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Estado de Minas

Com sequestro e morte de mulher em Contagem, medo ronda estacionamentos

Barbaridade que vitimou vendedora rendida em shopping de Contagem e soltura de um dos envolvidos deixam parentes e amigos indignados. Crime espalha temor entre consumidores


postado em 11/04/2017 06:00 / atualizado em 11/04/2017 07:36

No sepultamento do corpo de Adriana, a perplexidade de quem não se conforma com a insegurança e com a brutalidade(foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
No sepultamento do corpo de Adriana, a perplexidade de quem não se conforma com a insegurança e com a brutalidade (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Um crime bárbaro, que chocou pela brutalidade; a indignação pela violência e pela imediata liberação de um dos envolvidos; a sensação de insegurança diante do sequestro praticado em um local de intenso tráfego de pessoas. Em meio ao  misto de sentimentos que abalou parentes e amigos, o assassinato da vendedora Adriana Maria da Cruz, de 39 anos, rendida quando saía em seu veículo do complexo de compras onde trabalhava e morta por enforcamento evidenciou outro problema: o medo quanto à segurança em estacionamentos privados. Os espaços são obrigados por lei a se responsabilizar pela guarda dos veículos e pela proteção das pessoas que os frequentam. No caso de Contagem, onde fica o shopping em que ocorreu a abordagem, a legislação é ainda mais exigente e, segundo o Ministério Público, determina que a empresa mantenha, em local visível, cartaz que informe sobre essa regra. Mas, para quem usa o serviço no local, a segurança é falha, a qualquer hora do dia.


Ontem, a família se despediu de Adriana, sob forte emoção e com pedidos de justiça, durante enterro no Cemitério Parque Renascer, também em Contagem. O crime ocorreu na última sexta-feira. No sábado, três dos suspeitos de envolvimento no sequestro e morte foram detidos, entre eles um menor. O quarto e último acusado, Audney Coutinho Ferreira, de 19 anos, se entregou à Polícia Civil no domingo e assumiu participação no assalto e sequestro de Adriana.

No caso do estacionamento onde a vítima foi abordada por dois criminosos, há cobrança para a guarda dos automóveis. O lugar conta ainda com cancelas e câmeras de segurança, cujas imagens foram usadas para identificação dos envolvidos. Embora a empresa que gerencia o estacionamento não tenha responsabilidade criminal, o promotor Fernando Ferreira Abreu, da Promotoria de Defesa do Consumidor de Contagem, afirma que ela tem implicação civil no caso. Segundo ele, danos a veículos, furtos, roubos e qualquer ocorrência contra pessoas no local são de responsabilidade da administradora. “A responsabilização do estacionamento parte da omissão dele em promover a segurança do consumidor. A funcionária era consumidora do estacionamento e, ainda que não comprasse nada nas lojas ali instaladas, usava o local e foi vítima de um serviço mal prestado”, afirma o promotor. Ele lembrou ainda que, no caso específico de Contagem, há legislação municipal que obriga a exposição dessa responsabilidade em cartaz colocado em local visível.

Usuários do estacionamento onde está a Leroy Merlin, onde trabalhava Adriana, e também o ItaúPower Shopping, o Wall Mart e o Sam’s Club, reclamam de insegurança no lugar. A contabilista e moradora de Contagem Rosângela Aparecida Sodré, de 53 anos, disse estar muito abalada com o que aconteceu com Adriana, tanto pelo caráter bárbaro do crime quanto pelo fato de usar frequentemente o espaço. Ela tem inclusive, na família, uma história semelhante à da última sexta-feira, felizmente, com final diferente. “Meu irmão também foi sequestrado no estacionamento, quando saía do shopping. Foi levado em seu carro, guiado pelos assaltantes, para um matagal na região. Mas, ao contrário de Adriana, ele conseguiu sair vivo”, contou. “Eu já saio do shopping correndo em direção ao carro e fecho as portas rápido. Estava conversando hoje com vizinhos e todos concordam que lá é muito perigoso. A caminho do carro, é comum ser abordado por pessoas para pedir coisas, mas não dá pra saber o que querem e o que podem fazer”, completou.

Funcionários do shopping também reclamam. Gerente de uma loja que pediu para não ser identificada, M.C.R, de 52, conta que redobrou a atenção ao buscar o carro no estacionamento. Atualmente, ela para na garagem coberta, mas conta que o episódio deixou todos apreensivos no centro de compras. “Eu já tinha ouvido falar sobre casos de roubo, mas nada tão grave”, afirma.
Ver galeria . 11 Fotos Colegas de emprego, familiares e amigos foram até o Cemitério Parque Renascer para prestarem últimas homenagens à vítima Jair Amaral: EM/DA Press
Colegas de emprego, familiares e amigos foram até o Cemitério Parque Renascer para prestarem últimas homenagens à vítima (foto: Jair Amaral: EM/DA Press )

DESPEDIDA Cerca de 100 pessoas, entre familiares e amigos, estiveram na despedida a Adriana, no Cemitério Parque Renascer. Entre eles, muitos funcionários da rede Leroy Merlin. Uniformizados, cada um deles levou uma rosa para homenagear a colega. “Quantas Adrianas vão ter que morrer pra gente tomar uma iniciativa?”, questionou o marido da vítima, Marcelo Lacerda, ainda muito abalado. Familiares disseram que pretendem acionar a Justiça, pois a morte de Adriana “não pode ficar em vão”.

