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Estado de Minas UM BASTA ÀS AGRESSÕES?

Casos de violência entre taxistas e Uber podem parar no banco dos réus

Enquanto polícia garante que vai esclarecer ataque com faca a condutor do Uber, Justiça aceita denúncia por tentativa de homicídio contra três taxistas de BH suspeitos de agredir passageiros do aplicativo em 2015


postado em 31/08/2016 06:00 / atualizado em 31/08/2016 07:44

O condutor do Uber Rodrigo Mantovani (E) e o pai na saída do HPS ontem à tarde: ele teve de levar pontos no braço, mas promete continuar rodando(foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)
O condutor do Uber Rodrigo Mantovani (E) e o pai na saída do HPS ontem à tarde: ele teve de levar pontos no braço, mas promete continuar rodando (foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)

Imagens de Marcel Telles depois de agredido em 2015: taxistas podem ir a júri popular(foto: Reprodução da internet)
Imagens de Marcel Telles depois de agredido em 2015: taxistas podem ir a júri popular (foto: Reprodução da internet)
Quase dois anos depois do lançamento do aplicativo Uber em Belo Horizonte, autoridades sinalizam que casos de violência praticada por taxistas contra motoristas parceiros da empresa e passageiros podem parar no banco dos réus. Em uma das frentes, o 1º Tribunal do Júri em Belo Horizonte aceitou denúncia do Ministério Público contra três taxistas suspeitos de agredir um casal de usuários do aplicativo, em agosto do ano passado. O trio vai responder por tentativa de homicídio e esse pode ser o primeiro caso de júri popular no Brasil envolvendo a briga entre táxi e Uber, caso o juiz pronuncie os acusados. Enquanto isso, a Polícia Civil abriu inquérito para investigar o caso de Rodrigo Henrique Fraga Mantovani, de 24 anos, esfaqueado na noite de segunda-feira em frente ao Minas Shopping, na Região Nordeste de BH. Dois taxistas estão presos e foram autuados também por tentativa de homicídio. Um terceiro homem, acusado de desferir os golpes, não havia sido identificado até ontem à noite.


Os três taxistas que protagonizam decisão inédita no país são acusados de tentar matar o músico Marcel Telles e a mulher dele, a jornalista Luciana Machado, por motivo torpe. Em agosto do ano passado, o casal foi cercado e xingado quando pegava um carro do Uber. Ao tentar argumentar com os taxistas, Marcel foi agredido. No processo contra Leonardo Silva Rodrigues, Washington Silva Rodrigues e Erick Castelo Branco Rocha, a promotora Denise Guerzoni Coelho os acusa de tentar estrangular o músico, enquanto lhe davam socos e chutes. Leonardo teria dado um “mata-leão” em Marcel, asfixiando-o, enquanto os outros dois batiam na vítima. Eles também são acusados de ameaçar a jornalista de agressão física.

De acordo com a BHTrans, Leonardo e Erick são condutores auxiliares cadastrados. Já Washington foi condutor auxiliar cadastrado, mas, ano passado, deu baixa na autorização para condução de táxi. O juiz Maurício Leitão Linhares, do 1º Tribunal do Júri, abriu prazo para a defesa dos taxistas, que vai apresentar respostas à acusação de tentativa de homicídio. Se recusá-las, o magistrado decidirá se vão a júri popular. “Foi um alívio saber desse desdobramento, porque no dia em que passamos por essa situação todo mundo fez barulho, mas, depois, ninguém falou mais nada e ninguém foi preso. Ontem, um motorista tomou um facada. Vão esperar alguém morrer para tomar uma atitude?”, questiona Telles. Para o músico, a situação do serviço de transporte deve ser resolvida logo na capital mineira: “Todo mundo que conheço usa o Uber. O poder público tem que decidir logo”.

ATAQUE COM FACA Já o motorista Rodrigo Mantovani, esfaqueado na noite de segunda-feira, alega que por pouco não morreu, já que os taxistas prometiam continuar as agressões se não tivesse conseguido escapar. Cadastrado como parceiro da empresa há dois meses, ele levava duas passageiras ao Minas Shopping anteontem à noite, quando foi alvo dos taxistas. “Tinham uns seis na marginal da Avenida Cristiano Machado e quatro se aproximaram. Eles me ofenderam e colocaram a mão na maçaneta, tentando abrir o carro. Consegui dar uma ré e atravessei a Cristiano Machado em direção ao Bairro Palmares (na mesma região)”, afirma Rodrigo, que já tinha desembarcado as passageiras.

