Para o secretário de Turismo de Caldas Novas, Paolo Rosa, a falta de uma norma específica para condomínios dificulta a fiscalização por parte do Estado. Cinco dias após a morte do menino Kauã Davi de Jesus Santos, 7 anos, em Caldas Novas (GO), mais uma pessoa acabou vítima da falta de manutenção nas piscinas do mesmo clube, o Condomínio Privé das Thermas I.
“Os edifícios residenciais se transformaram em comércio. Estamos elaborando uma legislação e criando uma possibilidade legal para fiscalizar os empreendimentos que dispõem de parque aquático e piscina”, revelou Paolo Rosa. O delegado adjunto de Caldas Novas, Pedro Garcia Cairex, pretende ouvir até a próxima semana os donos do Privé das Thermas I, além de funcionários e testemunhas. “É um crime de menor potencial ofensivo e vamos apurar de quem é a culpa pela lesão corporal, mas a negligência está evidenciada em razão de o ralo não estar lá. Agora, será apurada a dimensão da negligência e a individualização da culpa, se da administração ou dos encarregados pela manutenção”, explicou.
O advogado do resort, Gildomar Rezende da Rocha Júnior, informou que o incidente está em apuração. Por meio de nota, o condomínio destacou que Josias ficou com o pé preso na tubulação “após este (Josias) retirar o ralo de proteção, talvez por descuido ou pondo à prova a resistência.” Segundo ele, a retirada dos ralos é feita periodicamente, além de colocados três produtos para que não saiam.
A família de Josias entrou na Justiça para pedir uma indenização por danos morais. A audiência está marcada para 11 de março, no Fórum de Caldas Novas.
Depoimento de Josias
A gente saiu de uma piscina fria para uma aquecida. Estava andando pela borda da piscina, quando pisei com o calcanhar no buraco e o pé desceu. O ralo não tinha tampa de proteção. Nos primeiros 10 minutos, eu tentei manter a calma, mas senti cãibra, e o meu pé começou a doer demais. A piscina tem 1,40m, e eu tenho 1,75m. Ainda assim, engoli água umas três vezes. Se fosse alguém mais baixo, teria morrido.
O salva-vidas demorou 25 minutos para chegar, nem queriam que a gente chamasse os bombeiros por causa do acontecimento anterior (do menino Kauã). O salva-vidas ainda queria ligar a bomba de sucção (foto) para esvaziar a piscina mesmo com o meu pé dentro. Se estivesse sugando, eu não estaria vivo. Foi uma dor infernal e quase uma hora de desespero. Parecia que o meu pé seria decepado.
Em nenhum momento, ninguém do clube nos procurou para saber se eu precisava de alguma coisa. Ao contrário, ameaçaram e disseram que era sabotagem e que a gente não sabia com quem estava mexendo. Foi uma péssima experiência. Se ninguém tomar providências, vai acontecer a mesma coisa com outras pessoas.
Josias Andrade Saraiva, 47 anos, administrador e morador de Taguatinga