(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

'Trataram a gente como bandido', diz amiga de jovem morto por PM em Ouro Preto

Nesta manhã, amigos e familiares de Igor Mendes protestam por justiça na cidade histórica. Outro ato está marcado para esta terça-feira


postado em 18/09/2017 10:45 / atualizado em 18/09/2017 13:07

(foto: Reprodução/ Facebook )
(foto: Reprodução/ Facebook )

“Na hora eu não vi que foi um tiro, escutei um estouro e pensei que era uma bomba, foi muito rápido. Mas quando eu saí do carro o Igor já estava no chão ensanguentado e sem respirar”.

O relato é de S.C.B, de 17 anos, que estava no carro com Igor Arcanjo Mendes, de 20 anos, morto na noite da última sexta-feira, baleado por um comandante operacional da PM durante uma abordagem em Ouro Preto, Região Central de Minas Gerais. 

O jovem estava indo para um show de rap com amigos e foi morto depois de militares suspeitarem de "um movimento brusco", quando recebeu a ordem de descer do carro, o que fez com que um dos agentes acreditasse que ele sacaria uma arma de fogo

Em entrevista ao em.com.br, a jovem contou a versão dada em depoimento à Polícia Civil ainda na sexta-feira. De acordo com S.C.B, o fato ocorreu entre 21h e 22h, quando militares em uma viatura pediram que o motorista do Fiat Palio em que Igor estava com quatro amigos parasse o carro. 

Segundo a jovem, o pedido dos policiais foi atendido, e então começou o conflito. “Nós fomos abordados por um camburão e os policiais numa tamanha ignorância já saíram da viatura com as armas em punho e gritando pra gente coisas como, 'desce do carro agora', 'mão na cabeça todo mundo'. Nesse momento as portas do carro travaram e aí o policial apontou a arma para a cabeça do Igor e mandou que ele descesse com as mãos na cabeça”. 

Segundo relato da jovem, o amigo atendeu ao pedido do policial e abaixou uma das mãos para abrir a porta do carro. “O Igor obedeceu, abriu a porta do carro e juntamente levou as mão na cabeça. Foi nessa hora que escutamos um barulho enorme, como se fosse uma bomba. A gente não fez nada, apenas ficamos assustados e querendo muito descer daquele carro, e aí quando saímos eu olhei para baixo e vi o Igor com a metade do corpo pra fora do carro, ele estava todo ensanguentado. Eu entrei em desespero e comecei a gritar para minha amiga que o Igor estava morto, pois eu não vi ele agonizando ou respirando.”

Após o disparo, S.C.B disse que os policiais mandaram que os amigos guardassem os celulares e não ligassem para ninguém. Pediram também que o grupo deixasse o local, acompanhado por outros policiais. A jovem, no entanto, precisou ser medicada em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade por causa de estilhaços no pescoço. 

“Fomos para a UPA, onde fui atendida sem ter nenhuma notícia do Igor. Voltamos para o local onde ele foi morto e não deixaram a gente sair da viatura, enquanto os policiais fizeram uma rodinha e começaram a conversar bem baixo e olhando para gente. Nos levaram para o quartel onde ficamos até 3h da manhã e depois fomos encaminhados para a delegacia, onde um moço sem querer nos contou que ele tinha morrido dizendo, 'vocês são amigas do menino que morreu né?'. Ficamos arrasados e tivemos de ir com os policiais na casa do Igor para dar a notícia para a mãe dele”. 

De acordo com S.C.B, durante a abordagem policial, Igor Mendes não fez nada além do que foi pedido pelos policiais. A jovem também reiterou que ninguém no carro estava usando drogas. “Não tinha droga nenhuma no carro e nem com o Igor. A droga só apareceu depois que ele foi morto. Sempre encontrava com ele e nunca vi ele nem com um cigarro na mão. Trataram a gente como bandido e não somos."

