(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Videla levou para o túmulo segredos sobre desaparecidos na Argentina

Ex-chefe do exército foi o primeiro presidente depois do golpe militar de 1976, quando se instaurou uma ditadura que durou até 1983 e deixou 30 mil desaparecidos e 500 crianças sequestradas


postado em 18/05/2013 17:52 / atualizado em 18/05/2013 18:48

Videla morreu na sexta-feira, aos 87 anos, na prisão de Marcos Paz, onde cumpria duas penas de prisão perpétua e uma de 50 anos de prisão por violações dos direitos humanos(foto: REUTERS/Enrique Marcarian/Files )
Videla morreu na sexta-feira, aos 87 anos, na prisão de Marcos Paz, onde cumpria duas penas de prisão perpétua e uma de 50 anos de prisão por violações dos direitos humanos (foto: REUTERS/Enrique Marcarian/Files )
O falecido ex-ditador argentino Jorge Videla será sepultado sem ter revelado os segredos sobre os desaparecidos no regime de fato (1976-83), enquanto organismos humanitários reclamam que se rompa o pacto de silêncio de dezenas de milhares que são julgados por crimes contra a humanidade.


O corpo de Videla, falecido na sexta-feira aos 87 anos na prisão de Marcos Paz (40 km a sudoeste de Buenos Aires), onde cumpria duas penas de prisão perpétua e uma de 50 anos de prisão por violações dos direitos humanos, foi transferido para o Necrotério Judicial de Buenos Aires para ser submetido a uma autópsia, embora ainda seja um mistério onde e quando será enterrado.


O enterro será celebrado sem honras militares porque o ex-chefe do Exército foi destituído de sua patente de tenente-general. Além disso, uma resolução oficial de 2007 proibiu dar honras militares aos condenados por violações dos direitos humanos.


Apenas 18 avisos fúnebres públicos foram publicados no sábado na imprensa pela morte de Videla, que foi encontrado sem vida "sentado no sanitário de sua cela" na prisão, segundo o informe que o Serviço Penitenciário Federal enviou à Justiça e ao qual a AFP teve acesso.


Videla foi o primeiro presidente de fato depois do golpe militar que depôs o governo constitucional de Maria Estela Martínez de Perón de 24 de março de 1976, quando se instaurou uma ditadura que durou até 1983 e deixou 30.000 desaparecidos, segundo organismos humanitários, e 500 crianças roubadas.


O ex-ditador enfrentava um julgamento pelo Plano Condor, sob o qual as ditaduras sul-americanas nos anos 1970 coordenavam suas operações repressivas, e que prosseguirá "em relação aos demais imputados", disse à AFP Miguel Osorio, promotor que investiga os delitos no âmbito desta aliança das cúpulas dos regimes de fato.


No entanto, "dos 106 casos que compreendem esta causa, 44 não poderão ser julgados por Videla ser o único imputado. Também era processado em outras nove causas", destacou neste sábado a ONG Centro de Estudios Legales e Sociais (Cels).


Um 'apelo a romper os pactos'

Os organismos humanitários e todo o espectro político argentino, apesar de estar agora abertamente enfrentado, se uniram no repúdio ao ex-ditador e lamentaram que tenha morrido sem ter revelado os segredos guardados sobre os desaparecidos e as crianças roubadas.

O ex-juiz León Arslanian, que integrou o tribunal que julgou as juntas militares em 1985 e condenou Videla à prisão perpétua, afirmou neste sábado que o ex-governante de facto "tenha levado para o túmulo segredos sobre cada uma das operações militares na ditadura e sobre o destino das pessoas desaparecidas".

"As forças armadas, quando organizaram isto, o fizeram de um modo muito planejado, com ordens operacionais, com divisão de funções, com papéis. E de cada ação militar que se realizava se faziam atuações, se deixava constância e certamente que havia registros", afirmou o jurista à Rádio Mitre.

Nora Cortiñas, da organização humanitária Mães da Praça de Maio, da Linha Fundadora, disse que ditadores como Videla "morrem e levam os segredos mais importantes da história". No mesmo sentido, Paula Maroni, da organização Filhos de Desaparecidos, confiou em que a morte de Videja "seja o chamado a romper os pactos e dizer a verdade porque é um direito para que as mães possam recuperar os corpos de seus filhos".

Nenhum dos mais de cem de militares reformados que passaram pelos tribunais rompeu este pacto, inclusive Videla, que em sua última aparição perante o tribunal que o julgava pelo Plano Condor desconheceu a justiça civil. "Como o fiz antes, quero manifestar que este tribunal carece de competência e jurisdição para me julgar pelos casos protagonizados pelo Exército na luta antisubversiva", disse Videla na terça-feira, em sua última aparição pública.

'Sete mil ou oito mil deviam morrer'

Uns 350 campos clandestinos de torturas e extermínio distribuídos em todo o país funcionaram durante a ditadura, para onde foi levada a grande maioria dos 30.000 desaparecidos naquela etapa, segundo organismos humanitários. No livro "Disposición Final", publicado em 2012, Videla admitiu pela primeira vez que o regime fez desaparecer "sete mil ou oito mil pessoas" para evitar protestos dentro e fora do país.

"Digamos que eram sete mil ou oito mil as pessoas que deviam morrer para vencer a guerra contra a subversão", disse Videla ao jornalista Ceferino Reato, que o entrevistou durante 20 horas entre outubro de 2011 e março de 2012. Videla tinha sido condenado à prisão perpétua junto com o comandante da Marinha Emilio Massera, no histórico Julgamento das Juntas de 1985, que levou ao banco dos réus integrantes de três das quatro juntas militares que governaram a Argentina entre 1976 e 1983.

Ele foi indultado em 1990 pelo ex-presidente Carlos Menem (1989-99) e voltou a ser detido em 1998 com prisão domiciliar por um processo de roubo de bebês. Em 2010, a Suprema Corte da Justiça deixou firme a nulidade dos indultos. Em 2008, o ex-ditador foi levado a uma prisão em um quartel militar, até que finalmente em 2012 foi levado à prisão comum de Marcos Paz, onde estão detidos os condenados pelos crimes contra a humanidade.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)