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Estado de Minas

Em Osasco, 700 famílias temem reintegração de posse


postado em 14/04/2014 20:01

Osasco, 14 - No ano passado, o motorista Sidnei da Silva, de 45 anos, perdeu o emprego e, sem dinheiro para pagar o aluguel, foi despejado de sua casa. Com a esposa Michele e as filhas Kailene, de 11 anos, e Isabele, de 8, o motorista não viu outra saída se não montar um barraco improvisado em um terreno de 48 mil m², na zona industrial de Osasco, na Grande São Paulo. Agora, Silva se vê em um novo dilema: no final do mês, a Justiça executará a reintegração de posse da área e ele não sabe para onde ir. "Estou segurando nas mãos de Deus. Para onde ir, a gente não tem."

O medo de Sidnei é compartilhado por outras 700 famílias da Ocupação Esperança, como é chamado o acampamento sem-teto que existe há oito meses. Os moradores pedem a permanência no local, ou a inclusão em programas de habitação do governo e a concessão de bolsa aluguel. A prefeitura, no entanto, negou ambos os pedidos. O desfecho parecia certo quando a Justiça de Osasco acatou ao pedido de reintegração de posse. Porém, após uma série de manifestações e pedidos de ajuda das famílias e militantes, que chegaram até mesmo ao ex-presidente Lula, uma nova rodada de negociação com a Secretaria Municipal de Habitação deve acontecer ainda esta semana.

"O ideal para a gente seria a transformação da área em uma Zeis (Zona Especial de Interesse Social)", afirma Avanilson Araújo, um dos advogados do movimento. A implementação da Zeis, uma ferramenta urbanística que destina uma área para a construção de imóveis de baixa renda, abriria a possibilidade de as famílias conseguirem um financiamento pelo Minha Casa Minha Vida Entidades, modalidade do programa do governo em que os projetos são tocados pelas associações de moradores, e não por empresas de construção civil.

Segundo outra advogada do movimento, Irene Maestro, a discussão dentro do acampamento é que ninguém quer um confronto, mas as famílias estão dispostas a resistir. "Temos um calendário de mobilizações justamente para evitar isso. Não queremos um novo Pinheirinho", afirma, lembrando da desastrosa ação de reintegração de posse que o governo do Estado fez com as 1,5 mil famílias da ocupação Pinheirinho, em São José dos Campos, em janeiro de 2012.

O terreno, que pertence a uma indústria de Barueri, foi ocupado em agosto de 2013, um mês depois de cerca de 300 pessoas serem despejadas de outro local em Osasco. Com a ajuda de movimentos sociais, como o Luta Popular, as famílias organizaram a área em três setores, com cozinhas comunitárias e barracos feitos de madeira e lona. Ao longo dos meses, a ocupação ganhou banheiros improvisados, fiação elétrica e uma sala de aula para reforço escolar de crianças. "Aqui é tudo em serviço voluntário. Tanto que se você chegar hoje, precisando de um terreno, eles te arrumam um lugarzinho. O pessoal te ajuda a levantar seu barraquinho e a te acomodar", conta Vanessa Joana Marques de Barros, de 26 anos, que está na ocupação há quatro meses.

Grávida e há uma semana de dar à luz ao pequeno Ítalo, Vanessa sonha com o marido em construir a própria casa para morar com os outros dois filhos que estão com a avó. Segundo Vanessa, na ocupação há também deficientes físicos, crianças e idosos, que, temendo ter de viver nas ruas, escolheram montar barracos na área privada. "Nossa, Deus sabe o quanto eu queria estar aqui e o quanto a gente precisa ficar aqui."


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