Ele conta que ligou imediatamente para a PM e foi orientado a procurar o posto de atendimento que fica dentro do Minas Shopping, próximo ao estacionamento. Ao mesmo tempo, compartilhou sua localização e informou outros parceiros por um grupo de WhatsApp. Quando voltou ao local indicado já encontrou alguns colegas do Uber, que disseram ser necessário identificar os taxistas para registrar o boletim de ocorrência. Naquele momento, os dois grupos se encontraram e o taxista que dirigia um Fiat Idea agrediu um dos condutores do Uber. “Resolvi sair do carro para intervir na situação. Outro taxista me segurou, um me deu um soco e um terceiro veio com a faca”, diz.

Rodrigo diz que conseguiu se desvencilhar e correu para dentro do shopping, onde encontrou um segurança armado. Uma ambulância do shopping o levou ao Hospital de Pronto-Socorro João XXIII. Ele recebeu quatro pontos no braço esquerdo. O jovem teve alta no início da tarde de ontem e se emocionou ao lembrar do ocorrido. “Eu vejo foto e vídeo do que aconteceu e fico emocionado, porque eu poderia não estar mais aqui. Não precisava de chegar a esse ponto. É necessário regulamentar o serviço e punir quem faz uma coisa dessas. Cidades como São Paulo e Brasília já aprovaram o aplicativo”, disse ele, que vai voltar a trabalhar.

INVESTIGAÇÃO A delegada que investiga o caso, Adriana das Neves Rosa, titular da 2ª Delegacia de Polícia Civil Leste, indiciou por tentativa de homicídio dois dos agressores. João de Souza Lima, de 39 anos, e Roney Caldeira de Paula, de 43, foram detidos em flagrante e aguardam manifestação da Justiça para saber se ficarão em prisão preventiva ou responderão em liberdade. A delegada espera que o terceiro suspeito, acusado de dar as facadas, se apresente. Ela informou que diligências já estão em curso para esclarecer os fatos. “A informação inicial é de que o problema começou com uma briga generalizada entre motoristas do Uber e taxistas. Vamos identificar todos os envolvidos e saber quantos são”, diz. A policial avalia que o cerco a esse tipo de agressão começa e se fechar. “Uma das condições da investigação policial dentro do inquérito é definir a responsabilização penal do infrator para inibir novos atos agressivos”, diz.

Por meio de nota, o Uber informou que ambos os casos representam “ataque” contra as pessoas, suas liberdades individuais e suas vidas. “Vamos continuar trabalhando junto às autoridades para auxiliar nas investigações desses crimes. Mais do que isso, vamos continuar mantendo diálogo com o poder público para criar regulações modernas”, diz o texto. O presidente do Sindicato dos Taxistas (Sincavir), Ricardo Faeda, disse que o sindicato repudia qualquer ato de violência. “Aguardamos os fatos serem devidamente apurados e que as punições das partes envolvidas sejam justamente aplicadas, sem benefício de partes”, afirmou.

 

Entrevista

Rodrigo Mantovani, motorista do Uber esfaqueado

‘Eles gritavam que queriam me pegar’

Você já tinha passado por um algum problema com taxistas?

Nunca aconteceu de ter agressão como desta vez, mas eu já tinha sido ofendido verbalmente na rua.

Quando a confusão começou, você pensou no pior?

Sim, vi o sangue escorrendo do braço e pensei até que tinha sido atingido na barriga. Eu vi a entrada do shopping e comecei a correr. Consegui empurrar um taxista, que me segurou. Eles gritavam que queriam me pegar.

Você vai voltar a trabalhar?

Preciso trabalhar e tenho uma filha para sustentar. Agora é aguardar pela recuperação do braço e voltar à ativa. Vou tentar esquecer o trauma e levantar a cabeça. Infelizmente, toda vez que deparar com um taxista acho que vou ficar apavorado, mas vou encarar essa situação.


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