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Estado de Minas

'Nos estupraram, um a um', conta mulher rohingya que fugiu de Mianmar


postado em 25/11/2016 16:40

Quando o exército birmanês invadiu o povoado de Udang, soldados amarraram as irmãs Samira e Habiba a uma cama e as estupraram, uma história que reflete os numerosos casos de violência sexual contra as muçulmanas rohingyas em Mianmar.

Nos últimos dias, milhares de membros desta minoria cruzaram ilegalmente a fronteira de Bangladesh, fugindo de Mianmar e da violência que sofriam em sua região de origem.

Seus testemunhos revelam os abusos cometidos pelo exército no oeste do Mianmar budista - uma zona inacessível para a imprensa internacional -, atos que uma autoridade da ONU qualificou de "limpeza étnica".

"Quando o exército atacou nosso povoado, incendiou a maior parte das casas, matou muitas pessoas, incluindo nosso pai, e estuprou muitas jovens", conta à AFP Mosamat Habiba, de 20 anos.

"Ataram nós duas a uma cama e nos estupraram, um a um", conta. "Um dos soldados nos disse, antes de ir embora, que nos mataria se nos visse de novo na sua próxima visita. Depois atearam fogo à nossa casa".

Ao final de uma viagem exaustiva, Habiba, Samira e seu irmão Ullah encontraram refúgio em um pequeno acampamento improvisado no fundo de um bananal em Bangladesh.

Muitas mulheres que conseguiram fugir do estado de Rakhine, onde vive a maioria dos rohingyas, e cruzar a fronteira de Bangladesh oferecem testemunhos similares ao de Habiba.

Os rohingyas refugiados relatam estupros coletivos, torturas e assassinatos perpetrados por tropas de Mianmar na pequena faixa de terra que está sob controle militar após ataques mortais aos postos fronteiriços da polícia, no mês passado.

Jornalistas estrangeiros e equipes de ajuda humanitária são impedidos de entrar nas regiões afetadas.

O exército de Mianmar e o governo negam estas acusações, mas não é de hoje que grupos de direitos humanos denunciam que militares birmaneses usam o estupro como arma de guerra em vários outros conflitos étnicos nas fronteiras do país.

A ONG Womens League of Burma, com sede na Tailândia, registrou 92 casos de violência sexual pelos combatentes entre 2010 e 2015, que segundo elas foram cometidos com o objetivo de "envergonhar e destruir comunidades étnicas".

Os casos de homens muçulmanos que estupram mulheres budistas também despertaram o ódio dos nacionalistas de linha dura em Mianmar.

Mas o volume de acusações de estupro entre os rohingya que fogem de Rakhine sugere um padrão de abuso pelo exército de Mianmar além de qualquer coisa documentada.

Morte ou fome

Mujibullah chegou a Bangladesh na segunda-feira com sua irmã Muhsena. A dupla fugiu depois de que quatro soldados tentaram estuprá-la.

Os soldados estavam amarrando Muhsena, de 20 anos, a um poste em sua aldeia quando Mujibullah interveio, arriscando a própria vida.

"Um soldado tentou me cortar com uma faca enquanto eu me jogava em cima deles, implorando para que não destruíssem sua vida", disse Mujibullah, mostrando uma ferida de uma polegada de comprimento na mão.

Muhsena se aproximou de seu irmão durante a entrevista à AFP, mas não conseguiu falar nada. Todas as vezes que tentava abrir a boca, começava a chorar.

Segundo a ONU, 30.000 pessoas abandonaram suas casas devido à violência que causou dezenas de mortos desde outubro no estado de Rakhine.

Esta minoria muçulmana é considerada estrangeira em Mianmar, apesar de que alguns de seus membros residem lá há várias gerações. As autoridades birmanesas não lhes concedem a cidadania, de modo que vivem à margem da sociedade, em condições de miséria.

A ascensão do nacionalismo budista em Mianmar nos últimos anos despertou as tensões.

Quando os soldados foram embora, Habiba, Samira e Ullah recolheram as escassas economias do seu falecido pai, cerca de 400 dólares, e empreenderam uma longa marcha em direção a Bangladesh.

Esconderam-se durante quatro dias nas colinas situadas na fronteira, junto a centenas de famílias rohingyas, até que o dono de uma barca aceitou, em troca de dinheiro, ajudá-los a atravessar o rio Naf, que separa Mianmar de Bangladesh.

"Pediu todo o nosso dinheiro", lamenta Ullah. "Não tínhamos opção senão entregar a ele".

O proprietário do barco os deixou em uma pequena ilha perto da fronteira. Os irmãos então caminharam vários quilômetros, até que encontraram uma família rohingya que lhes ofereceu abrigo.

"Quase morremos de fome aqui", diz Ullah. "Mas pelo ninguém vem nos matar ou torturar".


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