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Estado de Minas

Colômbia 'deve perdoar' crimes das Farc, diz irmão de líder rebelde morto


postado em 25/08/2016 15:01

A Colômbia "deve perdoar" os crimes cometidos pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e essa guerrilha deve cumprir o acordo alcançado com o governo para pôr fim a um conflito de mais de meio século, disse o irmão de Alfonso Cano, chefe guerrilheiro morto.

"A sociedade deve perdoar os crimes que evidentemente a guerrilha cometeu em seu momento (...) A guerrilha tem que cumprir, não podemos permitir que nenhum membro da guerrilha volte às armas", indicou à AFP Roberto Sáenz, irmão do outrora maior líder das Farc, morto durante uma operação militar em 2011.

O governo de Juan Manuel Santos e as Farc (marxistas) alcançaram na quarta-feira (24) um acordo de paz após quase quatro anos de negociações em Cuba, que deverá ser referendado em um plebiscito no dia 2 de outubro.

Roberto Sáenz, de 60 anos, reconheceu que ele e sua família "ficam tristes" que Guillermo León Sáenz Vargas, nome real de Alfonso Cano, não esteja com vida para comemorar o acordado em Havana, mas ao mesmo tempo sentem "alegria" pela saída política do conflito.

Alfonso Cano morreu em 4 de novembro de 2011 em uma operação do Exército depois de quase quatro décadas de militância nas Farc, onde ocupou o posto máximo de comando durante três anos após a morte, em 2008, de Pedro Antonio Marín, Manuel Marulanda ("Tirofijo").

"Não está onde deveria estar nesse momento, uma vez que ele foi um gerador desse processo, uma pessoa convencida da necessidade de transitar à luta política aberta e de converter o movimento armado em um movimento político", disse seu irmão, opositor declarado da luta armada como via ao poder.

Agora as Farc, que com a implementação do acordado passarão a ser uma organização política, devem "fazer todo um replanejamento de seus objetivos à luz da mobilização social, desarmada, política, ganhando o coração das pessoas. É uma tarefa muito grande", explicou.

Dois lados de uma mesma moeda

A vida de Roberto e Guillermo León, integrantes de uma família de sete filhos, moradores de Bogotá, tomou caminhos distintos no início da década de 1980, com a entrada de Guillermo para a guerrilha, onde rapidamente ascendeu para os níveis de comando.

No momento de sua morte, sobre Cano pesava uma dúzia de ordens de captura por crimes como terrorismo, sequestro e homicídio.

Roberto, por outro lado, foi vereador por Bogotá entre 1990 e 1991 da União Patriótica, partido criado por políticos de esquerda e guerrilheiros desmobilizados levado à beira da extinção há duas décadas depois de assassinatos ordenados por organizações de extrema-direita e agentes do Estado.

"Não fui um algoz, eu nunca usei uma arma (...) tínhamos dois pontos de vista diferentes sobre isso", assegurou Roberto, um destacado líder ambiental que esteve no Conselho de Bogotá entre 2012 e 2015, durante a prefeitura do ex-guerrilheiro do M-19, Gustavo Petro.

Os últimos contatos entre a família e Cano foram por correio entre 2008 e 2009, no auge da ofensiva estatal contra a guerrilha. E o último encontro foi em meio aos frustrados diálogos de paz de 1991, em Caracas, onde Roberto participou junto com seu irmão.

Por seu vínculo sanguíneo com Cano, o resto dos Sáenz Vargas sofreram sequestros e exílios, além de uma "dispersão da família". "Foi uma coisa muito dura para quem, sem estar na luta armada, tem que sofrer as consequências. Há certa sensação de sobrevivência", acrescentou o ex-vereador.

Roberto Sáenz destacou que, se forem implementados os acordos na forma em que foram pactados, o país irá "ter uma transformação".

"Não é a transformação revolucionária, não é o socialismo nem nada, são somente tarefas que o Estado tem que cumprir para tirar setores importantes da pobre e do isolamento", disse.


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