(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Crise coreana irrita a China

Presidente chinês, Xi Jinping alerta a Coreia do Norte e diz que ninguém pode lançar o mundo no caos, evidenciando desgaste entre aliados. Seul espera novo teste de míssil


postado em 08/04/2013 00:12 / atualizado em 08/04/2013 08:29

Rodrigo Craveiro

 

Soldados norte-coreanos participam de treinamento de tiro ao alvo em foto do ministro de Defesa da Coreia do Sul, Kim Kwan-jin(foto: KCNA VIA KNS / KCNA / AFP)
Soldados norte-coreanos participam de treinamento de tiro ao alvo em foto do ministro de Defesa da Coreia do Sul, Kim Kwan-jin (foto: KCNA VIA KNS / KCNA / AFP)

 Brasília – “Ninguém deveria ter a permissão de lançar uma região, e mesmo o mundo inteiro, no caos em troca de ganhos egoístas." Mais do que uma mudança de postura de Pequim, as palavras do presidente chinês, Xi Jinping, sugerem a frustração e a falta de paciência do principal aliado da Coreia do Norte com a escalada da retórica belicista do ditador Kim Jong-un. "Enquanto persegue seus próprios interesses, um país deveria acomodar os interesses legítimos de outros", acrescentou Xi. No discurso, proferido durante a abertura do Fórum Boao para a Ásia, ele evitou citar o regime de Pyongyang.

 O alerta a Kim coincidiu com um alerta da Coreia do Sul sobre uma iminente "provocação" ou lançamento de míssil, por parte do país vizinho. Kim Jang-soo, diretor de Segurança Nacional da presidente Park Geun-hye, afirmou que Pyongyang deve fazer um teste com um provável míssil Musudan antes de quarta-feira. A data coincide com o prazo dado pelo regime comunista para a retirada de diplomatas estrangeiros da capital. "Não há sinais de uma guerra em grande escala agora, mas o Norte terá que se preparar para executar represálias no caso de uma guerra local", declarou Kim Jang-soo. Com alcance de 3 mil quilômetros, o míssil Musudan poderia atingir o Japão. No entanto, com uma carga leve, é capaz de viajar 4 mil quilômetros e destruir um alvo na ilha de Guam, a 3.380km da costa norte-coreana, onde vivem 6 mil soldados norte-americanos.

 Professor de relações internacionais da University of Southern California, em Los Angeles, David Kang admite que a China experimenta uma frustração crescente com a Coreia do Norte. "Ainda que não esteja disposta a aplicar uma pressão real sobre Pyongyang, ela mostra uma irritação visível com o regime de Kim Jong-un", afirmou por e-mail. "Mas não creio numa mudança fundamental na política chinesa em relação à Coreia do Norte." O autor de China rising: Peace, power and order in East Asia (A ascensão da China: Paz, poder e ordem no leste da Ásia, na tradução literal) aposta que Pequim prioriza a estabilidade à desnuclearização na Península Coreana. "É improvável que os chineses implementem sanções econômicas, por exemplo", opinou Kang. De acordo com ele, a crise na Península Coreana tem desviado a atenção da China de áreas da política externa cruciais para o país.

 Kang considera plausível que Pyongyang faça um novo teste com míssil, como forma de avaliar suas capacidades técnicas. “Muitos dos testes com mísseis de longo alcance fracassaram, mas eles têm melhorado. O próximo lançamento envolveria um projétil de médio alcance. Apesar de provocativo, não seria algo novo”, comenta. Para o especialista, o fato de os EUA levarem a sério as ameaças norte-coreanas inviabiliza um ataque preventivo. “Os dois lados estão ‘impedidos’ de atacar, a situação é estável e há muita palavra e pouca ação.”

 “Os chineses estão lenta, mas determinadamente, intensificando a pressão sobre a Coreia do Norte. Eles não querem uma guerra na região e, enquanto o risco aumentar, provavelmente tentarão demover Pyongyang de um conflito”, garantiu Steven Weber, professor de ciência política e relações internacionais da Universidade da Califórnia-Berkeley. O analista garante que Pequim não deseja o colapso do país vizinho e faz um alerta. “Esta poderá ser uma semana complicada. No entanto, muito em breve, todos os lados buscarão uma saída, pois o perigo de um conflito cresce para além de sua tolerância”, disse à reportagem.

 Fontes do governo do Japão, citadas pela agência espanhola EFE, confirmaram que suas forças de autodefesa ativarão o protocolo para neutralizar uma possível ameaça de Pyongyang — o que incluiria a prontidão de destróieres (navios de guerra) equipados com o sistema antimísseis balísticos Aegis.

 Em entrevista por e-mail, Roberto Colin, embaixador do Brasil em Pyongyang, contou que a capital norte-coreana está “aparentemente calma”. “Alguns conhecidos estiveram no interior do país e disseram nada ter visto de incomum”, comentou. Ontem, os chefes de missões diplomáticas foram convidados pelo Exército Popular da Coreia para uma reunião. “Um general disse que toda essa escalada é responsabilidade exclusiva dos EUA, que trouxeram para a Península Coreana submarinos nucleares e bombardeiros B-52 e B-2, transformando a região em vitrina dos mais modernos armamentos e criando uma situação extremamente tensa”, relatou Colin. “O oficial salientou que o país não deseja a guerra, mas que está preparado para responder a provocações”, acrescentou o embaixador.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)