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Estado de Minas

Famílias de pacientes que morreram de H1N1 sofrem preconceito

Mesmo com as autoridades de saúde mantendo rigor no anonimato de pacientes que faleceram em decorrência do vírus, parentes vivem com estigma uma vez que a doença é revelada


postado em 27/05/2016 06:00 / atualizado em 27/05/2016 07:44

(foto: Quinho)
(foto: Quinho)
Com o clima frio, o alerta aumenta em Minas, onde 203 pessoas já morreram pela Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), das quais 38 causadas pelo vírus influenza, sendo 20 pelo H1N1, segundo o último balanço divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde (SES-MG). Além da dor de perder o ente querido para uma gripe fulminante, que chega sem avisar, parentes das vítimas passam a carregar nos ombros o estigma de ter estado perto de alguém infectado por um vírus contagioso, como o H1N1. “Já era horrível ficar sem o pai, mas minhas filhas pequenas também sofreram a exclusão da sociedade, porque falaram que elas iriam transmitir o H1N1 para a escola inteira. Se a turma tem 30 alunos, mais da metade deixou de frequentar as aulas durante umas três semanas por medo de se contaminar”, revela a advogada A., que ficou viúva aos 36 anos, depois de um casamento de 15, e agora vai passar a cuidar das duas filhas – uma de 12 e outra de 8 – sozinha.

Embora as autoridades de saúde mantenham o máximo de rigor em não divulgar os nomes das vítimas do H1N1, nem sempre o direito ao anonimato é preservado na era da internet e das redes sociais. “Converso com você e conto toda a história do meu marido, até para ajudar outras pessoas, mas desde que ele seja só mais um número no sistema de saúde, na contagem das vítimas da gripe”, desabafou a advogada. Segundo ela, nas duas semanas seguintes ao óbito, as fotos das duas filhas, retiradas sem autorização do Facebook, foram divulgadas em rede nacional de televisão e na rede mundial de computadores com a “marca” do H1N1.

“O caixão do meu marido foi lacrado e teve gente que nem foi ao velório, de tanto pavor da doença”, conta a advogada. Segundo ela, as duas filhas sofreram em dobro com a exposição desnecessária após a perda do pai. A. ainda alerta para a seriedade deste tipo de divulgação em localidades de menor porte, como Campo Belo, onde a sensação é de que todos se conhecem na cidade. Para ela, há um pavor generalizado em relação à doença. Cuidei do meu marido todos os dias e não fui contaminada. Faria tudo de novo por ele”.

O bancário W., de 38, está inconformado com a morte da mãe. “Minha mãe nunca saia de casa, não ia a lugar algum.” Ele não esconde o susto em relação ao vírus da gripe quando foi buscar a mulher, que tinha 64 anos, em Funilândia, pequena cidade de 3,8 mil habitantes a 80 quilômetros da capital. Ele pede anonimato para preservar o nome da família: “A dor está muito grande, a morte é recente”.

Segundo W., a idosa não tinha problemas de saúde. Ao apresentar os primeiros sintomas da doença, a idosa foi encaminhada ao pronto-socorro de Sete Lagoas, a cidade mais próxima, como caso suspeito de dengue, em função da febre. “Ela estava muito ofegante, mas parecia que era uma gripe qualquer”, relembra. Nos três primeiros dias, a paciente foi atendida com soro e aplicação de antibiótico, mas a infecção agravou-se tanto que, no quarto dia, ela foi internada no CTI, em regime de isolamento, com os pulmões tomados. “Ela ainda ficou 25 dias no hospital, com muito sofrimento. A gente a visitava com máscaras”, conta o filho, lembrando que ele, o irmão e o pai idoso tomaram a vacina contra o H1N1, mas só depois de consumada a morte. Cada um deles pagou R$ 170 pela dose. “Esta vacina é só para quem pode pagar”, protesta.


CONTROLE


Os números divulgados pela SES-MG neste ano mostram que o total de 76 pessoas infectadas pelo vírus H1N1 da gripe A supera em muito o registro de 2015, quando seis casos da doença e dois óbitos foram confirmados. As cidades que registram mais mortes pelo H1N1 no estado são Campo Belo (4) e Frutal (2) e Lavras (2). Varginha, Betim, Contagem, Sete Lagoas, Piranguçu, Capitólio, Extrema, Pouso Alegre, Andradas, Funilândia, Juiz de Fora e Monte Santo de Minas registraram um óbito cada uma.

Segundo o médico epidemiologista José Geraldo Leite Ribeiro, até o momento, não há alteração expressiva nos números de óbitos em Minas em relação a anos anteriores que possa provocar pânico ou preocupação exagerada nas pessoas. “Os casos estão sob controle”, afirmou o especialista.


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