O Brasil vive mais um registro na escalada de linchamentos e espancamentos coletivos. Acusada de ter sequestrado uma criança para rituais de magia negra, uma mulher foi espancada por moradores no Guarujá, litoral de São Paulo, na noite de sábado. A vítima foi imobilizada por vários homens não identificados que a amarraram, agrediram e depois levaram para os fundos do bairro com a intenção de matá-la. Inconformados com a brutalidade da agressão, outros moradores acionaram a Polícia Militar para tentar solucionar o problema. Ontem à noite a vítima, identificada como Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, seguia internada em estado gravíssimo no Hospital Santo Amaro.
Vizinhos informaram que a mulher espancada se chama Fabiana e tem duas filhas, uma de 13 anos e uma de apenas um ano. Uma das vizinhas, que preferiu não se identificar, afirmou que Fabiana tem problemas psicológicos e que tomava remédios controlados. “Às vezes ela tinha alguns surtos, mas fora isso mais nada. Ela tomava remédios fortíssimos”, comentou.
Apesar dos remédios controlados, a vizinha garante que Fabiana nunca sequestrou nenhuma criança e que o ato da população foi impensado. “Nunca vi ela ser agressiva com ninguém, nem com as próprias filhas. As pessoas acreditam em tudo e acaba acontecendo uma tragédia. Eu não estava lá no momento do espancamento, mas se estivesse, defenderia ela imediatamente”, afirmou.
Na edição de ontem, o Estado de Minas mostrou que levantamento feito pela reportagem encontrou 36 casos de linchamentos e espancamentos coletivos neste ano. Do total, 19 resultaram na morte da vítima – um caso a cada oito dias. Os dados mais recentes pesquisados pelo Núcleo de Estudos de Violência da Universidade de São Paulo (USP) referem-se a São Paulo e vão até 2010, quando ocorreram 10 casos, com três mortos. Os números, entretanto, não são precisos, pois linchamentos e espancamentos não são caracterizados como um tipo penal e, por isso, não fazem parte das estatísticas de crime feitas pelos órgãos de segurança.