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Estado de Minas

Oposição alemã pressiona Merkel

Escândalo sobre vigilância americana alimenta ataques, a dois meses de eleição quase garantida para a chanceler


postado em 21/07/2013 06:00 / atualizado em 21/07/2013 08:05

A chefe de governo e líder da União Democrata Cristã acena a partidários no fim do comício em St. Peter-Ording, no Norte da Alemanha(foto: MARCUS BRANDT/DPA/Afp)
A chefe de governo e líder da União Democrata Cristã acena a partidários no fim do comício em St. Peter-Ording, no Norte da Alemanha (foto: MARCUS BRANDT/DPA/Afp)

 

A chanceler (chefe de governo) da Alemanha, Angela Merkel, despediu-se ontem de Berlim, para as férias de meio de ano, sob uma saraivada de ataques da oposição, que uma vez mais cobrou explicações sobre o rastreamento de comunicações privadas (e oficiais) pela Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos. A dois meses de lutar nas urnas pelo terceiro mandato consecutivo, Merkel não demonstra preocupação excessiva com as pesquisas: graças ao desempenho da economia, um oásis de estabilidade em meio à crise europeia, a chanceler é, de longe, a política mais respeitada pelos alemães. Seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), lidera as pesquisas de intenção de voto com margem folgada sobre o Partido Social Democrata (SPD), o principal da oposição. Mas o fraco desempenho do Partido Liberal Democrata (FDP), sócio na coalizão de governo, pode deixar a favorita dos eleitores sem parceiros com quem compor maioria na próxima legislatura do Bundestag (parlamento).

Pressionada a reagir com mais firmeza àquilo que os adversários apontam como uma "inaceitável violação dos direitos fundamentais dos cidadãos", Merkel aproveitou uma entrevista coletiva para, uma vez mais, assegurar que seu governo cobrou explicações do aliado Barack Obama. "Estamos fazendo a pressão necessária. Deixamos claro que é importante nos darem respostas às perguntas que formulamos", afirmou. "Essa foi uma demonstração assustadora de falta de ideias e desamparo", respondeu o líder do SPD, Peer Steinbrück, que corre contra o tempo para avançar cerca de 10 pontos percentuais nas pesquisas, ao lado dos aliados Verdes. "O governo está completamente perdido nessa questão da proteção de dados", reforçou o porta-voz dos ecologistas para assuntos de política interna, Konstantin von Notz. "A chanceler não compreende que se trata de um direito fundamental do cidadão na era da internet."

Diante da pressão, Merkel sugeriu, em entrevista, a criação de um acordo mundial sobre a proteção de informações e dados pessoais. O Brasil também é um defensor de que órgãos internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), formulem uma estrutura jurídica sobre o tema. Ao ser questionada sobre a possibilidade de haver um acordo mundial sobre a proteção de dados similar ao protocolo de Kyoto sobre as mudanças climáticas, a chanceler respondeu à revista Welt am Sonntag que “esse deve ser o nosso objetivo”. "Nós deveríamos ser capazes de assinar acordos mundiais em pleno século 21 (...). Se a comunicação digital traz à tona questões em todo o mundo, então nós devemos aceitar o desafio. A Alemanha vai se empenhar para isso", disse.

O esforço da coalizão de esquerda se explica pela aritmética das pesquisas, combinada às regras do jogo eleitoral alemão. Em resumo, a CDU e sua seção da Baviera, a União Social Cristã (CSU), sustentam há meses um patamar de 40% das intenções de voto. Somados, SPD e Verdes jamais ultrapassaram essa marca. A incógnita está no destino dos liberais, aliados da democracia cristã: no histórico das sondagens, o FDP oscila em torno do patamar de 5%, votação mínima exigida para ingressar no Bundestag pela votação proporcional, segundo as normas do voto distrital misto (leia o Saiba mais). Com o FDP fora do parlamento, nenhum dos dois blocos terá maioria para governar. Dois outros fatores tornam o quadro ainda mais complicado: o partido A Esquerda, formado por ex-comunistas da antiga Alemanha Oriental e dissidentes do SPD, que aparece em torno de 10%; e os Piratas, legenda de protesto que também corre atrás dos 5%.

Nas seis décadas do pós-Segunda Guerra Mundial, a Alemanha manteve um quadro partidário estável, com a CDU/CSU e o SPD disputando a hegemonia e o FDP como fiel da balança. Nos anos 1980, porém, o sistema tripartidário foi sepultado pela emergência dos Verdes, formação ecopacifista que, no fim da década seguinte, chegou ao governo como sócia menor em uma coalizão com o SPD.

O jogo de alianças foi novamente alterado a partir de 2005, quando a Esquerda superou a cláusula de barreira. Com cinco partidos no Bundestag, e com um veto não pronunciado a coalizões com os esquerdistas, a maioria parlamentar tornou-se inatingível tanto para o bloco CDU/CSU-FDP quanto para SPD-Verdes. Angela Merkel, vencedora da eleição, teve de se compor com os adversários social-democratas, em um governo que conduziu o país em ritmo de impasse até 2009, quando os liberais recuperaram terreno e voltaram ao gabinete. A "grande coalizão", como é chamada, pode perfilar-se novamente como a única opção de governabilidade agora, justamente quando a crise exige da locomotiva econômica europeia uma direção clara e estável.


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