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Estado de Minas

São Paulo enfrenta risco de ficar sem água durante o Mundial

De acordo com especialistas, já ocorre racionamento informal na periferia e em cidades menores do estado


postado em 15/05/2014 11:12 / atualizado em 15/05/2014 11:48

Governo responsabiliza a falta de chuvas para justificar o baixo nível dos reservatórios (foto: REUTERS/Paulo Whitaker)
Governo responsabiliza a falta de chuvas para justificar o baixo nível dos reservatórios (foto: REUTERS/Paulo Whitaker)

São Paulo vive um problema crônico de distribuição de água às vésperas de sediar seis partidas da Copa e de receber 15 delegações estrangeiras. O governo nega, mas a possibilidade de desabastecimento durante o Mundial é real, de acordo com especialistas. Turistas e convidados da Fifa, porém, não precisam se preocupar. A água para eles está garantida. Quem deve pagar o pato é a população que vive nas periferias da metrópole e em cidades menores da Grande São Paulo. Ainda que a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) jure que não há restrição de consumo, existem relatos de moradores sofrendo com torneiras secas em bairros carentes.

Ontem, o nível do Sistema Cantareira, que abastece a região da Grande São Paulo, chegou a alarmantes 8,4% da capacidade, pior índice desde 1974, quando foi criado. Para evitar a falta de água generalizada e a necessidade de racionamento, a Sabesp recorreu pela primeira vez na história ao chamado “volume morto”, que entra hoje em atividade. Foram investidos R$ 80 milhões em canais e bombas capazes de sugar a água que fica abaixo do nível das comportas, estimada em 400 milhões de metros cúbicos. Com o uso do volume morto, a capacidade do sistema sobe para 18,5%, de acordo com estimativas.

Mas o reforço da água subterrânea pode ser incapaz de evitar a crise hídrica em São Paulo nos próximos meses, quando o volume de chuvas será ainda menor. Há tempos, moradores de bairros afastados do centro da capital — como Vila Guilherme, Lauzane Paulista e Vila Amália, na Zona Norte — reclamam de cortes de distribuição, principalmente à noite. Osasco, São Caetano do Sul e Guarulhos, na região metropolitana, também registram problemas no abastecimento. Na semana passada, o Instituto Data Popular apontou que 23% dos habitantes do estado tiveram problemas de falta de água nos últimos três meses, o equivalente a 6 milhões de pessoas. Os mais afetados (25%) são os que recebem até um salário mínimo por mês.

“A chance de faltar água durante a Copa do Mundo é real. Existe, sim, o risco do racionamento informal. O nível do sistema é crítico”, alerta Paulo Costa, engenheiro e especialista em programas de racionalização de consumo de água. “Já temos notícias de consumidores que reclamam de rodízio informal, mas a Sabesp nega. Nas áreas onde haverá uma grande concentração de turistas, nas áreas centrais, nos grandes hotéis, a Sabesp não vai deixar faltar água. Mas quem estiver nas áreas periféricas da cidade vai sofrer.”

Júlio Cerqueira César Neto, professor aposentado de hidráulica e saneamento da Escola Politécnica da USP, também alerta para o tamanho do problema. “O sistema está em colapso. Em dezembro, já deveríamos ter adotado o racionamento. Já há um racionamento seletivo dirigido aos mais pobres. O governo só não faz o racionamento completo porque quer superar dois eventos: a Copa e as eleições”, condena César Neto. “Usar o volume morto só vai prorrogar o problema por alguns meses. Os turistas não vão sofrer com a falta de água na Copa. Mas em outubro teremos um Sistema Cantareira seco, sem volume morto, sem ter de onde tirarmos água.”


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