redução de 41,1% nas emissões entre 2005 e 2012. Tasso Azevedo explica que as divergências entre os dois relatórios ocorreu por dois motivos. Primeiramente, os números do governo referem-se a 2012, quando o desmatamento ainda estava em queda. Os dados do SEEG já consideram 2013, ano em que houve crescimento da destruição da floresta.

Além disso, o MCTI e o Observatório do Clima usam metodologias distintas. O ministério trabalha com emissões líquidas — esse cálculo diminui do que se emitiu a quantidade de carbono equivalente estocada por florestas protegidas —, enquanto o SEEG considera somente o que, de fato, foi produzido em termos de gases de efeito estufa. Ambos os métodos são aceitos pelo IPCC para inventário de emissões.

O secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do MCTI, Carlos Nobre, destaca que, embora as metodologias sejam diferentes, em relação a 2012, as conclusões do ministério e do SEEG foram semelhantes. Ele lembra ainda que os dados oficiais de 2013 estão sendo analisados, com previsão de divulgação para o primeiro semestre de 2015. “Por isso, não temos ainda como comparar os resultados”, diz.


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