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Estado de Minas

Vítimas mexicanas esperam que papa retire proteção de padres pedófilos


postado em 11/02/2016 20:31

Há tempos Jesús Romero - que denunciou um sacerdote por abusos sexuais - deixou de acreditar em Deus, mas quer reunir-se com o papa Francisco durante sua visita ao México; enquanto outro conhecido ex-padre, abusado pelo fundador dos Legionários de Cristo, não quer saber do pontífice.

Em sua primeira viagem ao México, entre 12 e 17 de fevereiro, o papa chegará à terra dos intocados Legionários de Cristo e de seu fundador, Marcial Maciel (falecido em 2008), acusado na década de 1990 por ex-alunos e ex-seminaristas de ter cometido abusos sexuais.

Muitas outras acusações de vítimas de diversos clérigos se somaram ao escândalo Maciel.

Uma delas é a de Romero, de 33 anos, que denunciou formalmente na justiça por crimes sexuais o sacerdote Carlos López Valdez.

Romero conta que seu pesadelo começou quando tinha 11 anos, quando, querendo ser seminarista, foi enviado pela mãe a morar com o padre em uma casa paroquial da capital mexicana.

O abuso durou nove anos, durante os quais Romero pôde constatar que o sacerdote fez o mesmo com outros sete jovens. Destroçado, em 2004 ele abandonou aos 20 anos a casa paroquial e aos 23 decidiu denunciar o padre à justiça.

Em 2013, o papa Francisco lhe enviou uma carta pedindo perdão em nome da Igreja. O sacerdote agora vive em Cuernavaca, cidade turística situada a 90 km da capital mexicana.

"Jogo sujo"

"Algumas vítimas solicitaram uma reunião com Francisco, justamente para falar do nosso caso, mas também para apresentar algumas propostas que possam ser implementadas na igreja" mexicana, disse Romeno à AFP.

"Tem havido um jogo sujo entre a Igreja e o governo, que faz com que em nenhum dos casos tenha havido acesso à justiça", lamentou Romero.

"Eu tenho a esperança de que Francisco tomará a decisão certa e nos receberá", disse este psicólogo que pediu a reunião - juntamente com outras quatro vítimas - à nunciatura apostólica da Cidade do México, sem ter recebido resposta.

Romero admite que muitos de seus colegas acreditam que a reunião seria apenas um "golpe publicitário".

Um destes céticos é Alberto Athié, ex-sacerdote defensor das vítimas do poderoso Marcial Maciel, considerado um "ícone mundial da pedofilia" pela proteção que, dizem, recebeu de João Paulo II.

Este tipo de reunião em outros países se tornou "um ritual", mas a "pedofilia continua vigente durante o papado de Francisco", condenou Athié.

O Vaticano esclareceu na semana passada que o papa não previu reunir-se com as vítimas dos Legionários.

No entanto, organizações de Brasil, México, Bolívia, Argentina, Chile, Peru, República Dominicana, Estados Unidos e Canadá têm previsto enviar ao pontífice um documento para pedir a derogar um protocolo que estabelece os passos que devem seguir as autoridades eclesiásticas em caso de abusos sexuais.

Com este sistema, "o que fazem é mudar (o sacerdote pedófilo) de lugar, colocá-lo um tempo em terapia, mandá-lo (fazer) exercícios espirituais, penitências e, talvez, suspendê-lo de seu ministério quando o caso é muito exagerado", explicou Athié, ao condenar o protocolo.

Legionários em baixo perfil

Mas muitas outras vítimas, cansadas e decepcionadas, não têm fé nesta estratégia. É o caso do ex-legionário José Barba, vítima direta de Maciel.

A Barba "não lhe interessa, sabe que não vai acontecer nada e menos em um encontro em que (o papa) vai livrar a cara", diz Athié, coautor com ele de "La voluntad de no saber" (A vontade de não saber), um livro sobre a pedofilia.

Francisco estaria "obrigado a fazer uma menção" sobre a pedofilia no México e dos Legionários de Cristo, sobretudo depois de conceder-lhes, em outubro passado, a indulgência plena, considerou Berbardo Barranco, especialista em temas religiosos.

O especialista considera que, durante a visita de Francisco, a congregação de Maciel tentará manter um baixo perfil.

Os Legionários de Cristo participaram ativamente das cinco visitas do papa João Paulo II ao México e na feita em 2012 pelo emérito Bento XVI.

Em 2006, Maciel, que viveu junto com duas mulheres e teve filhos, foi destituído de seu ministério sacerdotal e forçado a se retirar e levar uma vida de oração e penitência.


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