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Estado de Minas

O papa é pop e socialista

O que difere o papa Francisco de seus antecessores é o discurso em torno de temas até então tidos como pautas das alas mais progressistas e de esquerda da Igreja


postado em 29/07/2013 00:12 / atualizado em 29/07/2013 07:59

Terminou no domingo (28) a primeira viagem internacional do papa Francisco à maior nação católica do mundo. E com um saldo extremamente positivo para a Igreja. Se João Paulo II foi importante para a história política, o mandato do papa Francisco desponta como um divisor de águas para uma das religões mais antigas do mundo, mas que vem perdendo fiéis para as novas, principalmente as pentecostais.

A passagem de Francisco pelo Brasil prova a tese de Leonardo Boff – idealizador da Teologia da Libertação e que deixou o sacerdócio em 1992 depois de desentendimentos com o Vaticano sobre os rumos da Igreja – de que ele é o “papa da ruptura”, de uma nova Igreja, voltada para os pobres e para os excluídos. Ou como definiu o próprio pontífice, logo quando assumiu, “dos pobres e para os pobres”.

Encastelado, o catolicismo vive uma profunda crise. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de fiéis da religião do sumo pontífice vem encolhendo a cada ano: passou de 91,8%, em 1970, para 64,6% em 2010. Além disso, a Igreja Católica enfrenta ainda a redução do número de padres, que não passam de 17 mil no país.

Por isso, a vinda do papa é vista por muitos como um alento para a recuperação de fiéis e como uma nova estratégia a ser seguida pelos sacerdortes católicos. O que difere Francisco de seus antecessores é o discurso em torno de temas até então tidos como pautas das alas mais progressistas e de esquerda da Igreja, como as comunidades eclesiais de base, as pastorais e os adeptos da Teologia da Libertação. Nos seis dias em que permaneceu em solo brasileiro, ele não se furtou também a abordar temas que hoje dominam os debates políticos no Brasil.

Apesar de ser o mais progressistas chefes da Igreja que já passaram pelo Vaticano, o papa Francisco não fez, e nunca vai fazer, defesa de assuntos tabus dentro da Igreja como aborto e casamento gay. Ainda que as cartilhas e o material distribuídos aos participantes da Jornada Mundial da Juventude seja conservador – havia, por exemplo, um terço com pequenos fetos nas contas, para os fiéis rezarem contra o aborto –, o papa não adotou esse tom em nenhum de seus discursos. Aliás, evitou esses assuntos, que são hoje os que mais dividem opiniões dentro da Igreja e mais afastam as pessoas da religião.
 
Discurso direto


A fala do pontífice foi sobre corrupção, passando pela defesa dos programas de combate à fome adotados pelo governo federal – e muitas vezes tachados pelos conservadores de “esmola”– à violência os protestos que mobilizaram o país antes e durante sua visita e até mesmo a maneira brasileira dividir comida, botando “água no feijão”. Ele disse ainda que somente o Estado laico, “sem assumir como própria qualquer posição confessional” garante a “pacífica convivência entre as religiões” e “respeita e valoriza a presença do fator religioso na sociedade”.

Até mesmo a pacificação das favelas no Rio de Janeiro mereceu a atenção do papa. Segundo ele, “nenhum esforço de pacificação será duradouro e não haverá harmonia e felicidade para a sociedade que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si mesma". Francisco defendeu o diálogo para a superação das crises e a política, como uma das formas mais altas de caridade.

Contrapondo-se à intolerância religiosa, ele demonstrou absoluta falta de preconceito e fez questão de abraçar o babalaô Ivani dos Santos, representante do candomblé, durante o encontro com entidades civis no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. O pontífice recebeu dele um lembrança e entregou-lhe duas medalhas com imagens sacras. Esse foi um encontro histórico, já que foi a primeira vez na história da Igreja Católica que adeptos de religiões de matriz africana se encontraram com um papa. No seu discurso, o Santo Padre fez questão de frisar a importância da convivência pacífica entre as diversas crenças para a construção de um mundo melhor e mais igualitário. Tudo isso sem a pompa que cerca a Igreja Católica e seus líderes máximos e com um discurso simples e direto. É que esse papa é pop e socialista.


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