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Estado de Minas

Pânico e tumulto acabam em tragédia

Corre-corre após a queima de fogos deixa 60 mortos por esmagamento em Abidjan. Testemunha conta que multidão começou a correr ao ser surpreendida por policiais


postado em 02/01/2013 00:12 / atualizado em 02/01/2013 09:06

Brasília – O jornalista Ajoboye Debel Gédéon, de 22 anos, retornava da queima de fogos em Plateau, o distrito financeiro de Abidjan, quando testemunhou a tragédia se abater sobre a maior cidade e sede do governo da Costa do Marfim. "Tudo ocorreu por volta das 3h de ontem (1h em Brasília). Vi pessoas caírem sobre as outras. Muitas morreram na hora", afirmou em entrevista pela internet. "Eu não pude ajudá-las, porque vários que tentaram socorrê-las foram pisoteadas. Tudo o que fiz por pegar meu primo, de 14 anos, e colocá-lo para fora da estrada", acrescentou. As autoridades confirmaram a morte de 61 pessoas – 26 crianças, 28 mulheres e seis homens –, por esmagamento, mas não souberam informar o que teria provocado o tumulto. O presidente marfinense, Alassane Ouattara, visitou parte dos 200 feridos em um hospital e declarou luto oficial de três dias.

Ajoboye garante à reportagem que milhares de pessoas teriam se assustado com a aproximação de policiais das Forças Republicanas da Costa do Marfim (FRCI, na sigla em francês). Os militares, leais a Ouattara, ajudaram a combater as tropas do ex-presidente Laurent Gbagbo, derrotado nas eleições de novembro de 2010. "Depois que os fogos terminaram, por volta de 0h45, muitos moradores de Abidjan ainda celebravam soltando rojões. De repente, vi uma van da polícia e os militares das FRCI desceram do carro de forma bastante rápida, como se estivessem numa guerra. Amedrontadas, as pessoas começaram a correr e a cair umas sobre as outras", relatou o jornalista.

Uma outra testemunha contou à rede britânica BBC que o incidente teria sido provocado por um grupo que carregava armas bancas. A versão de Ajoboye foi confirmada por um dos feridos, que deu uma entrevista à agência de notícias Reuters, e relatou que forças de segurança chegaram para dispersar a multidão, desencadeando o pânico. O tenente-coronel Issa Sako, chefe dos socorristas, disse à emissora de TV pública que a maioria dos mortos tinha entre 8 e 15 anos.

SEGURANÇA De acordo com Ajoboye, desde o mês passado as FRCI reforçaram a segurança e impuseram bloqueios por toda a cidade depois das 22h. Apesar da restrição da livre circulação, os soldados leais a Gbagbo não cessaram os ataques à população civil. Parte da multidão teria confundido as tropas de Ouattara com as do ex-presidente ou simplesmente se assustado com os policiais em alta velocidade. "Muitos começaram a correr porque viram outros correndo. As pessoas gritavam ‘O que é isso?’, ‘O que está errado?’ e ‘Quem está vindo?’. Outra versão é de que os policiais tinham recebido denúncias da presença de ladrões na turba", disse a testemunha.

O show pirotécnico foi organizado pelo governo para celebrar a paz da Costa do Marfim, após vários meses de violência política no início de 2011, após as eleições. A tragédia ocorreu próximo ao Estádio Nacional e à Embaixada da Nigéria. O alto grau de inclinação da estrada por onde a multidão se deslocava teria contribuído para as mortes. "Pelo segundo ano consecutivo, Plateau sediava a queima de fogos no réveillon. O ministro do Interior, Hamed Bakayoko, limitou-se a dizer que pediu a abertura de uma investigação. Por sua vez, o ministro da Juventude, Alain Lobognon, apelou à população para que doasse sangue", afirmou o blogueiro marfinense Cyriac Gbogou, 32 anos.

O comandante do corpo de bombeiros de Abidjan, o tenente-coronel Isa Sako, disse que a multidão que acompanhava os fogos de artifício diante do estádio criou uma "grande avalanche". "Pessoas foram pisoteadas e sofreram asfixia", relatou. O canal de televisão RTI exibiu imagens de corpos no chão e de mulheres sendo atendidas pelos serviços de emergência. Os feridos foram levados para diversos hospitais da cidade, segundo Sako. Um centro médico recebeu quase 40 feridos, incluindo muitas crianças.

Um correspondente da Reuters disse que havia manchas de sangue e sapatos abandonados na frente do estádio na manhã de ontem, e oficiais do governo e forças de resgate e de segurança permaneciam no local. "Meus dois filhos vieram aqui ontem. Eu disse a eles para não vir, mas eles não ouviram. Eles vieram quando eu estava dormindo. O que vou fazer? ", disse Assetou Toure. Ela declarou que não sabe se seus filhos sobreviveram.


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