O inquérito da Polícia Civil do Rio que investigou ativistas e resultou na decretação de prisão preventiva de 23 pessoas - medida revogada na quinta-feira pelo desembargador Siro Darlan - também reuniu indícios de que black blocs de São Paulo e do Rio trocam informações frequentemente e atuam juntos em algumas manifestações.
No mesmo dia, às 16h38, Camila pede a outro ativista, Igor D’Icarahy, que confirme a existência de local para hospedar “as pessoas que vêm de São Paulo”. A viagem de São Paulo foi descartada por causa da prisão de ativistas, no dia 12 de julho.
Estratégias
Em depoimento, o ex-integrante da comissão de organização dos protestos violentos, o técnico químico Felipe Braz Araújo, de 30 anos, detalhou à Polícia Civil quem são os líderes do movimento e como funcionava a estratégia de depredações.
As reuniões do grupo, segundo ele, ocorriam, geralmente, em prédios públicos - ou no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no centro, ou na sede da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), na zona norte.
O objetivo da comissão, de acordo com o depoimento dado à Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI) no último dia 3, era definir os temas que seriam explorados nos protestos, como a morte do pedreiro Amarildo de Souza, a desocupação do acampamento Aldeia Maracanã (montada no antigo Museu do Índio, no Maracanã, zona norte) e a desativação do Hospital dos Servidores, na zona portuária.
A partir da escolha das prioridades, marcava-se um ato e planejava-se o que o depoente chamou de “atos criminosos”. “Nas reuniões eram planejados trajetos e atos criminosos, como incendiar ônibus, destruição do patrimônio público e privado, furto a caixas eletrônicos de agências bancárias”, afirmou Araújo aos investigadores.
O ex-integrante contou ter deixado o grupo por discordar das ações violentas, que estavam gerando repúdio veemente por parte da sociedade.
“O declarante decidiu abandonar a comissão da FIP (Frente Independente Popular, formada a partir do pioneiro Fórum de Lutas, responsável pelas primeiras manifestações) porque só existia o ‘quebra-quebra’ e não havia nenhum resultado”, diz o texto enviado à Justiça, em que a DRCI transcreve o teor do depoimento da testemunha.
Para Araújo, a prioridade do confronto com a Polícia Militar nos protestos relegou “a ideia principal de mudar o País” para segundo plano.