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Estado de Minas

Centro de Equoterapia da PM convoca times e torcidas para arrecadar R$ 300 mil

Único lugar na Grande BH a oferecer o serviço gratuitamente pede ajuda para construir cobertura na área de exercícios, o que diminuirá a fila de espera


postado em 18/03/2017 06:00 / atualizado em 18/03/2017 08:09

Como os pacientes são atendidos ao ar livre, as sessões são interrompidas em horários de sol intenso e de dias de chuva(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Como os pacientes são atendidos ao ar livre, as sessões são interrompidas em horários de sol intenso e de dias de chuva (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Montados nos cavalos, crianças, adolescentes e adultos são apenas sorrisos. Ali não há limitações físicas nem mentais: o animal vira grande companheiro, sinônimo de liberdade das amarras do próprio corpo. O Centro de Equoterapia do Regimento de Cavalaria Alferes Tiradentes (Cercat), da Polícia Militar, no Bairro Prado, único lugar na Grande BH a oferecer o serviço gratuitamente, atende portadores de 37 patologias, como paralisias, autismo, síndrome de Down, hiperatividade e problemas de equilíbrio. Mas, tão grande quanto o trabalho é a fila de espera. Atualmente, 120 pacientes estão sendo atendidos, enquanto quase nove vezes mais aguardam uma oportunidade. Há 920 nomes na lista, com tempo de espera médio de quatro a cinco anos. Para zerar essa fila e aumentar a capacidade de atendimento, a campanha “Torcida mais solidária de Minas” quer transformar a força dos gritos que ecoam nos estádios em solidariedade. O objetivo é arrecadar dinheiro para construir a cobertura da área de equoterapia e, assim, ampliar o horário de atendimento.

Atualmente, as sessões são feitas das 7h às 11h, pois, depois disso, o sol castiga. Em dias de chuva, os atendimentos são automaticamente suspensos. A campanha, comandada pela Associação Feminina de Assistência Social e Cultura (Afas), entidade ligada à Polícia Militar, está na internet (ajude.afas.org.br) e vai até 10 de junho. A cada R$ 6 doados, a pessoa concorre com um número a uma camisa autografada à escolha de cada ganhador: do América, Atlético ou Cruzeiro. Já o time que bater a meta ganha o prêmio de torcida mais solidária. A cobertura será metálica e tem custo estimado em R$ 300 mil. A coordenadora da campanha, sargento Nayana de Souza Ramos, analista de contratos e convênios da Afas, explica que, com ela, será possível atender o dia inteiro. Sendo construída este ano, pelo menos 500 pessoas serão beneficiadas de imediato, reduzindo a fila de espera pela metade. A partir de então, a expectativa é de que o tempo aguardando uma vaga seja de aproximadamente seis meses, já que é preciso esperar a alta de outros pacientes, dada, normalmente, ao fim de dois anos de tratamento. Depois disso, quem precisa retomar as sessões volta novamente para a fila.

Os praticantes de equoterapia são atendidos em sessões de 30 minutos, uma vez por semana. Segundo Nayana, algumas faculdades fizeram contato oferencendo o trabalho de estagiários. Com a nova estrutura e mais gente trabalhando, será possível fazer de duas a três sessões a cada meia hora. Cada praticante precisa de pelo menos três profissionais para ajudar, incluindo o fisioterapeuta (que muitas vezes precisa montar para auxiliar o paciente) e o militar que conduz o cavalo. Esses esforços crescem à medida que aumenta o peso da pessoa assistida. “É inconcebível essa quantidade de pessoas na fila por causa de uma situação que podemos mudar. A equoterapia transforma vidas. Há crianças diagnosticadas a passar a vida inteira acamadas, porque não sentam, que chegam até nós completamente molinhas e, com quatro meses, conseguem sentar”, conta.

O sargento José Geraldo Nunes, comandante do Centro de Equoterapia do Cercat, diz que o número de pessoas aguardando uma vaga só não é maior porque, quando informadas sobre a média do tempo de espera, cerca de 30% dos candidatos desistem. “Fora aqueles que, infelizmente, morrem na fila de espera, aguardando uma vaga”, diz.

"É inconcebível essa fila por uma situação que podemos mudar", disse a coordenadora da campanha, sargento Nayana Ramos (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Diante desse desafio, surgiu a ideia de convocar times e torcidas, e até aqueles que preferem ficar longe dos gramados. Até agora, Atlético e América estão à frente na arrecadação, mas ainda bem longe da meta, com 5% do objetivo estipulado para cada um. O Cruzeiro vem em seguida, com 3%. Trabalho paralelo está sendo feito também com empresas de vários setores. “O que custa mais caro já temos, que é o espaço, os cavalos e a alimentação deles. Se, hoje, precisarmos de mais 10 animais para atendimento, temos. E os profissionais também já estão aqui. Precisamos conseguir a cobertura. O resto é fácil. Nosso problema hoje são os R$ 300 mil”, ressalta Nayana.


