(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Cresce o número de adoções de crianças negras no Distrito Federal


postado em 08/02/2013 09:55


Apesar de muitas pessoas inscritas no cadastro nacional ainda manifestarem preferência por bebês brancos, o DF registra aumento de famílias interessadas em receber as crianças que antes eram rejeitadas. Em dois anos, esse percentual quase dobrou

O número de crianças e adolescentes na fila de adoção é menor do que a quantidade de pessoas habilitadas pela justiça no Distrito Federal. A matemática é simples para que todos os meninos e meninas encontrem um lar. Mas essa conta não fecha porque o perfil dos pequenos nem sempre coincide com o desejo dos candidatos a pais. A maioria ainda prefere bebês brancos com até 3 anos. Apesar disso, essa realidade começou a mudar nos últimos anos. Dados da Vara da Infância e da Juventude (VIJ) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) apontam que o número de adoção de crianças negras aumentou, assim como o número de famílias que não têm preferência pela cor do filho.

No DF há, atualmente, 133 crianças e adolescentes cadastrados e 416 pessoas habilitadas para adoção. Um terço é de negros e a maioria, 62%, têm mais de 12 anos. Perfis que vão de encontro ao buscado pelos candidatos a pais. Mesmo assim, o número de crianças brancas adotadas caiu de 67,7%, em 2011, para 61% em 2012. Já a quantidade de meninos e meninas negros que encontraram um lar subiu de 29,2% para 36,8% no mesmo período. Esse crescimento vem sendo observado desde 2009, mesmo com a pequena queda registrada de 2010 para 2011. Já os pais, segundo os dados da VIJ, 85% são brancos.

Apesar de o número de adultos que preferem crianças brancas ou morenas claras ter crescido de 47,8%, em 2011, para 50% no ano passado, aqueles que optaram por ter um filho negro também aumentou. Saiu de 7,8%, há dois anos, para 12,8% em 2012. Desde 2010, o número de famílias que declararam não ter preferência de cor na hora de adotar uma criança também se destaca. Em 2012, ficou em 37,2% do total. Mas a supervisora substituta da área de adoção da VIJ, Niva Maria Vasques Campos, lembra que essa mudança ainda é sutil. “Os candidatos à adoção buscam uma semelhança física, e as pessoas que se declaram brancas ainda são maioria. Essa é uma característica do DF”, explica.

“Sabia que seria ela”

Mas Niva reconhece que o perfil dos filhos pretendidos apresenta mudança ao longo dos anos. “O curso de preparação dos pais, a adoção de crianças negras por casais famosos, a dificuldade de encontrar um bebê com determinadas características e a realidade dos abrigos contribuem para isso. Quando o vínculo é estabelecido, as diferenças somem”, completa. A supervisora lembra que quem busca um recém-nascido pode esperar de quatro a cinco anos. Quando se trata da idade, a situação fica mais difícil.

A servidora pública Luzimar Costa Rezende, 59 anos, moradora de Águas Claras, adotou uma garota fora do perfil escolhido pela maioria das pessoas. Amanda Sophia Costa Rezende, 13, deixou o abrigo aos 9 para se juntar à família. “Nos inscrevemos no cadastro em 2006 e pedimos uma menina entre 2 e 4 anos. Depois mudamos para 6 a 8. O processo é muito demorado e, se não fosse assim, não a teria encontrado”, diz. Ela tem outros quatro filhos, duas mulheres e dois homens.

Luzimar nunca havia cogitado a possibilidade de adotar uma criança. Mas o desejo do marido de ter uma filha e os pedidos do caçula para ganhar uma irmã fizeram a servidora pública pensar no assunto. “Quando vi a ficha da Amanda, sem conhecê-la, sabia que seria ela. Tem a mesma data de nascimento do pai, esse foi o sinal que eu buscava”, completou. Em nenhum momento, passou pela cabeça de Luzimar adotar um bebê. “Não tínhamos espaço em casa. Sentia que precisava escolher uma criança mais velha para chegar até a Amanda”, acredita.

Lei tem peso decisivo

Para a presidente da organização não governamental Aconchego, Soraya Pereira, a mudança no perfil, no DF e no país, se deve a três fatores. “Em primeiro lugar, a lei tornou o processo mais popular. Em segundo, os pais precisam passar por um curso de preparação antes da adoção , por fim, os grupos de apoio têm desenvolvido um trabalho importante”, cita. Segundo ela, o curso desmitifica o processo. “Os pais passam a ter certeza de que querem adotar uma criança, e critérios como cor e idade ficam em segundo plano.”

E para a advogada e gestora de projetos sociais Fabiana Gadelha, 35 anos, moradora da Asa Sul, o desejo de adotar uma criança sempre falou mais alto do que qualquer característica física. Ela se habilitou na VIJ e entrou na fila em 2007. Em 2010, a família recebeu Miguel Gadelha, hoje com 4 anos, nascido no Paraná. O menino tem síndrome de down. “Eu queria um filho, da forma que ele viesse. Queria ser mãe, estudamos sobre a síndrome e percebemos que estávamos preparados. Era um filho que vinha com uma necessidade diferente”, conta.

Como ela e o marido, o administrador de empresas Leandro Gadelha, 32 anos, continuaram na fila de habilitados do DF, o casal recebeu a notícia de que havia uma criança negra para adoção. Desde o ano passado, Arthur, 2 anos, passou a fazer parte da família. “Para a gente não faz diferença, mas para a sociedade, sim. Já fomos alvo de discriminação, as pessoas falam com piedade, olham, perguntam. Isso não faz o menor sentido para nós.”


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)