O jornalista Daniel Lacerda, de 23 anos, enteado de Adriana, também reclamou da segurança no local. “Se o estacionamento é pago e caro, a gente espera que tenha uma segurança privada e pública boa, dentro e ao redor do
shopping. O horário em que ela saiu é quando está todo mundo dentro do shopping, não é meia-noite e nem 1h da manhã, é um horário de movimentação”, queixou-se.

Depois do enterro, amigos da vítima fizeram uma carreata com faixas e cartazes, partindo do Bairro Riacho até o shopping onde Adriana trabalhava. Amigo do marido da vendedora, Glayson Andrade criticou a soltura do quarto suspeito do crime. “Isso é um absurdo. O que tentamos fazer é ver se a Justiça começa a enxergar as coisas de forma diferente. Tem que mudar, não pode continuar do jeito que está”, desabafou.

ACUSADOS Os suspeitos de participação no crime detidos no sábado foram identificados como Daniel Felipe Correa Santos, de 18 anos; Rafael da Silva Araújo, de 25, apontado como o assassino de Adriana; e o menor Y.P.A, de 15. Em entrevista na tarde de ontem à Rádio Itatiaia, o quarto suspeito, Audney Coutinho Ferreira, de 19 anos – não localizado no dia da identificação do trio, quando ainda valia o período de flagrante – confessou participação no crime e se defendeu dizendo que não tinha a intenção de matar Adriana.

Ele revelou detalhes do sequestro e morte: “Era só ir e roubar o carro, tranquilo. Fui eu e o menor primeiro, abordamos a vítima e saímos do estacionamento. Viramos a primeira à direita. E nessa primeira à direita, Daniel e Fael (Rafael) estavam. O Daniel tomou a frente da direção. Aí nós pegamos e levamos ela para o mato. Fui eu e Fael saiu do carro. Eu e Fael ia levar até BR-040. Aí na BR-040 o Fael foi e pegou um cadarço e degolou ela (sic)”, afirmou, dizendo que o grupo saiu do local em seguida. O corpo foi encontrado na madrugada de domingo, às margens da represa Vargem das Flores, também em Contagem.

Ainda de acordo com o acusado, Rafael estava atrás da vítima quando a atacou. “Eu tentei impedir, lógico que tentei. Falei ‘Fael pelo amor de Deus, tem que ter amor a Deus. Não faz isso não’. Ele estava transtornado na hora”,  falou o jovem, que se disse arrependido. A Polícia Civil não detalhou o teor do depoimento dos suspeitos e informou que já foi pedida à Justiça da prisão de Audney.

Após a cerimônia, houve manifestação diante do local em que a vendedora trabalhava(foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
Após a cerimônia, houve manifestação diante do local em que a vendedora trabalhava (foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
O pai dele, o autônomo Audney Ferreira, de 45, se disse chocado com o envolvimento do filho no crime. “Como pai, estou chocado com tudo o que aconteceu e principalmente com a dor dessa família”, disse. O pai contou que foi ele quem orientou o filho a se entregar e a contar a verdade. Mas o defendeu: “É um menino bom. Nunca se envolveu com o crime e isso pode ter ocorrido por má companhia”, afirmou.

A assessoria do Leroy Merlin já havia se manifestado em solidariedade à família e informou que há uma empresa que responde pelo estacionamento. Procurada pelo EM, a administradora não se manifestou até o fechamento desta edição. O ItaúPower Shopping divulgou nota lamentando o sequestro e também se eximiu da gestão do estacionamento externo, onde ocorreu a abordagem. O texto diz ainda que “cabe ao shopping gerenciar a segurança no espaço interno do mall e também no estacionamento coberto, este sim pertencente ao shopping center”.

O POVO FALA

Você se sente seguro usando estacionamentos privados?

Luiz Otávio Silva, motorista, 25 anos: Não acho bom o serviço. Paga-se caro e os funcionários não olham o carro direito. Se acontece o pior, os responsáveis tiram o corpo fora

Pedro Monteiro, professor, 46 anos: Sinto-me seguro nos que frequento, que são principalmente da Região Centro-Sul e geralmente têm seguranças e câmeras de vigilância

Karina Campos, funcionária pública, 35 anos:
Acho que o custo-benefício não compensa. Já tive meu carro amassado e arranhado em estacionamentos particulares que custam uma fortuna

Roberta Murta, médica, 33 anos:
Se os estabelecimentos se organizassem, controlassem eletronicamente os veículos, instalassem mais câmeras e contratassem seguranças, talvez melhorasse


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