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Estado de Minas

Após décadas "filhos do aço" reencontram famílias

Pais reencontram família e tentam recuperar os anos que passaram longe. Quem não teve a sorte espera pela mesma oportunidade


postado em 07/04/2013 06:00 / atualizado em 07/04/2013 09:37

Quando tinha 22 anos, Welliton dos Santos foi surpreendido por uma carta escrita pelo seu pai, que ele não conhecia.(foto: Beto Magalhaes/EM/D.A Press)
Quando tinha 22 anos, Welliton dos Santos foi surpreendido por uma carta escrita pelo seu pai, que ele não conhecia. (foto: Beto Magalhaes/EM/D.A Press)
Itabirito e Coronel Xavier Chaves – A esperança dos “filhos do aço” de encontrarem os pais após décadas é alentada por histórias que tiveram um início triste, mas que com o passar dos anos se transformaram em felizes reencontros. É o caso de Welliton Júnior dos Santos, de 33 anos, que conheceu o pai há 11 anos. “Recebi uma carta na véspera do dia dos pais, em que ele se apresentava para mim”, conta.

O pai de Welliton foi para Coronel Xavier Chaves no final da década de 1970 e conheceu a mãe dele, Marta Maria dos Santos, hoje com 56 anos. Após saber da notícia da gravidez ele não quis assumir a responsabilidade e deixou o emprego e o filho que nasceria. Porém, após 22 anos o pai de Welliton estava trabalhando em uma obra na Rodovia Fernão Dias e encontrou um colega de Resende Costa, cidade vizinha de Coronel Xavier Chaves.

Ele contou para o amigo que, provavelmente, tinha deixado um filho em Coronel Xavier Chaves. Quando chegou a Resende Costa o colega do pai de Welliton procurou o motorista do ônibus da linha que liga as duas cidades, narrou a história e passou o nome da mãe do jovem. O motorista morava no mesmo bairro, a Vila Nossa Senhora de Fátima, procurou Welliton e pediu que passasse todos os seus dados pessoais. “Não entendi muito bem. Achei que ele fosse me indicar para algum emprego”, lembra.

Porém, semanas depois chegou uma carta com um pedido de desculpas e com a apresentação do pai. “Eu sabia que meu pai se chamava Luizão, mas na carta veio escrito que ele se chamava Adão. Fiquei na dúvida”, lembra. A troca de nomes, aliás, era um recurso usado pelos trabalhadores para passarem incólumes às aventuras amorosas.

A confirmação veio quando o pai disse que havia visto a mãe de Welliton no Terminal Rodoviário Tietê, em São Paulo, mas não conversou com ela. Wellinton só teve a certeza da identidade do pai após saber disso, pois já havia escutado a mesma história da mãe. Agora, ele mantém contato com todos os lados da família. Com a mãe e os quatro irmãos que vivem na capital paulista, e com o pai e as duas irmãs que ganhou, em Camanducaia, no Sul de Minas. Wellinton é presbítero em uma igreja evangélica e trabalha em uma firma de eventos. Casado e pai de três filhos ele constrói sua casa e se sente aliviado de ter resolvido um dilema de seu passado. “Sempre que vejo o trem passar lembro da história do meu pai”, conta..

Recado A chegada dos milhares de trabalhadores para a construção de três viadutos e dois túneis da ferrovia nas proximidades de Coronel Xavier Chaves mudou para sempre a vida das irmãs Carmem e Aparecida Maria dos Santos, de 56 e 53 anos. Aparecida casou com um dos trabalhadores, que veio de Florianópolis (SC), enquanto a irmã Carmem não teve o mesmo destino. Namorou outro catarinense, de Porto União, mas quando estava grávida de dois meses o namorado não assumiu a paternidade e partiu.

A filha de Carmem, Jussara Aparecida dos Santos, atualmente com 36 anos, passou mais de 30 anos sem saber quem era seu pai. Quando já era casada, tinha um filho e estava grávida da segunda filha, recebeu um recado. Era de uma irmã de quem ela nem sabia da existência, que se chama Margarete, hoje com 34 anos. Margarete também só soube que tinha uma irmã quando por acaso ouviu uma conversa de sua mãe. Ela não sossegou enquanto não fez contato com Jussara.

Margarete ligou para a prefeitura da cidade e falou com uma amiga de Jussara. Por azar não falou com a própria irmã, que à época era atendente na prefeitura. “Fiquei muito emocionada. Estava na última semana de gravidez e combinei com ela de eles virem me visitar”, conta Jussara. O pai, com a atual família, vive em Santo André, no ABC Paulista, e desde então vai a Coronel Xavier Chaves todos os anos visitar a filha e os dois netos.

“Eu sempre quis saber quem era meu pai, mas não perguntava à minha mãe, pois foi algo que a machucou muito”, lembra Jussara. A mãe, Aparecida, recorda que quando ficou grávida virou alvo de fofocas e intrigas na cidade. “Só não me jogaram pedra, pois eu não saía de casa”, exagera Aparecida, que após quase 40 anos trata a situação com bom humor.

Esperança Isabel Cristina Damásio, de 34 anos, não teve a mesma sorte de Jussara e Welliton. “Quando alguém fala do meu pai eu tenho muita vontade de conhecê-lo”, afirma a esteticista, de Itabirito, na Região Central do estado. Do pai ela sabe apenas os dois primeiros nomes – José Antônio – e que ele veio do Rio de Janeiro, funcionário da Camargo Corrêa para trabalhar na obra da Ferrovia do Aço no final da década de 1970.

Moradora do Bairro Santa Rita, Isabel acredita que é muito mais fácil para o pai encontrá-la do que ela buscar por ele. “Se ele voltar aqui ele me encontra rapidinho. É só ele ir aonde minha mãe morava que todos os vizinhos continuam lá”, acredita. Isabel nunca viu foto de seu pai e o que sabe ouviu de sua mãe. “Ele era claro e do cabelo loiro. Minha mãe diz que eu sou a cara dele”, afirma.


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