(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Chilenos exigem fim dos segredos sobre o regime Pinochet, 40 anos após o golpe


postado em 08/09/2013 00:12 / atualizado em 08/09/2013 07:33

Um Chile cheio de questionamentos sobre o passado e ávido por mudanças marca o quadragésimo aniversário do golpe militar que depôs o presidente socialista Salvador Allende e mergulhou o país andino em uma ditadura que durou 17 anos e matou mais de 3,2 mil pessoas. Manifestações espalharam-se pelas ruas do país na última semana e devem aumentar na quarta-feira, quando a tomada de poder liderado por Augusto Pinochet completará quatro décadas. Segundo especialistas, cresce o clamor dos chilenos para conhecer toda a verdade sobre o regime opressor e poder, enfim, cicatrizar as feridas.

Em 11 de setembro de 1973, o general orquestrou o bombardeio por terra e ar ao Palácio Presidencial de La Moneda. Assumiu o governo com mão pesada para os opositores, provocou avanços econômicos, mas trouxe uma evolução desigual e um sistema político pouco representativo. Pinochet conseguiu fazer a economia decolar após a privatização da saúde, da educação, do sistema previdenciário e de uma abertura quase total da economia para o exterior. O Chile está prestes a bater uma renda per capita de US$ 20 mil anuais, a mais alta da região, mas as disparidades sociais persistem.

"Hoje, nós vemos outro país. Um país que resolveu sair para protestar por diferentes demandas (...), com um maior grau de consciência e uma definição clara de que se tem de mudar tudo o que foi herdado da ditadura. Isso nos faz enfrentar os 40 anos de uma maneira completamente diferente", avalia a presidente do Grupo de Familiares de Detidos-Desaparecidos, Lorena Pizarro.

Para o sociólogo Alberto Mayol, autor do livro El derrumbe del modelo (O colapso do modelo), a herança de Pinochet está em xeque. "Essa comemoração nos encontra no final de um ciclo político que nasceu na ditadura, continuou na transição e que, hoje, objetivamente, está acabando", analisa. Quase sempre marcados por embates com a polícia, os protestos regulares organizados por estudantes chilenos são uma prova desse movimento. Ao som de "E vai cair... e vai cair... a educação de Pinochet!", a sociedade civil chilena exige mudanças em um sistema econômico situado no extremo liberal, avalia Mayol.

NAS URNAS O resultado da disputa da próxima eleição presidencial, marcada para 17 de novembro, pode sacramentar esse movimento de mudança. A candidata socialista e ex-presidente Michelle Bachelet segue em disparada nas pesquisas defendendo uma profunda reforma política, o que incluiria a elaboração de uma nova Constituição, deixando para trás a que foi imposta por Pinochet em 1980. Por outro lado, a principal adversária de Bachelet e representante da direita, Evelyn Matthei, pretende manter e aprimorar o modelo a fim de superar as desigualdades.

Por uma ironia do destino, a campanha eleitoral coloca em campos opostos duas mulheres que compartilharam a infância, mas que tomaram diferentes caminhos após o fatídico 11 de setembro. Os pais de Bachelet e Matthei eram amigos e generais da Força Aérea. Enquanto Alberto Bachelet foi detido no dia do golpe por se manter leal a Allende, morrendo meses depois vítima de torturas, Fernando Matthei integrou a junta militar de Pinochet e fez parte do círculo íntimo do ex-ditador.

MEMÓRIA


Regime de atrocidades

A ditadura instalada no Chile após o golpe militar de 1973 foi marcada por atrocidades que até hoje assombram o país andino. A estrutura de opressão montada pelo general Augusto Pinochet incluiu o uso de armas químicas, a formação de alianças com nazistas e até uma explosão de um carro-bomba a poucos quarteirões da Casa Branca, matando, no EUA, em 1976, o ex-chanceler chileno Orlando Letelier. Ao longo dos 17 anos de ditadura, 3,2 mil pessoas morreram e pelo menos 38 mil foram torturadas. Pinochet construiu um campo de concentração, semelhante aos usados pelos nazistas, em uma remota ilha no Estreito de Magalhães, a maior passagem natural entre os oceanos Atlântico e Pacífico. Além de resistir a temperaturas abaixo de zero, os prisioneiros eram submetidos a trabalhos forçados e dormiam em celas superlotadas. A ditador recorreu a armas químicas, como o gás sarin, em
conflitos com países
vizinhos e opositores.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)