A reportagem entrou em contato com o 52º Batalhão da Polícia Militar, que faz o policiamento em Ouro Preto, mas as ligações não foram atendidas. Em nota, enviada à imprensa no ultimo sábado, a assessoria de comunicação do 52º BPM informou que o Fiat Pálio estava com “lotação superior à permitida, seis ocupantes, e com película escura nos vidros, o que gerou suspeição e acompanhamento da viatura policial.” Ainda conforme a nota, foi dada ordem de parada ao veículo, que não foi obedecida de imediato. O carro só parou, segundo a PM, em um segundo pedido de parada.

“O passageiro que ocupava o banco da frente, no momento da ordem para descer do veiculo, levou as mãos à cabeça e, em seguida, abaixou-se e tirando as mãos da cabeça efetuou movimento brusco com as mãos em direção ao porta-luvas do carro. O comandante da equipe policial, então, verbalizou e efetuou um disparo de arma de fogo na direção do passageiro, pois devido ao movimento brusco do jovem, o mesmo poderia atentar contra a integridade física dele e dos outros policiais militares.”

Ao fim da nota, a polícia informou que dois pinos de cocaína foram encontrados no carro e que uma bucha de maconha foi encontrada no bolso de Igor Mendes, por uma enfermeira da Upa, onde o jovem foi atendido. A Polícia Militar informou que o motorista do carro, de 46 anos, foi detido por prática de transporte irregular dos passageiros que se encontravam no Fiat Palio, que foi apreendido. O caso será investigado pela Corregedoria de Polícia Militar.



A Prefeitura de Ouro Preto divulgou uma nota sobre a morte do rapaz. Leia na íntegra:

"O Município de Ouro Preto, através do seu Prefeito Júlio Pimenta, manifesta seu profundo pesar pela morte do jovem Igor Arcanjo Mendes, alvejado em uma abordagem da polícia militar no último dia 15/09.

O ocorrido causou comoção em toda a comunidade ouro-pretana, uma vez, que Igor era um jovem de apenas 20 anos, conhecido como uma pessoa de boa índole, sem passagem pela polícia, trabalhador e vindo de uma família de bons princípios e valores.

A ação policial merece pronta investigação da Corregedoria da Polícia Militar, do Ministério Público e do Poder Judiciário. O Município de Ouro Preto acionará também a Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais para acompanhar todas as apurações.

Enlutados, manifestamos mais uma vez nossa solidariedade à família e amigos de Igor."


Família condena PM e manifesta pedindo justiça 


(foto: Reprodução/ Internet/ Whatsapp )
(foto: Reprodução/ Internet/ Whatsapp )
Na manhã desta segunda-feira, familiares e amigos, inconformados com a morte de Igor Arcanjo, protestam em ruasqueligam o bairro onde o jovem morava ao Centro de Ouro Preto. Além de cartazes e faixas, o grupo fez uma barricadacom pneus e impediu o trânsito de veículos.

Familiares de Igor Arcanjo condenam a morte do jovem durante a aboragem da PM. Para Giovanni Arcanjo João, tio de Igor, a versão da polícia é falha. "O que aconteceu não foi despreparo, foi execução", afirma. Segundo o tio da vítima, o jovem e os amigos iam para um show quando foram abordados, por volta de 22h. "Meu sobrinho morreu nesse horário e nós só fomos avisados às 4h do dia seguinte. Apreenderam os celulares de todo mundo que estava no carro. Não deixaram ninguém avisar a família", conta Giovanni.

Giovanni afirma também que houve demora na confecção do boletim de ocorrência, que só pôde ser lido pelos familiares de Igor no início da tarde desse sábado. "O que sei é que meu sobrinho era trabalhador. Era jardineiro e só estava indo a um show. O que aconteceu foi assassinato", acusa. O corpo do jovem foi enterrado na manhã desse domingo, em Ouro Preto.

Nesta terça-feira, uma outra manifestação pedindo justiça pela morte de Igor Arcanjo está programada para ocorrer na Praça Tiradentes, em Ouro Preto, no período da tarde. O protesto é organizado pela família da vítima e convites estão sendo enviados para moradores da cidade por uma rede social. 
 
* Sob supervisão do editor Benny Cohen


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)