O desemprego voltou a cair na Espanha no terceiro trimestre, a 21,18%, segundo dados publicados na quinta-feira pelo governo, que deseja aproveitá-los a dois meses das eleições legislativas.
Este é o melhor resultado registrado desde a chegada do Partido Popular ao poder, em dezembro de 2011. Sua maior liderança, Mariano Rajoy, está concentrando sua campanha eleitoral na recuperação econômica e na criação de empregos. No entanto, os socialistas do PSOE e os liberais do Cidadãos fazem duras críticas à precariedade desses novos postos de trabalho.
O país, com a quarta economia da Eurozona, tinha 4,85 milhões de pessoas em busca ativa de emprego no terceiro trimestre, 298.200 a menos que no trimestre precedente, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE). Nos últimos 12 meses, o desemprego caiu em 576.900 pessoas.
"É um dado sem dúvida positivo, esperançoso, mas também que revela que ainda há muito por fazer", comentou o ministro da Economia, Luis de Guindos, em declaração à rádio Cadena Ser.
O executivo prevê que o desemprego retrocederá 21,1% até o final de 2015, em relação aos 23,7% do ano anterior.
Os outros partidos políticos não compartilham este otimismo, já que a Espanha continua tendo um dos piores índices de desemprego da Europa. Só a Grécia apresenta um resultado pior, com 25% em julho.
Cerca de 1,57 milhão de famílias espanholas tem todos os seus membros desempregados.
O secretário-geral do PSOE, Pedro Sánchez, denuncia uma precarização do emprego, enquanto o líder do partido de esquerda Podemos, Pablo Iglesias, promete uma renda mensal de 600 euros para as famílias que não têm renda e um complemento para os trabalhadores pobres.
O Cidadãos, de centro-direita, defende a ideia de um contrato único para pôr fim a um mercado de trabalho "com um núcleo duro de trabalhadores muito protegidos e trabalhadores temporários muito menos protegidos que nos Estados Unidos", explicou o economista Luis Garicano, artífice de seu programa econômico, em uma entrevista à AFP.
Menor população ativa
No terceiro trimestre houve duas vezes mais empregos criados com contratos temporários do que com contratos indefinidos.
"Isso tem impacto a mais longo prazo no tipo de atividades desenvolvidas no país", avalia Jesús Castillo, especialista da Natixis para o sul da Europa, na medida que "os empregos mais precários se beneficiam muito menos da formação".
Os jovens ativos de 16 a 25 anos têm grandes dificuldades para encontrar trabalho. Neste grupo de idade, a taxa de desemprego caiu quase três pontos percentuais, mas continua sendo muito alta: 46,6%.
Outro desafio importante é a reconversão dos desocupados, ressaltam os economistas.
"Como reconverter os desempregados desses setores pouco qualificados?", questiona Castillo.
O número de trabalhadores nesse setor continuou retrocedendo no terceiro trimestre, em 10.300, precedido pela agricultura (30.900), enquanto cresceu em serviços (210.200) e indústria (13.100).
Alfonso Novales, economista da universidade Complutense de Madrid, denuncia também a fraqueza do sistema de formação profissional e do acompanhamento aos desempregados. Na sua opinião, deve-se oferecer "mais cursos de formação muito específicos".
A professora Àngels Valls, da escola de administração de empresas ESADE, diz que a redução da população ativa, em 116.000 pessoas, "só se explica por aquelas pessoas que deixaram o mercado de trabalho por falta de expectativas".
Nesse contexto, não se sabe se Rajoy e o PP conseguirão convencer os espanhóis que a retomada do crescimento após 2014 após cinco anos de recessão e estagnação é motivo suficiente para reelegê-los nas eleições legislativas de 20 de dezembro.