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Estado de Minas

México sofre com corrupção 10 anos após início da 'guerra ao narcotráfico'

Outro desafio é o sucateamento da segurança


postado em 18/12/2016 06:00 / atualizado em 18/12/2016 08:46

Corpos em rua de Acapulco, no estado de Guerrero, um dos mais violentos do país(foto: Pedro Pardo/AFP)
Corpos em rua de Acapulco, no estado de Guerrero, um dos mais violentos do país (foto: Pedro Pardo/AFP)

O negócio movimenta US$ 20 bilhões por ano. Para disputar o mercado das drogas nas regiões Norte e Oeste do México, cartéis aprimoram os métodos para amedrontar os inimigos: decapitações, corpos dissolvidos em barris com ácido, cadáveres mutilados e espalhados por cidades. Em 11 de dezembro de 2006, o presidente Felipe Calderón enviou 6,5 mil soldados ao estado de Michoacán, com o objetivo de combater os narcotraficantes. Uma década de guerra teve custo alto e resultados controversos. Apesar da captura de 138 chefões do crime, mais de 355 mil pessoas morreram e 27 mil estão desaparecidas — muitas, provavelmente, executadas e sepultadas em valas comuns. A corrupção perpassa as entranhas do estado, contamina as instituições e ameaça o combate aos cartéis, ao construir relações escusas entre o governo e as organizações criminosas.

Vicente Sánchez Munguia, professor do Departamento de Estudos da Administração Pública, em Tijuana, prefere acreditar que, nos últimos 10 anos, não houve sucesso. “Não se pode chamar de êxito dezenas de milhares de mortos, desaparecidos e tanta violência desatada a partir da declaração de guerra aberta ao narcotráfico”, afirma. Segundo ele, o único plano ousado do atual governo, de Enrique Peña Nieto, o Programa de Prevenção à Violência está fadado ao fracasso após não ter verba prevista no orçamento de 2017. “Nós temos vivido uma verdadeira tragédia e uma alarmante violação dos direitos humanos”, acrescentou. O mais recente golpe contundente no narcotráfico foi desferido em janeiro passado, com a recaptura de Joaquín “El Chapo” Guzmán, o líder máximo do Cartel de Sinaloa.

Munguia aponta um grave erro no gerenciamento da guerra às drogas. Ele explica que as autoridades não fizeram um diagnóstico claro das instituições de segurança e judiciais. Em vez disso, decidiram usar as Forças Armadas para perseguir as organizações criminosas. “Isso fez com que os cartéis ampliassem o poderio armamentista e levou a mais violência, a violações frequentes dos direitos humanos e a desaparecimentos forçados”, observa. O especialista afirma que o narcotráfico abarcou atividades criminosas em setores da economia nos quais não exercia influência, como o controle de recursos naturais e das rotas migratórias, mais as extorsões sistemáticas. Em agosto de 2010, ao menos 72 imigrantes foram assassinados pelo Cartel Los Zetas, depois de se recusarem a trabalhar para o grupo, entre eles quatro brasileiros.

O combate ao narcotráfico, na opinião de Munguia, passa pelo aperfeiçoamento das instituições judiciais e pela profissionalização da polícia. “É uma aposta de médio prazo, que os políticos não têm desejado fazer. Os governadores são omissos e, muitas vezes, cúmplices da delinquência. Também precisamos de uma verdadeira luta contra a corrupção dentro dos governos. Talvez este seja o principal mal de que o país padece”, disse Munguia.

(foto: ARte)
(foto: ARte)


CONSCIÊNCIA Coordenador do Seminário de Segurança Nacional da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam), Javier Oliva Posada admite que os êxitos da última década foram escassos e duvidosos. Ele avalia que o mais importante foi a tomada de consciência da cidadania sobre a capacidade corruptora do crime organizado e o sucateamento da polícia. Posada acusa os governos de Felipe Calderón e de Peña Nieto de não contarem com uma estratégia integral definida, capaz de mobilizar a Presidência da República, o Congresso, a Suprema Corte de Justiça e a sociedade em geral. “Outro erro foi não ter um plano geral para reestruturar as polícias locais. As Forças Armadas tiveram de ser o principal recurso em matéria de segurança pública”, admitiu.

Posada alerta que a violência no México aumenta na proporção da impunidade e da fragilidade do Estado para fazer cumprir a lei. De acordo com ele, a disputa pelo mercado das drogas e pelas rotas para fazer a mercadoria chegar aos EUA agrava a insegurança e incrementa o número de assassinatos na região.


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