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Estado de Minas

Pais e alunos denunciam UnB ao Ministério Público depois de trote

Associação brasiliense entrega hoje representação contra a instituição de ensino e pede punições a quem ridiculariza os calouros


postado em 19/03/2012 07:42 / atualizado em 19/03/2012 11:36


A primeira denúncia formal contra o trote sujo na Universidade de Brasília (UnB) será feita hoje. Duas entidades representativas de pais e alunos em âmbitos nacional e distrital entrarão com uma representação no Ministério Público Federal (MPF) contra a instituição de ensino superior. No documento, são levantadas as situações constrangedoras sofridas por calouros de três cursos e solicitadas providências. Entre os pedidos, estão a punição dos veteranos responsáveis pelas brincadeiras de mau gosto; a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para banir os trotes do câmpus; esclarecimentos por parte dos seguranças e dos professores que estavam no local; e ainda uma conclusão sobre o porquê de os alunos terem em mãos uma arma de choque.

Coordenador da Confederação Nacional das Associações de Pais e Alunos (Confenapa) e presidente da Associação de Pais e Alunos das Instituições de Ensino do DF (Aspa-DF), Luis Claudio Megiorin explica que os representados por essas entidades se sentem inseguros e angustiados em mandar os filhos para uma instituição onde há o consumo de bebidas alcoólicas e onde é praticado o bullying. “Extrapolou a questão da brincadeira. Nossos filhos fazem um esforço imenso para ingressar em uma universidade pública para sofrerem humilhação? É hora de intervir nessas práticas com fortes indícios de bullying”, ressaltou Megiorin.

O procurador da República no Distrito Federal, Carlos Henrique Lima, afirmou que a representação reforça um acompanhamento que o MPF já pensava em fazer. “Esses trotes acontecem de forma cíclica e, eventualmente, com expressões agressivas. Precisamos exigir que a universidade tome as devidas providências.” Ele considera que esse acompanhamento já passou do tempo de ocorrer e é de responsabilidade do ministério apurar o que ocorreu. “Temos que evitar qualquer tipo de violência nessa comemoração”, complementou.

Na última sexta, 34 alunos aprovados no vestibular de mecatrônica tiveram o corpo pintado e foram obrigados a participar de brincadeiras humilhantes. Em uma área verde ao lado da Faculdade de Tecnologia, veteranos despejavam tequila e vodca na boca dos novatos. Alguns alunos relataram ao Correio terem sido coagidos com uma arma de choque, exibida também no primeiro dia de aula. Na quinta, dois calouros de agronomia e de ciências contábeis entraram em coma alcoólico após ingerir bebidas em uma comemoração em um bar na 408 Norte.

Para Megiorin, da Confenapa e da Aspa-DF, é preciso tomar providências urgentes para acabar com o trote. “Já tivemos uma morte em São Paulo (a do calouro de medicina Edison Hsueh, em 1999) e outros casos graves. A exigência é de que haja maior fiscalização de seguranças e acompanhamento da Polícia Militar.” Ele ressalta: uma punição exemplar aos que praticaram o trote sujo na UnB seria uma iniciativa considerável para coibir ocorrências futuras. “Alguns acreditam que, por não pagar mensalidade, podem fazer o que querem. A expulsão dos responsáveis levaria quem quisesse repeti-los a refletir. Eles se perguntariam: ‘Será que eu também posso ser expulso?’”

Investigação
A Universidade de Brasília promete começar também hoje a apuração dos fatos ocorridos dentro do câmpus Darcy Ribeiro, na Asa Norte. Caso fique confirmada a participação de Centros Acadêmicos no trote sujo, pode haver corte de benefícios, como auxílio-viagem e direito a usar o Centro Comunitário para realizar festas. O reitor da instituição, José Geraldo de Sousa Júnior, voltou a reiterar: as investigações são essenciais, mas as medidas iniciais tomadas pela instituição têm caráter educativo, com base no diálogo e no direito de resposta de cada indivíduo.

Ele avalia que o documento a ser entregue ao MPF reforça a importância dos pais na educação dos filhos, mesmo dentro da universidade. “A vida nos campi não dispensa a presença da família. A discussão é importante”, ressaltou. Porém, ele considera fundamental construir atitudes pedagógicas a estabelecer punições como a expulsão. “A função da escola é expulsar ou garantir que o estudante conclua a sua vocação? Prefiro ser um reitor a um feitor. Vamos apurar, identificar e tentar mudar esse tipo de atitude, que hoje é absolutamente pontual”, complementou.

Além das medidas a serem tomadas pelo Decanato de Assuntos Comunitários — como apuração dos fatos e verificação quanto ao uso de uma arma de choque e à entrada de bebidas alcoólicas na universidade —, o reitor pretende repetir as campanhas educativas feitas com os estudantes de agronomia em 2011. “Instituímos uma comissão, mostramos como esse tipo de atitude prejudica a imagem do curso. Eles entenderam e mudaram. Faremos o mesmo com esses alunos”, informou. À época, mulheres foram obrigadas a pular em uma piscina de lama com pedaços de vegetais e lixo.


Pontos do documento

Fatos agravantes
» O evento ocorreu no câmpus Darcy Ribeiro e em plena luz do dia, ao lado
da Faculdade de Tecnologia
» Os veteranos interromperam as aulas para dar início ao trote e usaram
alto-falantes para anunciar as “brincadeiras” pelas quais passariam os calouros
» Os autores do trote exibiram uma arma de choque, equipamento de uso exclusivo da polícia
» Os participantes do trote consumiram bebidas alcoólicas dentro do câmpus
» A maioria dos calouros tem menos de 18 anos

Providências pedidas
» Intimação do reitor e dos decanos responsáveis para que prestem esclarecimentos. O mesmo será feito com os professores que davam aula nas turmas de ciências contábeis, engenharia mecatrônica e as demais
que funcionam na Faculdade de Tecnologia
» Convocação do responsável pelo policiamento e pela segurança da UnB,
bem como dos alunos (calouros e veteranos) dessas disciplinas, para
que prestem esclarecimentos sobre os fatos
» Apuração sobre a existência de prática de bullying direcionado aos estudantes que se negaram a participar dos trotes
» Exigência do aumento de medidas de segurança dentro do câmpus
» Punição exemplar para cada autor do trote e para os responsáveis por
zelar pela segurança dos alunos. Após possibilitar ampla defesa aos veteranos, o pedido é de expulsão
» Assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), a fim de
banir trotes dentro do câmpus
» Ampliação de todas as medidas para as demais universidades públicas do país

 

Colaborou Kelly Almeida


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