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Estado de Minas

Recolhimento para orar

Moradores e turistas prestam homenagem derradeira a Bento XVI em Castel Gandolfo


postado em 01/03/2013 00:12 / atualizado em 01/03/2013 06:42

Diego Amorim
Enviado especial



Castel Gandolfo – No domingo, quando rezava o Angelus de despedida para 150 mil pessoas na Praça de São Pedro, o então papa Bento XVI disse que o Senhor o chamava a subir o monte para rezar. Pois foi exatamente isso que ele fez ontem, três horas antes de abandonar o cargo máximo da Igreja Católica. A nova morada do agora papa emérito, em Castel Gandolfo, fica no ponto mais alto de uma colina, a 450 metros do nível do mar.

Cerca de 10 mil pessoas – 3 mil a mais que o total de habitantes da província – tomaram para si o chamado direcionado a Bento XVI e, no início da tarde, começaram a encarar intermináveis ladeiras e escadarias. Lá em cima, se espremeram na única ruela onde é possível avistar a nova sacada do alemão. Enquanto se acotovelavam à espera do helicóptero que o trazia do Vaticano, a quase 30 quilômetros de distância, os fiéis repetiam ave-marias e pai-nossos.

A cada badalada de sino, ouviam-se gritos de Benedicto, como o ex-pontífice é chamado na Itália. Até uma ladainha foi rezada pelos peregrinos, que tiveram de dividir espaço com um batalhão de jornalistas e vendedores de souvenir. Celulares, máquinas e tablets estavam a postos, com foco na principal janela da tradicional residência de verão dos papas. De seus apartamentos, os vizinhos também registravam toda a movimentação.

APLAUSOS Quase meia hora após decolar da Praça de São Pedro, exatamente às 17h28 (13h28 no horário de Brasília), Bento XVI surgiu para saudar e se despedir daqueles que, como ele, subiram o monte. Com os braços erguidos em direção ao povo, ele viu os peregrinos o aplaudirem por 40 segundos, um terço do tempo em que permaneceu na sacada. Só conseguiu começar a falar, aparentemente com um raríssimo improviso, na segunda tentativa.

Aquela, sim, era a última aparição pública de Bento XVI como pontífice. Logo depois, quando as cortinas fechassem, já no alto do monte, ele poderia, enfim, se isolar para rezar. O rápido discurso terminou com uma benção, recebida por bebês, crianças, jovens, idosos, famílias inteiras. "Buona notte", desejou ele, em italiano, concluindo a fala, antes de se recolher no interior da casa com vista para Roma, para o belíssimo Lago Albano e para o mar, no horizonte.

Disputados por cinegrafistas e fotógrafos do mundo inteiro, os brasileiros Sylvia e Tiago Padilha chamaram a atenção por estarem com os filhos no colo: Joaquim, de 3 anos, e João, de 1. A família, que vive em Maceió, viajou a Castel Gandolfo por conta de um encontro religioso internacional, obrigatoriamente interrompido ontem para que os participantes pudessem acompanhar o inusitado adeus a Bento XVI como papa.

Católico, dos mais praticantes, Tiago se disse surpreso e encantado com o gesto do homem que ousou abrir mão da função de chefe da Igreja. "Ele quis voltar a ser um de nós. Só posso entender isso como algo de extrema simplicidade", comentou o advogado alagoano. "Ele colocou o cargo à disposição em sinal de humildade", emendou a mulher, feliz de os filhos, embora pequenos, terem presenciado um momento considerado por ela histórico.

De acordo com os moradores de Castel Gandolfo, Bento XVI, que passará os dois primeiros meses de sua aposentadoria na cidade, não inspirou emoções intensas nem conquistou grandes multidões como seu predecessor João Paulo II. Mas a decisão do papa alemão de renunciar ao trono de São Pedro aos 85 anos, ao final de oito anos de um pontificado tumultuado, mudou a opinião de alguns deles, segundo os quais ele teria se recusado a se envolver nos escândalos de uma Igreja em crise. "Nós descobrimos que por trás do aspecto frio esconde um homem honesto. Ele falou ontem dos mares tormentados de seu pontificado e eu acredito que agora ele deve dizer o que sabe", estima Veronica Radoi, de 30 anos, que gerencia um pequeno restaurante.

O Centro de ruas de pedra de Castel Gandolfo sempre viveu em simbiose com a residência papal: os guardas suíços encarregados de garantir a segurança do papa frequentam os bares e restaurantes locais, assim como os funcionários que trabalham na propriedade de 55 hectares: jardineiros, auxiliares de manutenção. "Eu nasci aqui, vi cinco papas irem e virem, mas eu não esperava conhecer um sexto", vangloriou-se Marisa, de 80 anos, sentada sob o sol na frente de casa antes do início das cerimônias. "Bento XVI é um homem bom, mas ele teve um pontificado horrível e difícil. O próximo deverá ser muito forte", acrescentou. (Com agências)


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