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Estado de Minas

De Aleppo a Paris: a jornada de um imigrante sírio para fugir da guerra


postado em 26/06/2015 15:22

Para chegar a Paris saindo da cidade síria de Aleppo, Bilal Agha levou três meses e andou de barco, a pé, de trem e até de táxi, gastando 2.250 euros. Tudo isso para fugir da opressão e da guerra.

Em novembro de 2013, "deixei meu país rumo a Istambul, na Turquia, porque estavam me procurando. Participei das manifestações pela democracia, tinham me prendido quatro vezes. E era fácil cruzar a fronteira turca", conta Bilal.

Depois de conseguir asilo na França, esse ex-contador da Western Union em Aleppo, de 34 anos e com um filho de dois, vive agora na região de Paris.

"Mais ou menos em meados de janeiro de 2014, saí de Istambul com um traficante rumo a Esmirna", lembra. Seu objetivo: Mitilene, capital da ilha grega de Lesbos, em frente à costa turca.

"Paguei 1.000 euros para ir para a Grécia. Fugimos por volta da meia-noite a bordo de um barco a motor de 15 metros, com 32 passageiros, entre eles duas crianças e uma grávida. Alguns chegaram a pagar 1.500 euros", relata.

"Nenhuma pessoa a bordo sabia pilotar a embarcação. O motor parou no meio do mar. Entramos em contato com os traficantes, ligando para os celulares deles, mas não houve resposta", completa.

'Mitilene é Europa'

"Felizmente, um sudanês a bordo tinha o número de um organismo para o qual pudemos comunicar nossa latitude e longitude, e a Guarda Costeira grega nos salvou", lembra.

Às cinco da madrugada (horário local), Bilal desembarca. "Mitilene é a Europa. Para mim, é a cidade mais bonita do mundo", conta.

"Fiquei uma semana em um centro de detenção. O pessoal do Acnur (Alto Comissariado da ONU para os Refugiados) explicou nossos direitos como imigrantes sírios. Fomos para Atenas. Lá, podíamos dormir por 5 euros a noite, mas estava nervoso, havia muitos imigrantes. Então, pensei em ir para Paris. A França é um país civilizado. Tinham me dito que a Suécia é mais acolhedora, mas, para mim, Paris é Paris", continua.

Bilal segue, então, para Salônica, norte da Grécia, e vai andando para a Macedônia, com um grupo de 15 pessoas.

"Fomos noite adentro. Um paquistanês nos indicava o caminho. Chegamos a andar até 20 horas sem parar. Cruzamos vales, desfiladeiros. Foi muito difícil. Dormi em um bosque debaixo de chuva", relata.

Com uma rede de traficantes, ele embarcou clandestinamente na parte traseira de um caminhão com outros imigrantes. Foram três dias rumo à Sérvia sem ver a luz do dia.

"Quando nos fizeram descer do caminhão, estava completamente desorientado. Estávamos na Croácia. Vi uma placa escrito Zagreb. Nosso grupo se separou. Fiquei com um companheiro sírio", continua.

Um GPS e dois mapas

"Ao chegar a Liubliana, na Eslovênia, primeiro, tentamos ir para a Áustria para pegar o trem, mas fomos parados na fronteira. Ficamos retidos por três dias e, depois, eles nos deixaram ir, marcando para o dia seguinte para fazer nosso pedido de asilo. Meu companheiro ficou, eu segui meu caminho", relata.

"Eu me guiava pelo GPS do telefone celular e por dois mapas. Um táxi me levou para a estação de Trieste na Itália por 70 euros. De lá, peguei um trem para Milão", lembra.

"Vi que uma das primeiras cidades do lado francês se chamava Modane e procurei um ônibus", continua.

"Nevava em Modane. Fui para a gendarmeria. Eu disse a eles que estava fugindo da guerra e pedia asilo. Um tunisiano, detido, traduzia do árabe. Os gendarmes escreveram um relatório e tiraram minhas digitais. À meia-noite, eles me deixaram ir embora. Eu pedi para ficar preso por uma noite, porque não tinha para onde ir. Eles me deixaram dormir na cela, desde que eu fosse embora às 8h. No dia seguinte, peguei o trem. Cheguei à estação de Lyon, em Paris, em 18 de fevereiro de 2014".

Segundo a organização Migrants Files, o gasto médio dos imigrantes para chegar à Europa pelo leste do Mediterrâneo é de 2.000 euros. Pelo trecho Aleppo-Paris, Bilal pagou "2.250 euros" e levou três meses.


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