Agredido, com os olhos vendados e as mãos amarradas, o jornalista americano Simon Ostrovsky ficou detido durante quase três dias pelos separatistas do leste da Ucrânia em seu reduto de Slaviansk até a sua libertação nesta quinta-feira.
"Eles tinham uma foto minha, eles estavam me procurando", contou à AFP o repórter de 33 anos do site americano Vice News, por telefone enquanto era levado de carro para a cidade de Donetsk por seus colegas de profissão.
Libertado por volta das 18h00 locais (12h00 de Brasília), Ostrovsky chegou uma hora e meia depois a um hotel de Donetsk, onde atravessou o hall, com os óculos no nariz, a barba por fazer e um casaco marrom, e entrou no elevador, sem fazer declarações.
"Eu me sinto bem", disse por telefone. "Eles vieram me ver e me disseram para eu cuidar da minha vida", disse. Seus sequestradores devolveram seu material.
O jornalista contou que foi capturado na noite de segunda-feira por volta das 22h30 locais em um posto de controle perto da praça central de Slaviansk.
"No início, fui agredido, tive as mãos amarradas e colocaram uma faixa nos meus olhos", contou. "Depois de pouco mais de um dia, eles tiraram a faixa, desamarraram minhas mãos e depois me trataram normalmente".
-Jornalista "provocador"-
Simon Ostrovsky, que trabalhou para a AFP no Azerbaijão nos anos 2000, está no leste da Ucrânia para o site americano Vice News. Jornalista acostumado às zonas de conflito, do Cáucaso ao Oriente Médio, ele acompanhava a insurreição separatista na Ucrânia principalmente com vídeos sobre as invasões de prédios públicos pelos separatistas.
O Vice News confirmou a sua libertação, indicando que se encontrava "em bom estado de saúde".
O líder separatista de Slaviansk, Viatcheslav Ponomarev, havia negado a captura do jornalista afirmando que ele estava "a serviço" na sede dos serviços de segurança ucranianos, sob controle de pró-russos.
Mas pressionado pela imprensa, ele confirmou na quarta que Ostrovsky, chamado de "jornalista provocador", estava "em detenção provisória".
"Segundo nossas informações, ele é um informante do Pravy Sektor" (Setor Direita), grupo paramilitar nacionalista, disse Ponomarev à agência Interfax Ucrânia.
Na quarta-feira, Washington manifestou preocupação com o "sequestro" do jornalista e pediu que a Rússia usasse sua influência sobre os grupos para garantir a libertação imediata e em segurança de todos os reféns no leste da Ucrânia".
Na terça de manhã, três fotógrafos (um francês, um italiano e um bielorrusso) foram levados por pouco tempo depois de terem tirado fotos de uma barricada em Slaviansk. Seus cartões de memória foram verificados e seus passaportes, confiscados antes se sua libertação.
A organização de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional exigiu o fim imediato da "perseguição, do sequestro e da detenção de jornalistas", que, segundo ela, mostram "a impunidade atual em algumas partes do leste da Ucrânia".