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Estado de Minas

A incrível história por trás do assassinato com dinheiro público em Santa Luzia

Corrupção, chantagem, traição, uso de verba da saúde para pagar pistoleiro e ameaça: investigação aponta os incríveis elementos por trás da execução


postado em 17/09/2017 06:00 / atualizado em 17/09/2017 08:11

A prefeita Roseli Pimentel foi presa por mandar matar o jornalista(foto: Reprodução Youtube)
A prefeita Roseli Pimentel foi presa por mandar matar o jornalista (foto: Reprodução Youtube)

Uma dívida de R$ 100 mil cobrada nos meses mais quentes da eleição municipal, com ameaças de revelação de esquemas de corrupção, foi o motivo apurado pela Polícia Civil para que a prefeita afastada de Santa Luzia, Roseli Ferreira Pimentel (PSB), tenha encomendado a morte do jornalista Maurício Campos Rosa, de 64 anos.

Dono do jornal O Grito, Maurício vinha favorecendo editorialmente a administração e a eleição do grupo político de Roseli, com exemplares da sua publicação sendo distribuídos inclusive nos comitês eleitorais da candidatura ao custo de R$ 100 mil.

“Ele (o jornalista) ameaçava passar para a oposição e trazer a público escândalos como os desvios de verba de R$ 80 milhões da saúde municipal, apurado pelo Departamento de Falsificações e Defraudações (da Polícia Civil). Parte dos recursos teria sido usada até para pagar o aluguel da casa da prefeita”, afirma o delegado César Duarte Matoso, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) Sul, da Polícia Civil.

A investigação indica que verbas da saúde e da educação chegaram a ser usadas para a contratação do pistoleiro – ainda foragido –, fato agravado por serem recursos para áreas extremamente carentes do município. Depois do crime, o jornal O Grito fechou. Os funcionários têm medo.

Sete tiros


Maurício foi executado às 21h de 17 de agosto do ano passado no Bairro Frimisa, em Santa Luzia, quando deixava a casa de Alessandro de Oliveira Souza, um funcionário de confiança da prefeita, conhecido como Leleca. A perícia policial apurou que o assassino deu sete tiros de pistola calibre .765, um dos quais atingiu o jornalista no pescoço e outros quatro nas costas. Ferido, ele chegou a ser levado para um posto de saúde e depois para o Hospital de Pronto-Socorro Risoleta Tolentino Neves, em Venda Nova, onde morreu.

“A primeira linha de investigação surgiu com o clamor da população. Como o jornalista vinha fazendo reportagens muito contundentes contra um vereador, logo todos, até a prefeita, afirmavam que só poderia ter sido esse político quem o matou. Um pintor que havia ameaçado o jornalista também era suspeito”, lembra o delegado.

Mas tudo mudou quando a polícia soube por meio de informantes que o “pistoleiro que matou Maurício” teria sido baleado no aglomerado Vila Ferraz, em 30 de agosto do mesmo ano. “Poderia ser uma queima de arquivo. Então, investigamos quem tinha dado entrada nos hospitais da região por ferimento de arma de fogo. Encontramos Paulo César Florindo de Almeida, de 28, que vivia na vila e mantinha um relacionamento amoroso com Leleca”, conta o delegado.

 

Detalhe fundamental


O suspeito foi interrogado e negou o crime. Mas a sua altura era um bom indicativo de que poderia integrar a lista de investigados. “Ele tem 1,80m e a vítima, 1,70m. Todos os tiros vieram de cima para baixo”, aponta. O suspeito é considerado extremamente perigoso e é investigado por outro homicídio. A polícia então começou a investigar e a interrogar criminosos da vila, o que levou o suspeito a ser expulso. “Os traficantes não gostam de homicidas por contrato e até picharam (na comunidade) ‘Paulo César pé-de-pato’, que significa matador na gíria criminosa”, disse o policial civil.

A Polícia Civil reconstituiu as últimas duas semanas da vida da vítima por meio de imagens de câmeras de segurança e de entrevistas, e ficou nítido que não havia uma rotina clara. Isso reforçou a participação de Leleca no caso. “No dia da morte, o carro dos assassinos ultrapassou o veículo da vítima e ficou esperando que ele chegasse à casa de Alessandro. Isso mostra que alguém os alertou para o destino da vítima e o Alessandro passou a ser suspeito”, afirma o delegado César Matoso.

Segundo a polícia, o jornalista Maurício Campos Rosa pediu dinheiro para não denunciar a corrupção da prefeita(foto: Reprodução Facebook)
Segundo a polícia, o jornalista Maurício Campos Rosa pediu dinheiro para não denunciar a corrupção da prefeita (foto: Reprodução Facebook)

Os elementos começaram a apontar para o envolvimento da então prefeita Roseli Pimentel, e, segundo a polícia, isso se tornou definitivo quando os depoimentos de funcionários da prefeitura deram conta de que no dia da morte do jornalista os pertences de Maurício foram levados para o gabinete de Roseli. “Uma testemunha contou que o celular, as roupas e R$ 100 em dinheiro foram removidos do ferido e, em vez de ficar sob a guarda do posto de saúde, acabaram sendo levados para a prefeita. Ela teria até desdenhado das mensagens do celular”, conta Matoso. Àquela altura, vários documentos no computador da vítima também mostravam a chantagem contra a prefeita pelo apoio do jornal.

Pressão e desvio

Segundo a polícia, um desacerto na entrega do dinheiro prometido ao suspeito de ser o matador foi a última peça a ligar a prefeita ao crime. “O Paulo César chegou a ameaçar Alessandro por não ter recebido. Uma verba de R$ 19.996,84 foi então depositada pela prefeitura na conta de Alessandro, que repassou para a namorada de Gustavo Sérgio Soares Silva, o motorista que conduziu o atirador Paulo César e seu comparsa David Santos Lima.” Como a prefeita tinha foro privilegiado, foi preciso pedir a prisão da política por meio do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG).

Em 7 de setembro último, a prefeita, Alessandro, Gustavo e David foram presos. Ao todo, cinco pessoas foram indiciadas pelo homicídio e sete por peculato, que é a subtração ou desvio de dinheiro público ou de bem móvel de valor, para proveito próprio ou alheio, por funcionário público. No caso, pelas verbas e pertences da vítima desviados.


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