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Estado de Minas

Ataque a fisioterapeuta mostra descontrole sobre flanelinhas em Belo Horizonte

Mulher levou 15 pontos no braço após ser agredida por flanelinha na Savassi. Guardador foi indiciado apenas por "extorsão".


postado em 25/04/2016 06:00 / atualizado em 25/04/2016 11:49

Janine Lima se revolta com a previsão de que agressor em breve voltará à rua (foto: Juarez Rodrigues/EM )
Janine Lima se revolta com a previsão de que agressor em breve voltará à rua (foto: Juarez Rodrigues/EM )
O descontrole oficial sobre flanelinhas em Belo Horizonte – onde o número de “guardadores” cadastrados só diminui, enquanto a extorsão contra motoristas aumenta dia após dia – produziu sua vítima mais grave na Savassi. A fisioterapeuta Janine Damasceno Lima, de 33 anos, recebeu 15 pontos no braço, depois de se recusar a pagar antecipadamente pelo “serviço” e ser agredida com uma espátula. A Prefeitura de Belo Horizonte não foi capaz de informar ontem se o agressor é ou não inscrito no cadastro do município. Já a Polícia Militar sustenta ter detido 50 clandestinos em ruas da capital em um mês e meio, mas o trabalho não dá resultado, pois em pouco tempo eles estão de volta às ruas.

O ataque contra Janine, ocorrido na noite de sábado na Rua Sergipe com Fernandes Tourinho, endereço nobre do bairro da Região Centro-Sul de Belo Horizonte, vai deixar outras marcas que não apenas a grande cicatriz na altura do ombro esquerdo. Além do trauma, a fisioterapeuta está revoltada. O agressor, João Vicente Ângelo Custódio, de 72, que usava colete e credencial da prefeitura, foi preso e autuado apenas por “extorsão”. Para a vítima, o crime praticado foi lesão corporal e poderia até mesmo ser enquadrado como tentativa de homicídio. Traumatizada, ela conta que não volta mais à Savassi, mesmo porque considera que o criminoso sairá impune e brevemente estará de volta às ruas “para cometer outras barbaridades”. A Polícia Civil não explicou o motivo de o flanelinha ter sido indiciado por extorsão. Informou somente que ele foi encaminhado ao sistema prisional.

Janine conta que havia saído de uma confraternização e pretendia passar em um bar na Savassi apenas para abraçar uma amiga que comemorava o aniversário. Acompanhada da filha de 2 anos e da afilhada de 11, ela conta que, ao chegar, subiu com o carro em um ponto onde o passeio é recuado, com espaço para estacionamento. Nesse momento, foi abordada pelo flanelinha. “Ele disse que eu somente poderia parar ali se pagasse R$ 5 antecipadamente. Falei que não ia demorar, e que o pagaria na volta, como costumo fazer. Mas ele disse que, se eu não pagasse naquele momento, encontraria os quatro pneus furados”, relata a vítima.

Segundo ela, um motorista a serviço do aplicativo Uber presenciou a ameaça e se ofereceu para retirar o carro dele, que estava estacionado do outro lado da rua, e ceder a vaga. “Entrei no meu carro e, quando dei ré, o flanelinha começou a dar socos na parte traseira. Eu me assustei e desci. Disse que ele estava louco fazendo aquilo, que eu estava com duas crianças no carro. As meninas ficaram assustadas e a minha filha começou a chorar. Eu disse que o denunciaria à prefeitura”, conta a vítima.

Quando deu as costas para voltar ao carro, ela conta que sentiu o golpe, antes que o agressor fugisse. “Olhei e vi o sangue escorrendo. O porteiro do prédio em frente chegou correndo e disse que eu tinha sido esfaqueada. Eu comecei a gritar, e as pessoas do bar próximo correram atrás do flanelinha. Conseguiram pegá-lo e o dominaram até a chegada da PM”, conta a vítima. Testemunhas teriam agredido o homem antes da prisão. Por se queixar de dores, ele foi levado a uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) antes da prisão. Janine foi levada por policiais militares ao Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS), onde levou 15 pontos.

MEDO Apesar de considerar extorsão a forma de abordagem dos guardadores de carro, a fisioterapeuta conta que nunca teve problemas com nenhum deles, e acrescenta que tem o costume de pagar ao voltar para o veículo. “Já cheguei a pagar até mais, por medo. Se você não paga, corre o risco de ter o carro depredado. A cidade faz campanhas para não pagar, há faixas no entorno do Mineirão para a gente dizer não à extorsão, mas não temos proteção”, disse.

O que mais a revolta, segundo Janine, é saber que não vai demorar para que o agressor volte às ruas. “A impunidade só aumenta. A polícia prende, a Justiça solta. Eu poderia estar morta neste momento. Tenho medo de voltar à Savassi e encontrar aquele homem de novo. Ele pode querer se vingar. Estou traumatizada. Quem poderia imaginar que um senhor de 72 anos, com um metro e meio de altura e cabelos brancos, poderia fazer uma coisa dessa, levar uma arma branca para a rua e agredir as pessoas? Só fico pensando que poderia ter sido pior. Podia ter sido uma tragédia. Ele poderia ter me golpeado no pescoço, e eu não estaria aqui para contar a história”, preocupa-se. “Tomara que ele não faça o mesmo com outras pessoas. Testemunhas disseram que ele sempre aborda motoristas de forma agressiva, principalmente mulheres”, conta.


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