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Estado de Minas

Eleições nos Estados Unidos provocam temor em Governador Valadares

Muitos moradores da cidade vivem em terras norte-americanas e, a maior parte deles, tem situação irregular


postado em 08/11/2016 06:00 / atualizado em 08/11/2016 08:27

(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

O resultado de uma das eleições mais disputadas nos Estados Unidos não interessa apenas a quem vive naquele país, mas ao mundo inteiro. No Brasil, no entanto, a região de Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, apesar de estar milhares de quilômetros distante, a apuração das urnas traz especial impacto. Isso porque muitos moradores têm parentes vivendo lá e boa parte deles vive em situação irregular. E mesmo quem não tem esse problema, convive com amigos e familiares nessa situação.


A questão dos imigrantes, principalmente os irregulares, tomou boa parte dos debates durante a campanha entre Hillary Clinton e Donald Trump. Mais incisivo em seus posicionamentos, Trump chegou a associar aos que vivem de forma clandestina os males do desemprego e chegou a prometer que iria expulsá-los. Esse seria um de seus primeiros atos, caso seja eleito. Por razões óbvias, desde então, a possível eleição do republicano tem causado preocupação. “Imigrante de forma geral abomina os republicanos. Isso porque nos governos democratas eles vivem de forma mais humana. Há aplicação da lei, quem está de forma irregular tem que responder por isso, mas não existe uma perseguição implacável”, afirmou Raimundo Santana, coordenador do Programa Emigrante Cidadão (PEC) da Prefeitura de Governador Valadares. O município criou um núcleo de apoio aos familiares que, por diversas vezes, se veem em situações dramáticas com parentes fora do Brasil.

Raimundo, que já morou quatro anos nos EUA e atualmente tem um irmão e uma irmã vivendo lá, além de cunhados e sobrinhos, conta que nos governos republicanos a política de repressão é intensificada. “Eles param as pessoas nas ruas, fazem blitzes nas empresas é um clima de terror.” Segundo ele, mesmo os familiares – que estão no país há cerca de três décadas –, vivendo de forma regular eles têm amigos e conhecidos que estão bastante apreensivos. “Eles já passaram por esse processo e sabem como é. Além disso, são muitos os conhecidos, que vivem próximos e que podem ser afetados por uma política de mais repressão”, conta.

Além do aspecto social, outro fator que tem influência direta com uma política mais austera em relação aos imigrantes é a economia da região. Muitas famílias ainda vivem de repasses vindos do exterior e garantem mais qualidade de vida com esse capital girando nos setores de comércio e serviços locais. “Em Valadares, as consequências serão imediatas. A cidade depende de remessas de dinheiro que vêm do exterior para as famílias. Os repasses têm muito impacto na saúde, educação, construção civil, imóveis. Se houver essa deportação em massa, o cenário vai ser complicado”, analisa Raimundo.

Já para Sueli Siqueira, PHD em sociologia e ciência política e professora da Universidade do Vale do Rio Doce (Univale), a questão econômica ainda segue como pano de fundo para a migração, mas os motivos também estão ligados à questões culturais da região. “O que a gente tem é uma cultura migratória. As pessoas já têm uma rede lá. Têm onde ficar os primeiros meses, onde se hospedar, ás vezes já há parentes por lá. Isso torna o movimento migratório mais acessível”, pontua.

Segundo Sueli, em estudo desenvolvido por ela na universidade foi observado que cerca de 54,7% das famílias de Governador Valadares têm alguma experiência migratória. Isso significa que na família pelo menos uma pessoa viveu essa experiência de morar fora do país. “Isso é um número muito significativo”, considera.

Auge


O fluxo migratório começou na região de Governador Valadares por volta da década de 1960 e teve seu auge, principalmente na década de 1980, com a economia brasileira em forte recessão. Atualmente, ela ocorre de forma menos intensa, mas segue com em ritmo contínuo.


Ainda sobre o resultado das eleições, Sueli considera que, independentemente de quem ganhe o pleito, Hillary ou Trump, haverá implicações para quem vive de forma irregular nos EUA. “Na prática, pode não haver muita diferença. O que existe é uma fala mais incisiva de Trump em relação aos imigrantes, mas se a Hillary ganhar também vão ocorrer mudanças”, considera. Apesar disso, ela conta que, até pelo posicionamento público, a maioria dos imigrantes torce pela eleição da democrata.

 

Enquanto isso...
Julgamento de massacre contra negros


O processo contra Dylann Roof, um jovem acusado do pior massacre racista da história recente dos Estados Unidos, começou ontem em Charleston, no Sudoeste do país. O jovem, de 22 anos, que pode ser condenado à pena capital, é suspeito de ter matado a sangue frio nove paroquianos em uma igreja da comunidade negra da Carolina do Sul, em 17 de junho de 2015. Meio século depois da abolição da segregação racial, Dylann Roof faz parte de uma minoria de americanos que continua professando a ideia da supremacia da raça branca. Os primeiros dias de audiência serão dedicados a selecionar os 12 membros do júri, algo crucial dado o caráter sensível do julgamento, que evoca os linchamentos e outros crimes cometidos na época em que os afro-americanos não tinham os mesmos direitos que os brancos.


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