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Estado de Minas

Professor tem que dar aula sobre Revolução Francesa para não ser linchado em SP

Vítima saiu de casa para correr e foi abordado por um grupo de 15 pessoas. O homem conta que teve os braços e as pernas acorrentados.


postado em 02/07/2014 08:44 / atualizado em 02/07/2014 08:53

O professor de história André Luiz Ribeiro, de 27 anos, foi espancado na região de Parelheiros, em São Paulo, na última quarta-feira, 25, após ter sido acusado de roubar um bar. Segundo a vítima, um grupo de mais de 15 pessoas o agrediu por tê-lo confundido com um assaltante enquanto praticava cooper na região.

Atendido pelo Corpo de Bombeiros, Ribeiro alega que os militares não acreditaram que ele é professor e pediram para o homem comentar sobre a Revolução Francesa. "Tive de falar da ascensão da burguesia na França, da queda da Bastilha em 1789 e das diferentes fases da revolução para que eles acreditassem", conta.

Segundo a corporação, as equipes que passavam no local evitaram o linchamento e prestaram os primeiros socorros. "Em nenhum momento houve desrespeito ou deboche na ação dos bombeiros".

André Luiz Ribeiro foi indiciado por roubo e passou dois dias presos antes de conseguir na Justiça a liberdade provisória.

Contra as agressões e o indiciamento, amigos, alunos e familiares realizaram um ato nessa terça-feira, em frente ao 101º DP (Jardim Embuais). Na internet, mais de 130 pessoas compartilharam a foto de perfil do professor que mostra o rosto com hematomas após a tentativa de linchamento.

Ribeiro conta por volta das 19h da última quarta-feira saiu de casa para correr, como costuma fazer todos os dias, e ao passar pela Rua João Batista Gomes Ciqueira, em Balneário São José, notou olhares estranhos, mas decidiu continuar o exercício. "De repente veio um carro na minha direção. Levantei as mãos na mesma hora achando que se tratava de um assalto, mas sem entender nada. Foi quando o dono do bar que tinha sido roubado e seu filho saíram do veículo e começaram a me agredir", disse Ribeiro.

O professor teve os braços e as pernas acorrentados e conta que levou chutes e socos pelo corpo. "Eu não tive tempo de dizer nada. Vieram mais de 15 pessoas, até mesmo mulheres. Foram muitas agressões até que chegaram os bombeiros e dispersaram os moradores. Ainda bem, porque ouvi alguém dizer 'pega o facão'", relatou.

A Polícia Militar chegou em seguida e, diante da afirmação do dono do bar de que se tratava de um dos três criminosos que haviam roubado R$ 480 do estabelecimento, encaminharam Ribeiro ao 101º DP (Jardim Embuias), onde ele foi indiciado por roubo. Antes, o professor foi levado ao pronto-socorro. "Dormi uma noite neste DP, dividindo a cela com outro preso, apesar de ter curso superior. Só no outro dia que fui levado para outra delegacia, onde dormi em uma cela sozinho antes de conseguir a liberdade provisória", contou.

Procedimento


Em nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) disse que o professor foi preso em flagrante "em cumprimento do artigo 302 do Código Penal, já que a vítima o reconheceu como um dos participantes do roubo ao estabelecimento comercial em duas oportunidades" e que a polícia não pode identificar quem bateu no professor porque as pessoas se dispersaram com a chegada da viatura. Ainda de acordo com a SSP, o delegado André Antiqueira, titular do 101º DP, "se coloca à disposição para ouvir em depoimento quem tenha novas informações para acrescentar à investigação".

Nesta quarta-feira, Ribeiro vai registrar boletim de ocorrência por tentativa de homicídio por parte do dono do bar, identificado como Djalma dos Anjos Nonato. "Eu via esse tipo de caso nos jornais e na TV, mas a gente nunca acha que vai acontecer conosco. A dor que fica é a psicológica. Tive muito medo de ficar preso por meses e não conseguir dar aula", disse Ribeiro. A reportagem não conseguiu contato com Nonato.


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