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Estado de Minas

Jogo de xadrez da sucessão

Chavistas capitalizam a comoção popular para reforçar a candidatura de Nicolás Maduro e fazem alerta à imprensa privada contra provocações. Oposição procura se manter unida


postado em 08/03/2013 00:12 / atualizado em 08/03/2013 07:21

Gabriela Freire Valente


Brasília – A relação tempestuosa entre a imprensa venezuelana e o regime bolivariano, uma das marcas dos 14 anos de governo de Hugo Chávez, voltou ontem à cena em meio à comoção popular pela morte do presidente – e ameaça projetar sombras no processo sucessório. O chanceler Eliás Jaua advertiu ontem os meios de comunicação para que tratem com cautela as informações sobre o líder e evitem análises políticas "que possam provocar o povo" e gerar "situações de violência". Segundo Jaua, "a direção político-militar da Revolução Bolivariana está fazendo os maiores esforços para canalizar a dor da população". O vice-presidente Nicolás Maduro, candidato do chavismo na eleição a ser convocada nos próximos 30 dias, reforça o vínculo de sua imagem com o presidente morto na terça-feira, enquanto a oposição se manifesta com timidez.

De acordo com o jornal El Universal, o presidente da Mesa de Unidade Democrática (MUD), Pedro Meléndez, voltou a clamar pela "reconciliação nacional" e pelo diálogo, para que a Venezuela "siga adiante com a democracia". Apesar de integrantes da coalizão opositora terem confirmado à agência Reuters a candidatura de Henrique Capriles, governador do estado de Miranda, Meléndez afirmou que a escolha continua em discussão. "Essas condições se referem a uma estratégia política e eleitoral que se constrói com a morte do presidente eleito", declarou.

Uma sondagem feita pela consultora Hinterlaces, antes da morte de Chávez, apontava 50% de intenção de voto para Maduro e apenas 36% para Capriles. Nessas condições, Luiz Fernando Ayerbe, coordenador do Instituto de Estudos Econômicos Internacionais da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), explica que o papel dos antichavistas no pleito se resumirá a sinalizar que há forças sociais contrárias ao governo e buscar o fortalecimento para eleições futuras. "É um momento muito complicado, pois, com apenas 30 dias, é muito difícil organizar uma campanha", avalia Ayerbe.

A oposição enfrenta ainda o desafio de se reestruturar, depois de ter perdido parte do poder de mobilização nas eleições passadas. Para Kenneth Roberts, professor de ciência política da Universidade Cornell, em Nova York, a ausência de Chávez deixa um vazio também para seus adversários. "As forças de oposição se uniram para desafiá-lo nas recentes eleições, mas permanecem fragmentadas", escreveu ele, em artigo publicado na publicação Comparative Politics.

Em meio à indefinição que cercou a agonia do presidente, a estratégia da oposição foi culpar Maduro — como chefe do governo, na ausência de Chávez — pelas dificuldades econômicas do país. Ontem, o Banco Central da Venezuela (BCV) informou que a inflação acumulada nos primeiros dois meses de 2013 é de 5%, o dobro do registrado no mesmo período do ano passado. Para Ayerbe, professor da Unesp, Maduro terá outras preocupações além das críticas sobre a economia. "O desafio é muito mais interno. Ele terá de se firmar como líder, já que não tem unanimidade dentro do próprio chavismo", explicou.

DIPLOMACIA Nas relações exteriores, Ayerbe acredita que Maduro não enfrentará grandes impasses, uma vez que comandou a pasta por cerca de seis anos e acumulou bons contatos com diversos chefes de Estado. Ayerbe minimizou o episódio da expulsão de adidos militares americanos, na terça-feira, dia da morte de Chávez. "Isso foi visto mais como uma manifestação a fim de marcar posição ideológica", afirmou. Na quarta-feira, uma fonte do Departamento de Estado norte-americano afirmou que estão sendo avaliadas represálias. "Obviamente, temos o direito de reagir", disse o funcionário.

Paralelamente, Washington parece trabalhar com a perspectiva de que a transição favoreça, a médio prazo, uma cautelosa normalização das relações bilaterais. "Continuamos aspirando a uma relação mais produtiva e funcional. Acreditamos que podemos cooperar em interesses comuns, como a luta contra o narcotráfico", declarou o mesmo funcionário do Departamento de Estado.


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