O ex-general golpista Muhammadu Buhari venceu com grande margem a eleição presidencial da Nigéria, ao derrotar o atual presidente, Goodluck Jonathan, na primeira alternância democrática na agitada história política do país desde sua independência.
"Nosso país se uniu à comunidade de nações que substituem o presidente por meio de uma eleição livre e honesta", declarou Buhari em seu primeiro discurso depois de ser eleito.
"Para mim, isso é algo realmente histórico", completou o general, que recebeu 53,95% dos votos.
Buhari afirmou nesta quarta-feira que o grupo islâmico Boko Haram será atacado até a derrota, depois de seis anos de influência crescente da organização no nordeste do território.
"Eu asseguro que o Boko Haram em breve perceberá a força da nossa vontade coletiva e do nosso compromisso para livrar essa nação do terror e trazer a paz de volta", completou.
"Não vamos poupar esforços até derrotar o terrorismo", prometeu o presidente recém-eleito.
Candidato da coalizão opositora APC (Congresso Progressista), Buhari derrotou o atual presidente Goodluck Jonathan, candidato do Partido Democrático Popular (PDP), que recebeu 44,96% dos votos, segundo a Comissão Eleitoral Independente.
Os resultados das eleições legislativas, realizadas juntas, ainda não foram divulgados. Segundo o calendário oficial, Buhari deve tomar posse em 29 de maio.
O PDP estava no poder desde 1999, ano da restauração da democracia na Nigéria, após um longo período de ditaduras militares. Desde a independência do país, em 1960, a Nigéria registrou seis golpes miliares.
Após comandar uma junta militar entre 1983 e 1985, Buhari, de 72 anos, um muçulmano do norte da Nigéria, garantiu durante a campanha eleitoral que se converteu à democracia. Esta foi a quarta candidatura presidencial de Buhari desde 2003.
Na terceira tentativa, em 2011, ele foi derrotado por Goodluck Jonathan, um cristão do sul da Nigéria.
"Prometi eleições livres e justas. Cumpri minha palavra", afirmou Jonathan, alegando que "nenhuma ambição pessoal justifica o derramamento de sangue dos nigerianos".
Em 2011, os incidentes posteriores à vitória de Jonathan deixaram quase mil mortos.
Buhari elogiou a generosidade do atual presidente, que ligou para reconhecer a derrota.
"Deixem-me dizer claramente: o presidente Jonathan não tem nada a temer de mim. Ele é um grande nigeriano e ainda é nosso presidente", declarou.
"A democracia e o Estado de direito serão estabelecidos no país. Deixemos o passado para trás, especialmente o passado recente. Devemos esquecer nossas velhas batalhas e os conflitos para seguir adiante", completou.
Ele lembrou ainda que a corrupção, um dos grandes flagelos da Nigéria, "não terá mais lugar".
Comunidade internacional elogia
Milhares de nigerianos celebraram nas ruas de Kano, a maior cidade do norte muçulmano, a vitória de Buhari. Nesse estado, ele recebeu mais de dois milhões de votos, contra 200 mil do adversário.
A comunidade internacional felicitou o vencedor.
O presidente da Comissão da União Africana, Nkosazana Dlamini-Zuma, disse que o resultado mostra a maturidade da democracia, não apenas na Nigéria, mas também no conjunto do continente africano.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, felicitou o presidente eleito e classificou sua vitória como "uma prova da maturidade da democracia na Nigéria".
União Europeia, França e Grã-Bretanha (antiga potência colonial) parabenizaram o vencedor. Londres destacou especialmente a importância de uma "transição pacífica".
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, também elogiou o vitorioso e o país africano por ter "respeitado os princípios democráticos".
De acordo com a nota divulgada pela Casa Branca, Obama considerou que o presidente Goodluck Jonathan "colocou os interesses de seu país em primeiro lugar ao reconhecer a derrota e felicitar o presidente eleito Buhari por sua vitória".
Nesta quarta, Obama telefonou para Buhari e para Jonathan, destacando "a liderança de ambos durante a eleição na Nigéria", completou a Casa Branca.
Já a conselheira de Segurança Nacional, Susan Rice, disse se tratar de um "histórico passo para a Nigéria e para a África".
Em nota, os chefes das missões de observadores internacionais - entre elas União Africana, Commonwealth e União Europeia - felicitaram a Nigéria e seu povo "por seu compromisso com uma resposta pacífica" ao anúncio dos resultados das eleições.
A eleição no país de maior população da África - 173 milhões de habitantes - é um importante símbolo para todo o continente, onde a questão da alternância pacífica e democrática aparece de forma recorrente, sobretudo, nos países governados por presidentes vitalícios, ou por dinastias familiares.
Em Burkina Faso, o presidente Blaise Compaoré, que estava há 27 anos no poder, foi derrubado por manifestações.
Em vários países, como Burundi, Ruanda, Benin, Congo e República Democrática do Congo, os chefes de Estado são suspeitos de querer permanecer no cargo, recorrendo, em alguns casos, a modificações da Constituição por interesse pessoal.
A Nigéria foi cenário há alguns anos de divisões políticas que estimularam as tensões étnicas e religiosas, o que provocou violentos protestos.
Desta vez, a eleição aconteceu com total tranquilidade, e o grupo islamita Boko Haram não conseguiu prejudicar a votação como havia prometido.