O rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais, continua levando problemas para o meio ambiente seis meses depois da maior tragédia ambiental do país. Em entrevista coletiva, nesta quinta-feira, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) detalhou as medidas que estão sendo tomadas pelo órgão. Os promotores informaram que a lama de rejeitos continuam a atingir a bacia do Rio Doce e que há a suspeita que a Samarco queria transformar a comunidade de Bento Rodrigues em uma barragem de rejeitos.
O órgão afirma que os rejeitos de minério seguem poluindo os mananciais que deságuam no rio doce. “As estruturas remanescentes não atingiram o nível de segurança necessário e as medidas para reparação dos danos socioambientais não foram efetivadas de forma eficiente”, afirmou o promotor de Justiça Carlos Eduardo Ferreira Pinto, coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa do Meio Ambiente (Caoma).
Segundo o Marcos Paulo, mesmo depois da tragédia, movimentações de terra aconteceram nas barragens e a Samarco não relatou os fatos ao órgão. “Tivemos grave sinistros no interior do complexo da Samarco que implicou no carreamento de milhares de toneladas, inclusive de blocos, de lama, a jusante, comprometendo as estruturas da barragem de Santarém. Isso tudo foi ocultado do Ministério Público”, completou.
A mineradora também foi acusada de não cumprir medidas do MPMG. “Até hoje a empresa não forneceu a lista de atingidos ou o cronograma de obras. As coisas mudaram muito pouco e, com o acordo assinado entre a mineradora e a União, ficou ainda mais remota a possibilidade de diálogo com os cidadãos”, lamentou a promotora Carolina Carvalho. “O que a gente percebe é que a Samarco faz da forma que quer, como quer e quando ela quer. Dar a entender que ela faz por liberalidade, por favor, e não se trata disso. A Samarco, a Vale e a BHP são responsáveis pelo pior acidente ambiental do país”, completou o promotor Bruno Gomes de Oliveira.
Tombamento
Uma consultoria do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos) da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) vai ajudar a definir como será gerido e protegido o patrimônio cultural de Bento Rodrigues. Entre as possibilidades está a criação de um museu de território, que no lugar de objetos guarda vivências. “O tombamento confere maior gestão do poder público sobre a área, impedindo ações como a recente tentativa da empresa de construir um dique, que, a pretexto de conter os rejeitos, colocaria um terço do distrito de Bento Rodrigues definitivamente sob a lama”, alertou o promotor de Justiça.