Desde bem cedo, as caravanas de jovens provenientes dos 28 municípios, num total de 277 paróquias que compõem a Arquidiocese de BH, começaram a chegar à Serra da Piedade. Muitos cumprindo a pé, e no frio, o percurso sinuoso de cinco quilômetros morro acima, a exemplo do músico Gustavo Marttir, de 24 anos, morador do Bairro Juliana, na Região Norte da capital. “Estou feliz de estar aqui. Nem me cansei com a subida da serra”, disse o jovem, com seu violão em punho e ao lado dos amigos Fábio Emanuel, de 14, e Juan Péricles, de 25.
Um dos momentos mais emocionantes ocorreu às 10h35, quando a imagem de Nossa Senhora da Piedade, réplica da existente no altar da ermida e esculpida por Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, foi transportada no andor no meio da multidão. Rapazes e moças abriram caminho – e foi bonito ver a mistura colorida de roupas de lã, mochilas, gorros, bandeiras, cartazes com palavras de comunhão e sorrisos de confiança. Nos momentos de oração, muitos rezaram de joelhos sobre as pedras da ladeira que dá acesso ao santuário ou ficaram unidos acompanhando a liturgia.
SILÊNCIO Logo depois da chegada da imagem de Nossa Senhora da Piedade, trazida no andar ao som da canção “Maria cheia de graça e consolo, Vem caminhar com teu povo, Nossa Mãe sempre será”, os jovens fizeram um minuto de silêncio pedindo a paz na Síria, conflito que já matou milhares de pessoas, com predominância de jovens. Com camisas trazendo palavras alusivas à manifestação também ocorrida na Praça da Liberdade (leia texto nesta página), na Região Centro-Sul de BH, representantes da Paróquia de São José, de BH, deram as mãos, no altar montado na porta da ermida, e participaram da reza do terço.
Ao lado da namorada Dara Cristina Souza Santos, de 21, que faz cursinho para medicina, o estudante de eletrotécnica Emanuel Júnior Ferreira Rocha, de 22, destacou a importância da solidariedade dos jovens e da peregrinação à serra, da qual participa pela quarta vez. “Estamos aqui para renovar a fé, não apenas a nossa, como de todos os jovens do mundo. Queremos a fé viva”, afirmou o estudante, com a camisa do movimento Paz na Síria doada pelo consulado do país do Oriente Médio em Minas. “É minha primeira vez aqui na serra. Ele me trouxe”, disse Dara, com um sorriso, apontando para o namorado.
Integrando a caravana da Paróquia São Bernardo, do Bairro Planalto, na Região Norte de BH, Célia de Oliveira, de 18, destacou a reunião dos jovens como fato relevante. “Deus é maravilhoso e o futuro da Igreja está nos jovens. Quem vem fortalece a fé”, disse a garota, que está em sua quarta romaria ao local. De terço na mão e ao lado dos amigos da Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe, num grupo de 34 pessoas, a mestranda Stephanie Almeida, de 22, acompanhou a missa celebrada por dom Walmor e afirmou a devoção católica.
O vice-reitor do santuário, padre Carlos Antônio da Silva, também citou a Venezuela e a Síria, ao saudar os jovens. E conclamou os grupos para que “sejam ousados, criativos e profetas no amor, para uma sociedade humana mais fraterna”. E concluiu: “Rezemos pela Venezuela, o Brasil, a Síria e o mundo”, afirmou.
Elevação de corpo e alma
O dogma da Assunção da Virgem Maria foi proclamado, solenemente, pelo Papa Pio XII (1876-1958), em 1º de novembro de 1950. A Sagrada Tradição da Igreja ensina que Nossa Senhora foi elevada ao céu de corpo e alma, após sua morte. Quando o sumo pontífice decretou o dogma por meio da Constituição Apostólica Munificientissimus Deus foi uma verdadeira apoteose no mundo inteiro. No documento, ele registrou: “Cristo, com Sua morte, venceu o pecado e a morte, e sobre essa e sobre aquele alcançará também vitória pelos merecimentos de Cristo quem for regenerado sobrenaturalmente pelo batismo. Mas, por lei natural, Deus não quer conceder aos justos o completo efeito dessa vitória sobre a morte, senão quando chegar o fim dos tempos. Por isso, os corpos dos justos se dissolvem depois da morte, e somente no último dia tornarão a unir-se, cada um com sua própria alma gloriosa. Mas desta lei geral, Deus quis excetuar a Bem-Aventurada Virgem Maria. Ela, por um privilégio todo singular, venceu o pecado; por sua Imaculada Conceição, não estando por isso sujeita à lei natural de ficar na corrupção do sepulcro, não foi preciso que esperasse até o fim do mundo para obter a ressurreição do corpo”.