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Estado de Minas

Relembre trechos das principais obras de Gabriel García Márquez


postado em 18/04/2014 06:00 / atualizado em 18/04/2014 07:35

(foto: YURI CORTEZ / AFP)
(foto: YURI CORTEZ / AFP)
“Escrever livros é uma profissão suicida. Nenhuma outra exige tanto tempo, tanto trabalho, tanta dedicação em comparação com os benefícios imediatos. Não acho que muitos leitores, quando acabam de ler um livro, se perguntam quantas horas de angústia e quantas calamidades domésticas aquelas 200 páginas custaram ao autor e quanto ele recebeu pelo trabalho. Depois dessa avaliação sombria de desventuras, é elementar perguntar por que nós, escritores, escrevemos. A resposta, de maneira inevitável, é tão melodramática quanto sincera. Alguém é um escritor apenas como alguém é judeu ou negro. O sucesso é encorajador, o favor dos leitores é estimulante, mas esses são meros ganhos ocasionais, porque um bom escritor continuará escrevendo de qualquer maneira, muito embora os sapatos precisem de remendos, e até mesmo se os livros não venderem.”
Gabriel García Márquez


Cem anos de solidão

"Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo. Macondo era então uma aldeia de vinte casas de pau a pique e telhados de sapé construídas na beira de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome, e para mencioná-las era preciso apontar com o dedo. Todos os anos, lá pelo mês de março, uma família de ciganos esfarrapados plantava sua tenda perto da aldeia e com grande alvoroço de apitos e tímbalos mostrava novas invenções. Primeiro levaram o ímã. Um cigano corpulento, de barba indomada e mãos de pardal, que se apresentou com o nome de Melquíades, fez uma truculenta demonstração pública do que ele mesmo chamava de oitava maravilha dos sábios da Macedônia."

Crônica de uma morte anunciada

"Santiago Nasar tinha um talento quase mágico para os disfarces, e a sua diversão predileta era baralhar a identidade das mulatas. Saqueava os guarda-vestidos de umas para disfarçar as outras, de maneira que todas acabavam por sentir-se diferentes de si próprias e iguais às que não eram. Certa ocasião, uma delas viu-se repetida noutra com tal acerto que sofreu uma crise de choro. ‘Senti que tinha saído do espelho’, disse. Mas naquela noite, Maria Alejandrina Cervantes não permitiu que Santiago Nasar se deleitasse pela última vez com os seus artifícios de travesti, e fê-lo com pretextos tão frívolos que o mau sabor dessa recordação mudou toda a sua vida. Foi assim que agarramos nos músicos e os levamos para uma rusga de serenatas, e continuamos a pândega por nossa conta, enquanto os gêmeos Vicário esperavam Santiago Nasar para matá-lo."

Memórias de minhas putas tristes

"A casa renascia de suas cinzas e eu navegava no amor de Delgadina com uma intensidade e uma felicidade que jamais conheci em minha vida anterior. Graças a ela enfrentei pela primeira vez meu ser natural enquanto transcorriam meus noventa anos. Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem da minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do zodíaco."


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