(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Advogada e família de Jean Charles lamentam decisão de isentar policiais pela morte do mineiro

Instância máxima da Justiça na Europa rejeitou pedido de parentes do jovem, morto em 2005 por policiais no metrô de Londres, e afirmou que investigação concluída foi 'efetiva'. Irmão e primos de Jean lamentaram o resultado e disseram que decisão 'foi injusta'


postado em 31/03/2016 06:00 / atualizado em 31/03/2016 07:52

Foram quase 11 anos de manifestações na estação Stockwell, onde painel homenageia Jean Charles de Menezes(foto: Renan Damasceno/EM/DA Press - 18/7/15)
Foram quase 11 anos de manifestações na estação Stockwell, onde painel homenageia Jean Charles de Menezes (foto: Renan Damasceno/EM/DA Press - 18/7/15)
Depois de ter chorado a morte do mineiro Jean Charles de Menezes, assassinado a tiros no metrô de Londres em 22 de julho de 2005, a família recebe outro golpe com a decisão da Corte Europeia de Direitos Humanos de não permitir que os atiradores da polícia britânica sejam processados individualmente. Depois de 10 anos de batalha judicial, de o episódio ter repercutido internacionalmente e a história ter se tornado filme, nenhum dos autores do assassinato foi punido por ter identificado erroneamente Jean como homem-bomba. Ontem, a Corte Europeia de Direitos Humanos, em Estrasburgo na França, decidiu por 13 votos a quatro que não houve violação do artigo 2 (direito à vida) da Convenção Europeia de Direitos Humanos.

De acordo com especialistas em direito internacional ouvidos pelo Estado de Minas, não cabem recursos à decisão da Corte Europeia, o que foi confirmado pela advogada da família Harriet Wistrich. “Nós, provavelmente, exaurimos os recursos legais. No entanto, o legado da batalha da família por justiça permanece.” Familiares também se manifestaram contra a decisão. “Nossa família está profundamente desapontada com o julgamento de hoje (ontem). Nós tínhamos esperança de que a decisão daria um vislumbre de esperança, não só para nós, mas também para todas as outras famílias a quem foram negados o direito à Justiça depois de mortes nas mãos da polícia”, escreveram, em nota.

O EM conversou com o irmão Giovani da Silva, de 44 anos, que vive em Virginópolis, no Vale do Rio Doce,  e com os primos Kátia Armani, em São Paulo, e Alex Pereira, de 38, que vivia em Londres e agora reside em Gonzaga, cidade natal de Jean, também no Vale do Rio Doce. Kátia afirmou que chegou ao fim a saga de busca pela Justiça. “A decisão foi injusta. Foram apontados vários erros que a polícia cometeu e que deveriam ser julgados um por um”, disse. Giovani apontou erros da polícia. “Jean era branco e não pardo. Ele não entrou correndo no metro, não sabia que era alvo e não pulou a catraca (do metrô)”. A advogada também se surpreendeu com a decisão. “Considero a decisão da Corte Europeia de Direitos Humanos bastante decepcionante. Não sei o motivo dessa decisão. Talvez eles estejam preocupados sobre a abolição da Lei de Direitos Humanos no Reino Unido? O julgamento diz que o Reino Unido não violou a convenção europeia em relação ao direito à vida”, afirmou Harriet Wistrich.

Na página oficial da Corte Europeia, a instituição informou que o brasileiro foi erroneamente identificado por policiais como um homem-bomba suicida, mas não considera que há evidências para que os policiais possam ser processados individualmente. O recurso foi apresentado à Corte pela prima de Jean Charles, Patrícia Armani da Silva. No processo, ela aponta que o Estado não cumpriu o seu dever de garantir a responsabilização dos agentes públicos na morte do mineiro e questionou o fato de os policiais não terem sido investigados individualmente.

Apesar do pedido da família para reabertura de outro processo contra os policiais, a Corte afirmou que as autoridades do Reino Unido não falharam na condução da investigação e não descumpriram o artigo 2 da convenção. A mais alta Corte Europeia considerou que todos os aspectos sobre os tiros que atingiram o brasileiro foram exaustivamente investigados. “A responsabilidade individual dos policiais envolvidos e a responsabilidade da instituição foram consideradas em profundidade pela Comissão Independente de Denúncias Policiais, Tribunal Penal e pelo júri durante o inquérito. A decisão de não investigar os policiais individualmente não resultou em falhas nas investigações ou na tolerância do Estado ou conluio em atos ilícitos”, informou o tribunal. A Corte concluiu que há “evidências insuficientes” para que os policiais sejam processados individualmente.

O prefeito de Gonzaga, Júlio Maria Sousa, lamentou que não haja punição aos policiais que atiraram no mineiro nascido no município. “É algo muito chocante a maneira como o Jean foi assassinado. A polícia matou e depois identificou. Se houvesse Justiça, não teriam matado um inocente”, disse. Júlio afirma que, depois de quase 11 anos da morte, o jovem ainda é lembrado com carinho na cidade. “Era um menino que estava sempre sorrindo, amigo de todo mundo.”

SEM RECURSOS
O presidente do Centro de Direito Internacional (Cedin), Leonardo Nemer, afirmou que não cabe mais recursos. Ele lembra que a Corte Internacional de Justiça, conhecida como Corte de Haia, é o principal órgão judiciário das Nações Unidas, mas julga apenas casos de litígio envolvendo estados-nações. Segundo ele, apesar de ter essa função central no direito internacional atual, essa corte não tem competência recursal em face de outras cortes e tribunais internacionais. “A decisão da Corte Europeia de Direitos Humanos quanto à alegada negligência do Reino Unido em julgar os policiais responsáveis pelo homicídio do mineiro Jean Charles de Menezes é final e inapelável.”

O Ministério das Relações Exteriores informou que prestou todo o auxílio à família na época do assassinato, mas que o processo estava sendo conduzido por advogados contratados pela família com o apoio do Itamaraty. A Secretaria Nacional de Direitos Humanos foi procurada, mas não retornou até o fechamento desta edição.  (Colaborou Rodrigo Craveiro)

(foto: BBCNews/Reprodução da internet)
(foto: BBCNews/Reprodução da internet)
Repercussão internacional
A decisão da Corte Europeia de Direitos Humanos repercutiu na imprensa internacional. O jornal The Guardian destacou no título que a família de Jean Charles perdeu a luta para que os policiais fossem processados. O veículo destacou que a decisão colocava um ponto final na controvérsia em torno do caso que desenrolava desde 2005. A BBC (foto) apresentou a luta da família para que os atiradores fossem punidos. O Daily Mail chamou atenção para o desapontamento da família com a Corte Europeia.
(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)