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Estado de Minas

Demora na liberação de transplantes de intestino curto pode ser fatal

Justiça barra ida aos EUA de crianças com síndrome do intestino curto para transplante, alegando que procedimento já é feito no Brasil. Malformação acomete 5% dos recém-nascidos


postado em 03/04/2016 06:00 / atualizado em 03/04/2016 08:01

Cirurgia de Gabrielle, de 7 meses, fora do país, depende da AGU, que afirma já existir possibilidade de tratamento em mais de um hospital brasileiro(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Cirurgia de Gabrielle, de 7 meses, fora do país, depende da AGU, que afirma já existir possibilidade de tratamento em mais de um hospital brasileiro (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
“O objetivo da União é usar todos os subterfúgios para adiar o processo e, com isso, aumentar a chance de óbito dessas crianças que precisam do transplante de US$ 1 milhão nos Estados Unidos. Será mais uma criança pobre correndo o risco de morrer sem tratamento. Cada dia que passa é um dia a menos para elas”, protesta o advogado José Antônio Guimarães Fraga, que atua sem cobrar honorários no caso da bonequinha Gabrielle Vitória, de apenas 7 meses, internada desde o segundo dia de vida no Hospital São Camilo, em Belo Horizonte, portadora da síndrome do intestino curto. Para a bebê, que já nasceu sob o isolamento hospitalar e só se alimenta pela sonda, a única chance de cura é o transplante pediátrico do intestino.

Apesar de a transferência da criança para o Jackson Memorial Institute, em Miami, nos Estados Unidos, ter obtido liminar favorável da Justiça Federal em Minas, desde dezembro último, a Advocacia-geral da União (AGU) suspendeu a decisão, alegando já existir a possibilidade de oferecer o tratamento no Brasil, o que não é verdade, segundo Fraga. O procedimento nunca foi feito em crianças no Brasil, embora o país seja referência em outros tipos de transplantes de menor complexidade.

“Desde que perdemos o Pedrinho, é a mesma história, que não tem qualquer fundo de verdade e se presta somente a ganhar tempo”, denuncia o advogado, autor dos pedidos de liminares favoráveis às campanhas mineiras Salve o Pedrinho e Salve a Lalá. Essas crianças infelizmente perderam a vida antes de conseguir embarcar para Miami, devido à morosidade da Justiça brasileira e à falta de recursos das famílias.

Em 23 dezembro do ano passado, o Ministério da Saúde publicou a Portaria 1.345, redefinindo a autorização de estabelecimentos e equipes de saúde para a realização de transplantes de intestino isolados no Brasil. “Uma portaria não se sobrepõe a uma liminar judicial. Já quiseram mandar nossas crianças para fazer o transplante na Argentina, onde era mais barato. As liminares estão pipocando em diversos pontos do país e eles acordaram para a necessidade de oferecer esse tratamento no Brasil, mas não vão usar a Gabi e o Matheus como cobaias. Para implantar esse serviço, ainda levaria de um a dois anos e eles não podem mais esperar até capacitar os médicos e encontrar os doadores compatíveis do intestino”, compara o advogado, lembrando que a cirurgia de alta complexidade no intestino é oferecida desde 2000 no Jackson Memorial, atendendo mais de 400 pessoas de diversas partes do mundo, incluindo banco mundial de doadores de órgão.

O advogado de Gabrielle, José Antônio Fraga, diz que cada dia que passa é um dia a menos para a paciente(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
O advogado de Gabrielle, José Antônio Fraga, diz que cada dia que passa é um dia a menos para a paciente (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Segundo o procurador Leonardo Carneiro Vilhena, da Procuradoria Regional da União da 1ª Região, porém, o Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, está apto a realizar transplantes complexos em pacientes pediátricos. “Atualmente, temos 15 pacientes com patologias similares ao do paciente/autor, em acompanhamento no Hospital Albert Einstein, sendo que, desses, seis têm indicação para transplante multivisceral ou de intestino isolado.” Em nota, a assessoria de imprensa confirma que o hospital está apto a realizar cirurgia de transplante.

RELATÓRIO No parecer da AGU, o procurador informa ter tomado como base o relatório médico do renomado pesquisador Rafael Pécora, que, no entanto, não é anexado ao processo. Conforme cópia obtida pela reportagem do Estado de Minas, o relatório médico, na realidade, demonstra leitura diferente da descrita pela União. Em sua análise, o médico chega a concluir que a criança “é portadora de falência intestinal irreversível, com menos de cinco centímetros do total do intestino e que não existe a possibilidade de reabilitação intestinal”.

Entretanto, no documento da AGU que informa se basear na avaliação do mesmo especialista, a leitura é inversa: “O tratamento indicado para a paciente é a continuidade da nutrição parenteral para ganho de peso e avaliação da possibilidade de reabilitação intestinal, evitando a realização do transplante”. Outro trecho do parecer da AGU bate na mesma tecla, indica ainda que “10 pacientes pediátricos, alguns com indicação para transplante, são atendidos no Centro de Reabilitação Intestinal do Hospital das Clínicas de Porto Alegre, conveniado ao Hospital Sírio Libanês”.

Na argumentação pecuniária da União, é descrito numericamente o custo exigido pelo serviço norte-americano para tratar um único paciente, no valor de R$ 3,78 milhões (com a conversão do valor em dólares para o real vigente na data do parecer, em 4 de março deste ano), “o que representa custo bastante substancial para o SUS e poderia tirar dezenas de pessoas da lista de espera por um transplante no Brasil”. O documento ainda cita que o valor a ser gasto na cirurgia de Gabi pagaria, efetivamente, com o mesmo recurso, 102 transplantes de coração, 55 de fígado, 99 de pâncreas, 59 de pulmão, 137 de rins e 69 de rim e pâncreas.


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