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Estado de Minas

Ondas gravitacionais previstas por Einstein são detectadas, um marco para a física


postado em 11/02/2016 18:52

Em um marco para a física e a astronomia, cientistas de vários países anunciaram nesta quinta-feira ter detectado de forma direta as ondas gravitacionais, ondulações do espaço-tempo que foram previstas por Albert Einstein em 1915.

"Detectamos as ondas gravitacionais, conseguimos!", disse entre aplausos David Reitze, físico da Caltech (California Institute of Technology) e diretor do laboratório Ligo (Laser Interferometer Gravitational-wave Observatory).

O anúncio foi feito em coletiva de imprensa realizada em Washington.

As ondas foram detectadas em setembro do ano passado, após 50 anos de esforços, graças aos instrumentos do Ligo.

"Esta descoberta é o início de uma nova era; a era da astronomia das ondas gravitacionais já é uma realidade", disse Gabriela González, porta-voz da equipe Ligo e professora de astrofísica na universidade estatal de Louisiana.

"Graças a esta descoberta, a humanidade embarca na maravilhosa exploração dos lugares mais extremos do Universo, onde se formam objetos e fenômenos pela deformação do espaço-tempo", disse Kip Thorne, professor de física teórica na Caltech.

"Este passo marca o nascimento de um domínio inteiramente novo da astrofísica, comparável ao momento em que Galileu apontou pela primeira vez seu telescópio ao céu" no século XVII, disse France Cordova, diretora da Fundação Nacional Americana de Ciências (National Science Foundation), que financia o laboratório Ligo.

Dois buracos-negros se chocaram há 1,3 bilhão de anos. O cataclismo lançou estas ondas em todas as direções até que chegaram à Terra no dia 14 de setembro, onde foram captadas por instrumentos instalados nos Estados Unidos.

Esta descoberta foi feita em colaboração com equipes de investigação europeias, especialmente de França, Itália e Alemanha.

As ondas gravitacionais são produzidas por perturbações na trama do espaço-tempo pelos efeitos do deslocamento de um objeto de grande massa. Estas perturbações se deslocam na velocidade da luz em forma de ondas e nada as detêm.

Este fenômeno, previsto por Einstein há um século, costuma ser representado como a deformação que ocorre quando um peso repousa sobre uma rede. Neste caso, a rede representa no tecido do espaço-tempo.

O físico Benoît Mours, do CNRS, considerou que a descoberta é histórica porque permite "verificar de forma direta uma das previsões da teoria geral da relatividade".

- Buracos negros -

Por esta descoberta, os físicos determinaram que as ondas gravitacionais detectadas em setembro nasceram na última fração de segundo antes da fusão de dois buracos negros, objetos celestes ainda misteriosos que resultam do colapso gravitacional de estrelas gigantes.

A possibilidade de uma colisão entre esses corpos havia sido prevista por Einstein, mas o fenômeno nunca tinha sido observado.

De acordo com a teoria geral da relatividade, um par de buracos negros em que cada um orbita em torno do outro perde energia, produzindo ondas gravitacionais. São essas ondas que foram detectados em 14 de setembro do ano passado, exatamente às 13h51 (de Brasília).

Foi um momento inacreditável, contou David Reitze: "Não conseguia acreditar. Era bom demais pra ser verdade".

A análise dos dados nos permitiu determinar que estes dois buracos negros se fundiram cerca de 1,3 bilhões de anos atrás. Cada um deles tinha um tamanho entre 29 e 36 vezes mais massa do que o Sol, com um diâmetro de apenas 150 quilômetros.

A comparação dos momentos de chegada das ondas gravitacionais aos dois detectores Ligo (7,1 milissegundos de diferença) distantes 3.000 quilômetros um do outro, e o estudo das características dos sinais medidos, confirmaram a detecção.

Os cientistas sugerem que a fonte das ondas esteve provavelmente no hemisfério sul do céu, mas um número maior de detectores teria permitido estabelecer uma localização mais precisa.

"As primeiras aplicações que vemos agora são para os buracos negros, porque não emitem luz e não poderíamos vê-los sem as ondas gravitacionais", destacou o astrofísico David Shoemaker, responsável pelo Ligo no Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT), afirmando que por enquanto ainda não se sabe como crescem estes objetos, presentes no centro de quase todas as galáxias.

- Explorar o Universo -

Portanto, "as ondas gravitacionais podem ajudar a explicar a formação das galáxias", apontou Shoemaker.

"A gravidade é a força que controla o Universo e o fato de poder ver suas radiações nos permite observar os fenômenos mais violentos e fundamentais do cosmos, que de outra maneira seriam impossíveis de observar", disse à AFP Tuck Stebbins, chefe do laboratório de astrofísica gravitacional do centro Goddard, da Nasa.

Ser capaz de detectar essas ondas que viajam sem perturbação por milhões de anos torna possível voltar para o primeiro milissegundo do chamado Big Bang.

A descoberta provocou grande emoção na comunidade científica mundial. O professor de física Tom McLeish, da Royal Society de Londres e da Universidade de Durham, declarou que esta notícia o enchia de alegria.

"O último anúncio de importância similar remonta a 1888, quando Heinrich Hertz detectou as ondas de rádio previstas por James Clerk Maxwell nas equações sobre eletromagnetismo em 1865", escreveu.

Uma prova indireta da existência de ondas gravitacionais foi produzida pela descoberta, em 1974, de um pulsar e uma estrela de nêutrons que giravam uma em torno da outra em alta velocidade. Russell Hulse e Joseph Taylor ganharam o Prêmio Nobel de Física em 1993 por este feito.

A descoberta das ondas gravitacionais foi publicada na revista americana Physical Review Letters.


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