A dentista retomou a caminhada em direção ao metrô. O rapaz permaneceu no mesmo lugar. O nome dele é João Batista dos Santos. Tem 42 anos, nasceu em Jataí (GO) e é pai de quatro rebentos. Há um mês e meio, decidiu viajar pelo Brasil para distribuir abraços a quem acredita que a manifestação de carinho, mesmo entre desconhecidos, tem o poder de melhorar o restante de um dia difícil.
Para isso, depois de escolher locais movimentados, exibe o cartaz com a frase: “Um abraço”. “Deus colocou um propósito em meu coração, o de dar conforto a quem quiser recebê-lo, independentemente da cor, do credo, da classe social, da posição política”, disse João, que estudou até a 5ª série do ensino fundamental e foi tecladista numa igreja protestante.
A lição de paz e humildade que ele procura ensinar a desconhecidos é o oposto dos bate-bocas e agressões em destaques tanto na imprensa quanto em diferentes canais das redes sociais por causa de divergências políticas. “Um abraço e um sorriso, acredito, mudam tudo”, avaliou o músico, há duas semanas em BH.
Até as 15h de segunda-feira, João havia abraçado 48.046 homens e mulheres. Nem todos os cumprimentos ocorreram em Belo Horizonte. “Passei antes por Goiânia, Brasília, Juiz de Fora e Rio de Janeiro Vou para outra cidade quando receber o último abraço.”
Na capital mineira, ele se acostumou com o entorno da Praça da Estação, oficialmente chamada de Rui Barbosa (1849-1923) – homenagem à memória do jornalista, escritor, jurista, filósofo e político brasileiro que lutou contra a escravidão.
O músico se encantou com as fontes e o imóvel que abrigou o primitivo prédio da estação ferroviária. O homem do abraço exibe o cartaz próximo à escada que dá acesso à plataforma do metrô. Protegido pela sombra de algumas árvores de médio porte, ele também se preocupa com a vestimenta. Tem de ser, como diz, impecável.
CUIDADO Os sapatos pretos estão sempre bem lustrados. A camisa, que pode ser de manga curta ou não, dependendo da temperatura, é acomodada dentro da calça jeans. Ele também faz questão de usar gravatas. Algumas, garante, foram dadas a quem elogiou o acessório. Mas João não revela como faz para manter as roupas limpas. Em tom de mistério, diz que já pernoitou, por mais de uma vez, no banco próximo às fontes da praça.
Já a alimentação do dia a dia, esclarece, é paga com “uma reserva financeira que está perto do fim”. “Mais valem o abraço e o sorriso, que podem mudar a vida de uma pessoa”, diz, enquanto recebe a simpatia da manicure Daieny Pauletti Silva, de 36, moradora de Confins, na Grande BH. “É como se fosse um abraço de aniversário, pois, amanhã será meu aniversário”, contou.
Guiomar Pimenta, de 50, também gostou do cartaz exibido pelo músico. “O abraço me fez bem. A gente se sente melhor. O mundo tem de ser dessa forma, de alegria, carinho...”. É o mesmo pensamento da baiana Eliosana Santana, de 44, que está a passeio em BH. “Estou com pressa, mas há sempre tempo para a gente cumprimentar as pessoas.” Kênia, a odontóloga, aprovou a iniciativa do desconhecido: “Não poderia passar direto, sem lhe dar o abraço. É um gesto de carinho, de alegria”.