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Estado de Minas

Nova onda de lama de Mariana que pode ser carregada pela chuva preocupa Ibama

Às vésperas do marco de um ano da pior catástrofe socioambiental da história do país, instituto ambiental critica recuperação e diz que chuvas acima da média podem causar novo desastre


postado em 26/10/2016 06:00 / atualizado em 26/10/2016 08:44

Grande quantidade de rejeitos ainda permanece na área remanescente da Barragem de Fundão, em Bento Rodrigues(foto: Euler Júnior/EM/D.A PRESS)
Grande quantidade de rejeitos ainda permanece na área remanescente da Barragem de Fundão, em Bento Rodrigues (foto: Euler Júnior/EM/D.A PRESS)
Faltando 10 dias para o primeiro aniversário do maior desastre ambiental da história do país, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) demonstrou preocupação com a possibilidade de uma nova onda de lama, de até 2 milhões de metros cúbicos, poluir o Rio Doce.

Isso porque, segundo o órgão, as obras previstas para conter os rejeitos do rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana, na Região Central do estado, estão atrasadas e não ficam prontas antes do início das chuvas. Além disso, o instituto apontou que ações previstas para recompor o solo da região afetada e auxiliar na contenção dos rejeitos têm muitas falhas.

De 77 pontos monitorados, em 92% verificou-se erosão em maior ou menor escala. Essa situação contribui diretamente para o carreamento da lama sem a retenção natural garantida por espécies de gramíneas e leguminosas.


A conta do Ibama prevê, no pior cenário de chuvas estimado, que 2 milhões de metros cúbicos de lama não possam ser retidos no reservatório da Usina Hidrelétrica Risoleta Neves, também conhecido como Candonga, que fica no curso do Rio Doce, na Zona da Mata. O instituto trabalha com a hipótese de que 4,3 milhões de metros cúbicos cheguem à represa caso haja chuvas muito acima da média para a região.

Já a Samarco acredita que, chovendo dentro da média normal, serão 2,3 milhões de rejeitos chegando ao reservatório da hidrelétrica. É justamente essa diferença que preocupa as autoridades ambientais, pois os 2 milhões extras entre as duas previsões podem extravasar os limites da usina e chegar ao Rio Doce rumo ao oceano.

Isso poderia causar novos problemas à captação de água para abastecimento humano em cidades como Governador Valadares, por exemplo, aumentando consideravelmente o nível de turbidez da água.

Segundo o superintendente do Ibama em Minas Gerais, Marcelo Belisário, o cenário admitido pela Samarco é considerado realista e o do órgão ambiental é pessimista, pois leva em consideração o pior quadro possível.

“Em um cenário realista, as obras de contenção e as atividades de dragagem dentro de Candonga (Usina Risoleta Neves) serão suficientes. No quadro pessimista, vai haver uma sobra de rejeitos que podem de novo sobrecarregar a barragem, que está estável, e comprometer sua estabilidade”, afirma o superintendente.

Como comparação, o Ibama informa que, na época do rompimento da barragem, cerca de 12,8 milhões de metros cúbicos de rejeitos extravasaram o reservatório de Candonga e desceram o Rio Doce abaixo da represa. Mesmo assim, a barragem acabou servindo como anteparo para segurar boa parte da lama. Hoje, estima-se que 43,5 milhões de metros cúbicos estejam posicionados entre a Barragem do Fundão e a hidrelétrica.

A presidente do Ibama, Suely Araújo, destacou que as obras de dragagem dos sedimentos da usina deveriam ter começado em março, mas só tiveram início em julho. “Com a chuva, não se sabe muito bem o que vai ocorrer com a lama e com os rejeitos que estão dispersos nesses cerca de 100 quilômetros entre a barragem que se rompeu e Candonga (usina hidrelétrica)”, disse.

As intervenções em curso, que incluem a construção de diques ao longo desse caminho e uma contenção especial dentro da hidrelétrica, deveriam estar prontas antes das chuvas, conforme a representante do Ibama. “Elas serão suficientes para controlar (quando estiverem prontas), só que as obras estão atrasadas”, acrescentou Suely Araújo.

COBERTURA VEGETAL O atraso nas obras é potencializado por um problema que tem sido frequente nos pontos de monitoramento do Ibama previstos na Operação Áugias, que já teve três fases de observação em campo das atividades de recuperação do meio ambiente.

Dos 77 pontos de acompanhamento, em apenas 8% não foi constatada erosão em algum grau. Na mesma quantidade desses pontos os técnicos do Ibama não encontraram nenhum funcionário da Samarco trabalhando.

A orientação encaminhada pelo órgão ambiental foi para que houvesse o plantio de espécies de gramíneas e leguminosas, mas mesmo onde houve plantio foi verificada erosão. Segundo o relatório da terceira fase da Operação Áugias, 55% de todas as recomendações feitas pelo Ibama à Samarco não foram cumpridas, 40% foram cumpridas parcialmente e apenas 5% foram cumpridas regularmente.

O Ibama informa já ter notificado a Samarco 68 vezes e emitido sete autos de infração, em punições que totalizam R$ 292,8 milhões. Ainda segundo Suely Araújo, não é possível adiantar se os atrasos e os problemas verificados vão gerar novos autos de infração à mineradora.

O governo de Minas, por meio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), também emitiu 38 autos de infração contra a empresa, totalizando cerca de R$ 200 milhões em multas. Só o primeiro auto, que já teve a condenação da Samarco na última esfera administrativa, chega a R$ 112 milhões.

Samarco: obras vão
conter os rejeitos

Em nota, a Samarco informou que as obras de reforço de segurança das estruturas remanescentes no complexo onde ocorreu o acidente estão totalmente concluídas. Disse, ainda, que todas as obras no complexo consideradas emergenciais e acordadas com os órgãos ambientais estão dentro do cronograma previsto.

“A construção do dique S3 já foi concluída. Esta estrutura está sendo alteada em 800 mil metros cúbicos. A construção da barragem de Nova Santarém será finalizada até dezembro deste ano. O dique S4 teve suas obras iniciadas no fim de setembro e deve ser concluído em janeiro de 2017. Todas as estruturas planejadas e em construção terão capacidade de reter o rejeito remanescente da Barragem do Fundão”, completou.

A mineradora informou, também, que recuperou cerca de 800 hectares de vegetação até a Usina Risoleta Neves (Candonga). “O trabalho foi realizado em mais de 100 quilômetros de extensão visando a reduzir as erosões às margens dos rios.

Essa recuperação representa 100% do volume acertado pela empresa com os órgãos ambientais, conforme cláusula 158 do Termo de Transação de Ajustamento de Conduta assinado em março deste ano”, diz o texto. Por último, acrescentou que o trabalho de revegetação está sendo reforçado e novas ações estão sendo implementadas até o Rio Gualaxo do Sul.

(foto: Arte/EM)
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