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Estado de Minas

Argentina se une para dar um basta ao feminicídio


postado em 03/06/2015 16:55

Da presidente Cristina Kirchner ao astro do futebol Lionel Messi, os argentinos aderiram ao slogan "Nem uma a menos" (Ni una a menos, em espanhol), para dar um basta ao feminicídio na Argentina, onde uma onda recente de crimes contra mulheres, praticados por companheiros ou ex-companheiros, chocou a sociedade.

A mobilização se concentrará em frente ao Congresso da Nação, em Buenos Aires, a partir das 17H00 (locais e em Brasília) e terá marchas similares em 24 províncias, além de Chile e Uruguai.

No centro de Santiago, uma centena de manifestantes - a maioria, mulheres - se concentravam desde o início da tarde em frente à sede do governo, exibindo cartazes com dizeres, como "Com luto e com raiva", em repúdio à violência de gênero.

"Chega de feminicídios. Hoje, todos os argentinos nos unimos para gritar bem alto, #NiUnaMenos", postou o craque Lio Messi no Facebook.

A presidente Kirchner advertiu para o que considera "uma cultura devastadora do feminino, qualquer que seja o seu lugar", em um comentário publicação nas redes sociais.

Kirchner questionou, inclusive, outras formas de "violência", como "a cantada grosseira, vil, baixa" e os programas de televisão que mostram "a mulher coisificada, peitos (seios) e bundas tocadas em público e medidas pelo Ibope", empresa que mensura a audiência da TV.

"A mulher transformada em objeto: e se, então, é apenas uma coisa, sempre haverá alguém que pensa que pode quebrá-la se não a tiver", acrescentou Kirchner.

A marcha deve ter uma participação maciça e contará com o apoio de organizações humanitárias, estudantis, judiciais, todos os partidos políticos e, inclusive, da Igreja Católica, culto majoritário na Argentina.

"Chega de violência contra a mulher! Nem uma a menos! Valorizemos e respeitemos a vida sempre, de ponta a ponta!", expressou a Ação Católica Argentina, uma organização laica, subordinada à Igreja, para convocar a marcha.

A reivindicação principal é que se aplique a lei de proteção integral contra a violência de gênero, aprovada em 2009, mas até agora sem uma regulamentação efetiva para proteger as mulheres vítimas de violência doméstica.

"Esta mobilização ocorre porque houve três feminicídios emblemáticos recentemente", explicou à AFP Fabiana Túñez, da ONG Casa do Encontro, que divulga cifras sobre feminicídios em um país sem estatísticas oficiais sobre o tema.

A gota d'água

Os casos que Túñez menciona são os de duas mulheres, uma esfaqueada em um jardim da infância na frente de seus alunos bebês, outra apunhalada em um bar da capital argentina em plena luz do dia e o de uma menina de 14 anos, grávida, cujo namorado queria obrigá-la a abortar.

Segundo a investigação, Chiara Páez, assassinada a pancadas pelo namorado de 16 anos, com a ajuda da família dele e enterrada no quintal da casa, desatou no mês passado a campanha #NiUnaMenos nas redes sociais.

"Isto marcou um ponto de inflexão social e político", disse Túñez.

Segundo esta ONG, em 2014, foram registrados na Argentina 277 feminicídios, deixando 330 crianças sem mãe. Isto significa que uma mulher morreu a cada 31 horas.

Nas redes sociais também foram divulgadas capas de veículos de comunicação, que retrataram Kirchner, caricaturizando-a com um tapa na cara ou uma pistola, acompanhando o título, "Isto também é violência de gênero".

A lei não é mágica

Desde 2012, a Argentina conta com uma lei que pune com a prisão perpétua o homem "que mate uma mulher ou uma pessoa que se perceba com identidade de gênero feminino".

Os organizadores consideram que só a lei não é capaz de conter este flagelo e exigem a aplicação de um plano de erradicação da violência e a elaboração de estatísticas oficiais.

Além disso, pedem uma reforma educacional para instruir, em todos os níveis, a problemática da violência de gênero e capacitar as pessoas a acompanhar as mulheres vítimas de violência, especialmente as que denunciam e são ameaçadas por isso.

Uma pesquisa, divulgada na terça-feira, pelo ministério de Desenvolvimento Social da prefeitura de Buenos Aires revelou que seis em cada dez mulheres disseram ter sido vítimas de violência psicológica e duas em cada dez denunciam ter sido agredidas.

A justiça conta com instrumentos para defender uma mulher ameaçada, mas agora tudo foi insuficiente.

Segundo Túñez, o debate sobre a aprovação da lei ajudou para a "conscientização da sociedade sobre o impacto que a violência de gênero tem. Antes se falava em crimes passionais. Agora, é violência de gênero", lembrou.


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