SERVIÇO

Centro de Equoterapia do Cercat
Rua Platina, 580, Prado
(31) 2123-9528 e 3016-2781

Esforço para retomar as rédeas do destino
A maioria dos praticantes de equoterapia no Cercat são crianças com até 12 anos de idade (70%). O restante são adolescentes, jovens e adultos. O trabalho é uma parceria entre a Polícia Militar e a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig). Para o funcionamento das atividades, a PM disponibiliza seis militares e um civil, sete cavalos – que já não fazem serviço de rua – e todo o insumo necessário para a manutenção dos animais (alimentação, atendimento veterinário, medicamento e limpeza). O Regimento de Cavalaria´é responsável ainda por registrar as inscrições. Já a Fhemig destina seis profissionais de diversas especialidades de saúde: médico ortopedista, fisioterapeutas, fonoaudiólogo e terapeuta ocupacional. O último convênio foi assinado no fim de agosto do ano passado e tem duração de 60 meses.

Com paralisia cerebral e motora, João Vítor Cançado agradece ao novo amigo a evolução em um mês(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Com paralisia cerebral e motora, João Vítor Cançado agradece ao novo amigo a evolução em um mês (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Desde o início da equoterapia, em 1995, foram feitos 68 mil atendimentos gratuitos. O sargento José Geraldo Nunes, comandante do Centro de Equoterapia do Cercat, explica que, em regra, todo candidato à vaga só é atendido quando chega sua vez na lista de espera e de acordo com a disponibilidade do profissional para o qual a patologia direciona. Podem haver exceções, mas, cada vez mais raras, devido à alta demanda. “Pode haver casos em que, depois de uma análise detalhada e, vislumbrando imediata necessidade de atendimento, levando em conta os benefícios prováveis da intervenção naquele devido momento, poderá sim haver uma antecipação na chamada para análise e possível início das atividades, desde que haja disponibilidade de profissional para a demanda apresentada pelo candidato”, informa.

Apesar das dificuldades, o sargento Nunes diz que os envolvidos não desanimam. “Ao nosso ver, não há certeza de segurança se não ampararmos quem nos solicita, quase dizendo, num grito: ‘Precisamos ser inseridos ou reinseridos na sociedade’, como é o caso das pessoas que fazem parte do nosso mundo equoterápico”, diz. “Ninguém se sente seguro tendo sua saúde banalizada e negligenciada. No Cercat, cuidamos, lapidamos, inserimos e reinserimos pessoas no meio social com práticas equoterápicas, preservando assim o direito à vida de cada uma dessas pessoas.”

Busca por passos mais firmes
Na fila de espera, está Carlos (nome fictício), de 40 anos, que levou dois tiros na cabeça, há 13 anos, enquanto trabalhava. No hospital, os médicos lhe deram oito horas de vida. Superado esse tempo, a medicina convencional foi direta: “Disseram que, se eu sobrevivesse, morreria em cima da cama. E aqui estou eu, falando”, conta. Ele ficou tetraplégico, foi atendido no Hospital Sara Kubitschek e, por intermédio de um conhecido, soube da equoterapia, à qual agregou sessões de fisioterapia. Para quem estava sem os movimentos de membros superiores e inferiores, as mudanças por causa do tratamento soam como milagre. “Cheguei lá 40% e saí 110%. Hoje como sozinho, escovo meus dentes, me viro com minha cadeira motorizada e com o controle da TV e dou um jeitinho com o WhatsApp, além de escrever com pincel atômico. Escuto bem, falo bem e enxergo bem. E ainda faço minha contabilidade”, relata, com ar vitorioso. Carlos já passou por um primeiro atendimento e agora aguarda nova oportunidade, contando com o sucesso da campanha para conseguir atendimento rápido.

A professora Ilza de Fátima dos Santos Souza, de 47, sabe bem como é a angústia da espera, que durou cinco anos. Ela se inscreveu quando a filha Louise de Aquino Souza, hoje com 7 anos, que tem síndrome de down, saiu do hospital, aos 7 meses de idade. Só conseguiu atendimento em meados do ano passado. “Percebemos melhoras muito pouco tempo depois. Ela era bem molinha e andava cambaleando. Depois de duas a três sessões, vimos diferença já. Hoje ela tem mais força, corre para todo lado e tem mais firmeza”, conta.

O garoto João Vítor Araújo dos Santos Cançado, de 11, que tem paralisia cerebral e motora, é outro exemplo de paciência e de resultado surpreendente. Depois de cinco anos de espera, há um mês, a vaga saiu. No lombo do cavalo Vanguarda, ele progride e se diverte. E não vale esquecer a verdura ou a fruta com a qual diz “obrigado” no fim da sessão. O amigo espera o presente, que João Vítor compra com satisfação um dia antes do encontro. Esta semana, levou duas cenouras. “Ele anda com andador e sentia muita dor na coluna, por causa da escoliose. Já não sente mais”, relata a mãe, a dona de casa Adriana de Araújo Silva, de 37.


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