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Estado de Minas

Aliança estremecida

Em reação a denúncias de grampo, França ameaça vetar tratado com os EUA e Alemanha cita clima de Guerra Fria


postado em 02/07/2013 00:12 / atualizado em 02/07/2013 08:30

Renata Tranches


Brasília – A França e a Alemanha reagiram fortemente, ontem, às revelações de que foram alvo de espionagem dos Estados Unidos, e ameaçaram bloquear as negociações sobre o amplo tratado de livre comércio entre a União Europeia e Washington. As conversações estão previstas para começar na próxima segunda-feira. As novas informações foram divulgadas pelos jornais Der Spiegel (Alemanha) e The Guardian (Reino Unido), e apontaram que instituições da União Europeia (UE) e pelo menos 38 representações diplomáticas de "aliados americanos" foram espionados por programas secretos de vigilância dos EUA. Em alguns casos, até mesmo escutas telefônicas foram colocadas em órgãos da UE.

Da Tanzânia, onde está em viagem oficial, o presidente norte-americano, Barack Obama, afirmou que seu governo investigará as novas denúncias feitas pela imprensa e fornecerá "todas as informações" aos líderes europeus. Na tentativa de minimizar a crise, o líder declarou que "todas as partes envolvidas investigam umas às outras, sistematicamente". As revelações, atribuídas a um relatório de 2010 vazado pelo ex-colaborador da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) Edward Snowden, fizeram surgir um clima de animosidade entre Washington e seus principais aliados. As reações começaram no domingo.

O especialista em temas europeus da Universidade Fernando Pessoa (Portugal) Paulo Vila Maior avaliou que, se confirmada, a atuação dos serviços secretos dos EUA na Europa poderá causar um "terremoto" nas relações transatlânticas. "Não dá para entender as razões que teriam levado os serviços secretos dos EUA a espionarem não apenas serviços e instituições da União Europeia, mas embaixadas de seus países-membros. É muito estranho, e devo confessar que fiquei muito surpreso", disse.

O novo capítulo da crise causada pelas revelações de Snowden pode afetar as negociações do ambicioso tratado de livre comércio entre o bloco europeu e os EUA. O presidente francês, François Hollande, cujo país já havia colocado condições para aceitar o acordo, afirmou que o vetará, caso não receba garantias, por parte dos americanos, de que seus aliados não serão mais espionados. Segundo o presidente, a França "não pode aceitar esse tipo de comportamento". "As provas reunidas são suficientes para exigirmos explicações", disse, em declarações citadas pelo americano The New York Times.

DESCONFIANÇA
O francês foi o primeiro líder europeu a responder com mais veemência às suspeitas de espionagem. Logo em seguida, foi a vez de o governo alemão reagir. Segundo a Der Spiegel, as atividades mais intensas de vigilância tiveram como alvo a Alemanha – pelo menos 500 milhões de telefonemas, e-mails e mensagens de texto no país foram espionados. A chanceler (chefe de governo) alemã, Angela Merkel, por meio de seu porta-voz, rechaçou o que chamou de um comportamento herdado da Guerra Fria. "Se for confirmado que representações diplomáticas da União Europeia e países europeus foram espionados, vamos claramente dizer que grampear amigos é inaceitável", disse o porta-voz Steffen Seibert. "Não estamos mais na Guerra Fria." Ele acrescentou que o clima de confiança deve ser restabelecido para o avanço nas negociações do acordo transatlântico histórico.

Esse também foi o tom do Parlamento Europeu. Políticos da UE exigiram explicações e consideraram que as futuras discussões podem ficar ameaçadas. O presidente do Parlamento, o alemão Martin Schulz, afirmou estar "profundamente preocupado" e "chocado" com as alegações. Schulz exigiu esclarecimentos dos EUA, assim como outras autoridades do bloco.


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