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Estado de Minas

Mineira de 113 anos, uma das mais velhas da América Latina, diz que se casaria

'Sou uma pessoa feliz', afirma a mineira Maria Cândida, uma das mulheres mais velhas da América Latina. Bem-humorada, ela diz que se casaria de novo, mas só se o noivo fosse rico


postado em 24/09/2016 06:00 / atualizado em 24/09/2016 08:55

A centenária Maria Cândida com netas e bisnetas em São Paulo, onde vive com a família (foto: Álbum de Família)
A centenária Maria Cândida com netas e bisnetas em São Paulo, onde vive com a família (foto: Álbum de Família)

Quando ela nasceu, em 7 de junho de 1903, o Brasil republicano era apenas um adolescente, a escravidão, apesar de abolida havia 15 anos, ainda lançava sombras sobre o país e a novíssima capital mineira estava mergulhada na infância, entre prédios em construção e ruas poeirentas. Foi nesse tempo, no limiar do século 20, que Maria Cândida chegou ao mundo, mais exatamente na zona rural de Viçosa, na Zona da Mata, a 246 quilômetros de Belo Horizonte. Residente em São Paulo (SP) desde 1969, a mulher de 113 anos, uma das mais velhas da América Latina, conta que jamais se esqueceu do estado natal: “Sinto muita saudade de Minas, pois sou mineira, gente!”, conta, por telefone, do sobrado onde vive com a família, no Bairro Cangaíba, na Zona Leste da capital paulista.


Maria Cândida está no seleto grupo de brasileiros com mais de 100 anos. De acordo com o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE - 2010), o país tem 24,2 mil pessoas nessa faixa etária. Em números absolutos, Minas é o terceiro da lista, com 2,6 mil, ficando nas primeiras posições Bahia (3,5 mil) e São Paulo (3,2 mil). Em Belo Horizonte, há 332 homens e mulheres tão longevos.

Com a voz firme e ouvindo, pelo telefone, às vezes com alguma dificuldade, Maria Cândida foi batizada assim, com nome composto e sem sobrenome. Descendente de negros, índios e brancos, analfabeta, ela se mostra bem alegre e tem certeza de que é desse jeito desde o dia em que nasceu. “Sou uma pessoa feliz, a vida inteira”, afirma, mesmo explicando que ficou viúva muito cedo, com 12 filhos, todos mineiros, para criar, dos quais nove estão vivos. Espontânea, diz que só se casaria de novo se aparecesse um noivo bem rico. “Tive muito pretendentes, mas todos que apareceram eram pobres. Eu não quis, mandei pra porco”, dá uma risada, citando uma antiga gíria do interior que se traduz por dispensar, mandar embora.

A filha Maria das Dores Oliveira, de 70, ajuda na comunicação e a conversa rende muitas histórias. “Minha mãe está firme e forte, não caduca em momento algum. Morou muitos anos em Rio Casca (na Zona da Mata)”, informa com orgulho. O neto Valter Delfino, de 47, lembra que até os 100 anos Maria Cândida ia regularmente a Rio Casca para visitar os parentes. “Ela tem grande amor pela família. Depois que ficou viúva, nunca mais teve ninguém”, afirma.

FRUTAS E LEGUMES No sobrado onde vive, Maria Cândida é muito paparicada, sempre tem um da família para enchê-la de carinho. “Contratamos um cuidador de idosos para evitar que ela tenha alguma fratura. Minha avó tem vida normal, gosta muito de ficar na varanda vendo o movimento da rua”, explica Valter, destacando que a família é grande, “com muitos netos, bisnetos e tataranetos”. Se estivesse vivo, o filho primogênito teria quase 100 anos. “Ela se casou muito cedo, com 16, e viveu com meu avô durante 35 anos. Temos um tio com 90, que mora em Goiânia (GO).”

Entre os segredos para viver tanto tempo, ensina Maria Cândida, está uma boa alimentação. No dia a dia, a centenária senhora gosta de comer “verduras e legumes”, e dificilmente põe “mistura” no prato – trocando em miúdos, mistura é carne. “Tô vivendo com satisfação. Gosto muito de caçoar, brincar com os outros. Deus é que determina nosso tempo de vida”. No dia a dia, a mineira gosta de couve, jiló, abobrinha e muitas frutas”, diz Valter.

Nas reuniões familiares, Maria Cândida é sempre o centro das atenções, com todo mundo querendo ouvir suas histórias. Valter revela algumas: “Ela conta muitos casos da época em que viveu na roça. Não havia recursos, médico e remédio. Uma vez, foi picada de cobra, na perna e, como era comum, foi curada com um pouco de fumo amarrado num lenço. O primeiro parto foi feito pela mãe dela e minha avó também se tornou parteira na região”.

À FRENTE DO TEMPO Mesmo tendo passado a infância e juventude em outro Brasil, com pouco acesso à educação formal, Maria Cândida, segundo o neto Valter, pode ser considerada uma mulher à frente do seu tempo. “Não foi à escola, mas gosta de brincar, de conversar. É avançada, cheia de vida. E testemunha de acontecimentos ao longo do século 20, acompanhou muitas gerações”, enaltece o publicitário.

Aos jovens, a vovó centenária deseja muito boa sorte. “Desejo que cada um encontre seu caminho”, afirma. No fim da conversa, Maria Cândida pergunta ao repórter: “Você é jovem?”. Ao ouvir que não, “jovem apenas de espírito”, ela não perde a oportunidade e dá o arremate final: “Isso, sim, é importante”.

“Tô vivendo com satisfação. Gosto muito de caçoar, brincar com os outros. Deus é que determina nosso tempo de vida”

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“Tive muitos pretendentes, mas todos que apareceram eram pobres. Eu não quis, mandei pra porco”

Maria Cândida, de 113 anos

OS CENTENÁRIOS

24,2 mil


Total de brasileiros com mais
de 100 anos, segundo dados
do Censo 2010, do IBGE

2,6 mil


Número de mineiros nessa
faixa etária, de acordo com
o levantamento

332


Homens e mulheres com
100 anos ou mais
em Belo Horizonte


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